Sobre emendas e sonetos – por Orlando Fonseca

Soneto
O cidadão precisa saber disso
Executivo deve executar,
Legislativo deve legislar,
E cabe a cada um o seu serviço./
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Mas no Brasil criou-se a inovação
De uma pegadinha criativa.
Câmara e Senado têm à mão
A tal da emenda impositiva./
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Sobra ao presidente só espernear,
Correr ao judiciário apavorado.
Cadê a tal governabilidade?/
/
Acontece que o sistema está a mudar,
E o parlamentarismo disfarçado
É o que se vê na realidade./
Emenda
Há quem possa dizer que o soneto é pior que a emenda, mas posso lhes garantir, a emenda é pior que o soneto. Fiz este poema acima – embora ao cronista caiba cronicar e não poemar – só para insistir que a emenda é pior do que o soneto. Virou até caso de polícia: PF tem ao menos 40 inquéritos sobre desvio de emendas. Semana passada a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União deflagraram a quarta fase da Operação Overclean, para investigar fraudes e desvios de recursos públicos provenientes de emendas parlamentares.
A política, em Brasília, não tem tido como meta a melhoria dos serviços públicos, a expansão das políticas públicas e o desenvolvimento das comunidades em que os parlamentares têm suas chamadas bases. O que mais se tem visto nos noticiários é que as emendas seguem uma lista de crimes comuns, como organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos administrativos, lavagem de dinheiro.
E isso não é opinião do cronista, ou obsessão do Ministro Flávio Dino do STF. Está nos relatórios da Polícia Federal, com a identificação de políticos e funcionários públicos indiciados, ou mesmo presos. Não é pouca coisa: nos últimos anos, o Congresso vem operando com dois tipos de emendas impositivas: as individuais e as de bancada, e o volume de recursos alcança fatias cada vez maiores do Orçamento da União. Para 2025, é de cerca de R$ 50 bilhões, sendo que R$ 39 bilhões são destinados às emendas que o governo é obrigado a pagar ao longo do ano.
Em audiência pública para discutir as emendas, nesta sexta-feira passada, Flávio Dino reiterou que a Corte não atua em favor de qualquer governo, ou contra outros poderes. Reafirmou o dever republicano do STF em corrigir os erros que causem prejuízo à população brasileira. E nem precisava ter dito isso, embora a queixa dos deputados e senadores com os procedimentos corretivos das emendas parlamenteares que estão em andamento.
Não fosse a farra em que virou, nos últimos anos, até se poderia pensar em perseguição, mas as distorções são tantas que a desfaçatez chegou ao ponto das “emendas secretas” e “emendas Pix”, encaminhadas sem a menor preocupação com publicidade e transparência, princípios constitucionais da administração pública.
O Supremo não atua sem que seja demandado, como o foi no caso das emendas, (são três Ações Diretas de Inconstitucionalidade, questionando a compatibilidade de alguns tipos de emendas parlamentares com a Constituição) e o plenário já aprovou por unanimidade o trabalho de adequar as emendas aos tais princípios, a fim de garantir a rastreabilidade do dinheiro público e a boa aplicação das verbas.
Assim como um soneto, que deve concluir a sua mensagem em uma “chave de ouro” (o que não admite emendas), o trabalho do Legislativo deve estar em sintonia com o do Executivo, com um único propósito: conduzir os recursos para o bem da população, e o progresso da Nação (e isso não rima com corrupção).
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera II. Vai dar m. No Brasil não é vaticinio.
Resumo da opera. No Brasil já é de esperar algum grau de corrupção. Não adianta espernear, é cultural. Em muitos casos a patifaria é legalizada. Simples assim.
Estadão. Governo via Ministerio dos Direitos dos Manos banca ONG de sindicato do ABC para curso ‘pos golpe contra Dilma, a humilde e capaz’ e ‘feira esquerda livre’. Tudo legal. Falam em 19 milhões. Dinheiro jogado fora, isto se for tudo para o curso mesmo, pode ter outros destinos. Não é o unico repasse e não é a unica ONG ligada ao PT. Vide Tribunal de Contas.
‘[…] com um único propósito: conduzir os recursos para o bem da população, e o progresso da Nação (e isso não rima com corrupção).’ Mas rima com Mensalão, Petrolão e Seguridadesocialzão.
‘[…] o trabalho do Legislativo deve estar em sintonia com o do Executivo, […]’. Gostem ou não o papel do Legislativo é fiscalizar o Executivo. Não dar selo de aprovação para tudo como funciona na Coreia do Norte, Cuba, etc.
‘[…] o plenário já aprovou por unanimidade o trabalho de adequar as emendas aos tais princípios, a fim de garantir a rastreabilidade do dinheiro público e a boa aplicação das verbas.’ Que deve ser feito, mas não é o problema principal como tenta empurrar a imprensa ‘cumpanhera’.
‘A política, em Brasília, não tem tido como meta a melhoria dos serviços públicos, a expansão das políticas públicas […]’. Mesmo com a gastança desenfreada.
‘O Supremo não atua sem que seja demandado, como o foi no caso das emendas […]’. E no caso do IOF a demanda veio do PSOL, puxadinho do PT. A logica é a mesma: governo não tem votos no Congresso, usa um puxadinho para provocar o STF que atende o governo. Escancarado.
‘[…] Flávio Dino reiterou que a Corte não atua em favor de qualquer governo, ou contra outros poderes.’ Ninguém é obrigado a confiar em Sapo Dino. Alas, se atuasse ele diria?
Cortina de fumaça. Emendas parlamentares em 2025 chegam a 50 bilhões. O endividamento segundo as contas oficiais marotas é 76% do PIB, 9,26 trilhões de reais. Pelas contas do FMI, aceitas internacionalmente, é 88,4% do PIB. O truquezinho é desviar atenção da gastança para as emendas e os possiveis desvios. Como se na gastança nada houvesse de errado, la não tem desvios ‘com certeza’.