Haverá algum espaço para nações que não sejam impérios? – por José Renato Ferraz da Silveira
Sobre encontros entre Trump e Lula, primeiro, e Trump e Xi Jinping, depois

Na semana passada, as atenções do mundo ficaram voltadas para o encontro entre Trump e Xi Jinping, os homens fortes dos dois países mais poderosos do mundo.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, se reuniram pela primeira vez em seis anos – reacendendo as esperanças de uma redução das tensões entre as duas maiores economias do mundo.
Trump descreveu as conversas, na Coreia do Sul, como “incríveis”, enquanto Pequim afirmou que ambos chegaram a um consenso para resolver as “principais questões comerciais”.
As relações vinham tensas desde que Trump começou a impor tarifas sobre a China e Pequim respondeu com suas próprias medidas. Em maio, eles concordaram com uma trégua, mas as tensões continuaram elevadas.
As conversas da última quinta-feira (30/10) não resultaram em um acordo formal, mas os anúncios sugerem que os dois lados estão mais próximos de um acerto – cujos detalhes vêm sendo negociados nos bastidores há tempos.
Pois bem, o multilateralismo parece um sonho do século 20, entretanto saído de moda. Haverá neste tempo algum espaço para as nações que não sejam impérios? Olhemos com mais atenção, porém, para o cenário dos encontros entre Trump e Lula, primeiro, e Trump e Xi Jinping, depois. A verdade é que eles têm lugar no âmbito de reuniões de organizações multilaterais, a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e a Apec (Comunidade Econômica da Ásia-Pacífico).
E a primeira delas, com mais de 600 milhões de cidadãos, distribuídos por 11 países (um deles de língua portuguesa, Timor Leste, que acabou de entrar) tem alguns ensinamentos sobre como sobreviver neste mundo de retorno ao imperialismo agressivo.
A Asean tem uma história que começa nos anos 60, mas só a partir da década passada deu passos rápidos em direção a uma maior integração econômica. Para nações tão populosas como a Indonésia e a Malásia, ou dinâmicas como Singapura ou o Vietnã, fazer parte de um bloco regional é uma forma de não ser dominado nem pela China nem pela Índia. Esses colossos de mais de um bilhão de habitantes cada dominam a nossa imaginação.
Mas as nações da Asean, funcionando por consenso num quadro de grande flexibilidade, conseguem aumentar os fluxos comerciais entre si, tanto em bens como serviços, e ter uma palavra a dizer nos seus destinos. E até, por serem terreno neutro, ser o palco de diálogos de importância global como os que tiveram lugar por estes dias.
Já a APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) é um fórum econômico que reúne 21 economias da região Ásia-Pacífico para promover o crescimento econômico sustentável e a prosperidade. Seu principal objetivo é a liberalização e a facilitação do comércio e do investimento, visando a integração econômica regional a longo prazo, inclusive a criação de uma área de livre comércio. Tivemos APEC CEO Summit Korea 2025 que aconteceu em Gyeongju, Coreia do Sul, de 28 a 31 de outubro. A Coreia do Sul, conhecida por sua inovação e economia dinâmica, foi o cenário ideal para as discussões deste ano sobre temas cruciais como transição energética, transformação digital e de IA, comércio e biotecnologia.
À medida que a região da APEC enfrenta um momento decisivo em meio a mudanças geopolíticas e transformações industriais.
Não há dúvida de que blocos regionais têm em comum a vontade de afirmar nações pequenas e médias à escala global que não querem ficar sem voz neste século 21 de “choques entre titãs”.
Os noticiários internacionais de 2025 ficarão marcados como a tensão entre as grandes potências e o reforço – ou tentativa – de consolidar as suas respectivas esferas de influência.
Por fim, como disse o historiador Rui Tavares: “No tempo de grandes predadores, vale a pena aprender a andar em manada”.
(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).






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