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Gente pequena faz coisas gigantes – por Valdeci Oliveira

“Vida longa à Feicoop! O legado de Dom Ivo Lorscheiter segue pulsante!”

Santa Maria é privilegiada. Berço e sede da Feicoop, a cidade deixa de ser apenas o município referência da Região Central do RS e a quinta maior cidade do estado para se tornar, durante três dias, de 10 a 12 de outubro, o exemplo e o foco das atenções quando o assunto é economia solidária.

Serão três dias em que o Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter colocará toda sua estrutura, ampliada para o evento, para receber um número próximo de 400 expositores, para abrigar 50 atividades de formação e de debates, ofertar algo próximo de 30 apresentações culturais e, como o coração de uma mãe, que abre espaço para seus filhos, sejam eles de sangue ou não, colocar seu pavilhão à disposição para que 50 agroindústrias familiares se façam presentes. Se é dos debates, da cultura e dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, a Feicoop também é do artesanato, dos catadores e dos povos indígenas e quilombolas.

E Santa Maria tem o privilégio de sediar esse evento transformador desde 1994, com as mulheres e homens da organização da Feira lutando contra a falta de recursos, “peitando” e encarando de frente interesses contrários, driblando o descaso de algumas autoridades e encarando alguns cancelamentos e adiamentos da programação.

Não bastasse os infortúnios ‘naturais’ que aparecem quando se trata de uma ação capitaneada por lutadores sociais e seus diferentes movimentos organizados na sociedade civil, nessas três décadas, a Feira também presenciou e viveu uma epidemia de gripe H1N1 – que resultou em seu cancelamento em 2009 -, uma pandemia de covid-19 – que limitou drasticamente a participação presencial num ano e a obrigou ser totalmente online em outro, como em 2020 e 2021 -, além de lidar e contornar, claro, os efeitos de uma enchente próxima de magnitude bíblica em 2024.

E sempre de forma resiliente, resistente e apaixonante, seguiu em frente, ignorando o tamanho dos obstáculos, pois assim faria Dom Ivo, não a única, mas a principal figura que a moldou, que deu o “sopro de vida’ necessário para que a Feicoop, parte do Projeto Esperança/Cooesperança, saísse do campo das ideias, das formulações rascunhadas em dezenas de folhas de papel e ganhasse vida, inicialmente “engatinhando” até conseguir “andar com as próprias pernas”.

Outra figura símbolo, a Irmã Lourdes Dill, diretamente de Moçambique, na África, onde realiza aquilo em que é mestra – o acolhimento, a busca por justiça e inclusão e a defesa de quem precisa ser defendido – publicou um vídeo nas redes sociais convidando a todos e todas a participarem, visitarem e prestigiarem aquela que é símbolo de “uma experiência caminhante, aprendente e ensinante”, que fortalece o desejo e a prática de “um outro mundo é possível”, mostrando que “uma outra economia já acontece”.

Nessas mais de três décadas sendo reconhecida como a maior atividade da economia solidária proposta e produzida na América Latina, a Feicoop, a cada edição, consolida aquele ditado africano que sintetiza o sonho e a prática das pessoas que a pensaram: “muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da Terra”, no melhor exemplo do coletivo, do fazer junto, do dar as mãos em torno de um propósito coletivo, social e civilizatório. 

E esse testemunho venho formando desde a primeira edição, quando tive o privilégio de segurar o guarda-chuva para proteger o Antônio Gringo, que se apresentava com voz e violão a um pequeno e curioso público que compareceu naquela ainda incipiente, mas futuramente exitosa, experiência.

E presencio a cada ano essa evolução constante, externada nos rostos, desejos e fazeres que conquistaram a simpatia e o respeito não apenas das populações gaúcha e brasileira, mas de inúmeros países. Uma evolução que fez com que de 3 estados brasileiros participantes em 1994 se chegasse aos 27 em 2010, juntamente com representantes de cinco continentes. E a nacionalização e internacionalização da Feira segue firme até os dias atuais.

Se no início os organizadores da Feicoop tiveram muito em agradecer à Santa Maria pelo acolhimento e respaldo, não de hoje, é a nossa cidade, é cada um de nós que o fazemos, pois ter tornado nosso município a Capital da Economia Solidária e do Cooperativismo Autogestionário vai além da chancela, do título. É uma marca indelével, um capital social impossível de precificar, um título que honramos carregar.

A Feicoop é o exemplo de que os sonhos precisam ser buscados; os ideais, defendidos; e os frutos do trabalho, usufruídos de forma irmanada. E que a utopia de que “um outro mundo é possível” seja regada a cada dia com as “águas da esperança” e com a certeza de que a cooperação, solidariedade, democracia e a busca incessante por justiça social e respeito à natureza são o que nos tornam seres humanos melhores.

Vida longa à Feicoop! O legado de Dom Ivo Lorscheiter segue pulsante, segue presente!

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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