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Defender o trabalhador é uma escolha política – por Valdeci Oliveira

Sobre as opções (políticas, sim) em favor ou contra os(as) trabalhadores(as)

O 1º de Maio, comemorado ontem, é uma data que traz junto de si muitos simbolismos, que carrega sobre seus ombros uma longa e complexa história de luta, organização e avanços da classe trabalhadora mundial. No seu rastro de mais de dois séculos (não que antes inexistisse, mas falo de forma organizada), ao lado das injustiças e grandes níveis de exploração que foram ficando pelo caminho, trata-se, principalmente, de uma trajetória construída por lágrimas, suor e sangue de quem ousou cruzar os braços e levantar a voz por direitos, jornadas justas e salários dignos. E como não tinham nada a perder, fora as amarras que os deixavam presos a uma existência miserável e uma expectativa de vida diminuta, não baixaram a cabeça. Muitos e muitas pagaram por isso com a vida.

Se hoje, no caso brasileiro, temos férias remuneradas, salário mínimo e pisos de categorias, aposentadoria, jornada de 44 horas semanais e 13º salário, entre outros direitos que volta e meia o andar de cima, apesar de seus tantos privilégios, busca dar uma “garfada”, devemos agradecer àqueles e àquelas que vieram antes de nós e foram às ruas, aos sindicatos, às associações de classe e pressionaram, em diferentes épocas, a classe política vigente. Nada foi dado. Tudo foi conquistado.

Talvez por isso muitos insistem em se referir ao 1º de Maio como “Dia do Trabalho”, uma sutil mudança que faz toda a diferença. Ao comemorarmos o trabalho, que é sempre bem-vindo e necessário, deixamos de lado quem o executa, de que forma, por quê, por qual valor e por quanto tempo. Chamar o 1º de Maio de “Dia do Trabalho” é tentar apagar a memória de milhares de homens, mulheres e crianças – sim, isso foi muito comum até pouco tempo atrás – que dormiam sob as máquinas da Revolução Industrial para assim poderem cumprir jornadas escorchantes e exaustivas impensáveis nos dias de hoje. E o faziam com “zero” direitos e salários que permitiam apenas sua sobrevivência para no dia seguinte reproduzirem o feito no anterior.

Desvincular o 1º de Maio do seu real sentido, mesmo que a partir de uma “simples” nomenclatura, que por sinal é parecida e confundível, é buscar tirar o verdadeiro caráter da data, que vai da celebração à denúncia, da confraternização ao debate político – sim, tudo é política, o que faz com que tentem também apagar esse viés.

E ao fazerem isso, escondem que um dos debates que a efeméride traz junto, por exemplo, é que foi a partir de uma decisão política que, em 2016, veio a Reforma Trabalhista, prometendo a criação de 10 milhões de empregos que nunca chegaram, mutilando a CLT, os sindicatos e direitos fundamentais dos empregados para facilitar o ganho dos empregadores e aumentar seu poder na negociação.

Não por nada, mas também por uma questão política, justamente o relator da Reforma virou ministro do Trabalho no governo seguinte, numa espécie de “raposa cuidando do galinheiro”, quando chegamos a ouvir do presidente na época que os brasileiros deviam escolher entre ter direitos ou ter emprego, como se um excluísse o outro.

Também partiu de uma escolha política que, a pretexto de salvar as contas públicas, lançaram mão de outra reforma, a da Previdência, que em 2019, jogou por terra qualquer pretensão de a maioria dos trabalhadores conseguir uma aposentadoria digna. E novamente os estratos mais altos da pirâmide comemoraram. 

Da mesma forma, se tratam de escolhas e decisões políticas buscar a redução da jornada de trabalho 6×1, a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e o reajuste do salário mínimo feito pelo governo acima da inflação, todas propostas combatidas politicamente por setores patronais. Não por coincidência, o mesmo aconteceu na década de 1960, quando alardearam que uma decisão do então presidente João Goulart, que atendia a uma demanda sindical após uma série de greves, iria quebrar o país: a instituição do 13º salário. 

Também é uma opção política a lei sancionada pelo presidente Lula que garante igualdade salarial entre mulheres e homens que ocupem a mesma função ou o crédito consignado com taxas de juros mais baixas e prazos flexíveis a quem é contratado com carteira assinada. São resultados das escolhas políticas o fato de 3,8 milhões de empregos terem sido criados em pouco mais de dois anos, de sairmos do maior para o menor índice de desemprego na série histórica e batido recorde no número de pessoas empregadas neste 1º de Maio de 2025.

Para o bem ou para o mal, se tudo isso não tem a ver com política nada mais tem.

Por isso, certos setores da sociedade buscam fazer do 1º de Maio somente uma festa em que o Trabalho vem no nome e a política algo a não ser misturado. E neste sentido, fico com o presidente Lula, que em seu pronunciamento alusivo à data, agradeceu aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras por estes terem ajudado a colocar o Brasil novamente entre as dez maiores economias do mundo, pois sem os braços e as pernas de milhões deles nada disso não seria possível.

Viva os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil!

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria

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10 Comentários

  1. Resumo da opera III. Bom lembrar que as despesas obrigatorias estão comendo o orçamento, inclusive com o risco do governo ‘quebrar’ (ter mais despesa que receita) porque os ‘genios’ para ganharem votos adotaram uma politica de ajuste do salario minimo que não é sustentavel.

  2. Resumo da opera II. Zumzumzum. Como as despesas obrigatorias (saude, educação, previdencia, etc.) estão perto de ‘comer’ as verbas discricionarias (que podem ser gastas ‘a la vonté’) e as emendas parlamentares já se escuta um ‘precisamos modificar as despesas obrigatorias para não atrapalharem ‘os investimentos que precisam ser feitos no pais’. Para a roubalheira não pode faltar grana.

  3. Resumo da opera. Voo de galinha com crescimento artificial não produziu os efeitos politicos desejados. Vermelhos estão defasados, perderam o bonde da historia. Culpa dos outros para variar, do smartphone as redes sociais.

  4. ‘São resultados das escolhas políticas o fato de 3,8 milhões de empregos terem sido criados em pouco mais de dois anos, […]’. Carteira assinada virou ‘emprego criado’. Obvio que é uma cascata, se fosse uma situação permanente em breve teriamos que importar trabalhadores de outros paises. Alias, já acontece, venezuelanos fugindo do Maduro. Decadas atras a falacia era ‘se o numero de presos continuarem aumentando no Brasil em breve estaremos todos presos’.

  5. ‘[…] e o reajuste do salário mínimo feito pelo governo acima da inflação, […]’. Medida não sustentavel. Porque se a inflação aumenta e a economia e a produtividade não crescem, a despesa publica, gasto, em aposentadorias, Loas, etc. aumentam sem aumenta da receita como contrapartida. Vem uma nova reforma da previdencia por ai. Deveria sair mais para a frente devido a curva demografica, mas o governicho de incompententes só se preocupa com os votos para permanecer no poder. ‘Depois a gente vê’.

  6. ‘[…] a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil […]’. Com tributação no andar de cima que oportunamente repassara a todos. E o tipo do ‘olha como somos bonzinhos, vamos tomar menos dinheiro da população!’.

  7. ‘Da mesma forma, se tratam de escolhas e decisões políticas buscar a redução da jornada de trabalho 6×1,[…]’. Medida populista que ‘não colou’. Psolianos fizeram manifestações ontem e depois foram embora numa kombi. Foi ninguém. Segundo eles proprios população achou mais importante o show da Lady Gaga.

  8. O que mais acelerou o esvaziamento da CLT? Pejotização. Quem mais contribuiu para isto? Molusco com L., abstemio, honesto e famigerado dirigente petista. Lei Complementar 128 de 2006. Cria o Micro Empreendedor Individual. Possivelmente queriam diminuir a informalidade.

  9. Uma das melhores alterações. Funcionário era demitido. Tinha direito nenhum mais a receber. Procurava alguém do juridico. Que entrava com uma ação pedindom exemplo, 100 mil reais. Onus da prova do empregador. Primeira audiencia o(a) magistrado(a) virava para o preposto e dizia ‘Vamos fazer acordo? Vamos fechar por 50 mil?’. Industria das ações trabalhistas. Juridico justificava sua existencia. Advogados(as) de ambas as partes recebiam. ‘Trabalhador(a)’ recebia. Quem se ferrava? O ‘malvadão’ empregador. Obvio que existiam queixas justificadas. Mas não eram numerosas. Empregar alguém virou atividade de risco. As pessoas aprendem.

  10. O que aconteceu com a CLT é um retrato de como as coisas funcionam no pais. Virou ‘sacrossanta’. Não podia ser modificada. Tornou-se anacronica e ruma para o arquivo morto.

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