DO FEICEBUQUI. Lei & Justiça, na manifestação do magistrado que lida com detentos dia sim, dia também
![Foto de capa do perfil do magistrado, publicada no final de maio: o brigadiano no Central, o maior presídio do Rio Grande do Sul](https://claudemirpereira.com.br/wp-content/uploads/2016/06/feicebuqui-presídio.jpg)
No momento em que esta seção é fechada, com opiniões (do editor ou não) publicadas originalmente no Feicebuqui, o texto abaixo já tem 58 compartilhamentos, mais de 300 curtidas e duas dezenas de comentários. Seu autor é o magistrado Sidinei José Brzuska, hoje atuando na capital (na vara de Execuções Criminais) e que durante muito tempo exerceu as mesmas funções em Santa Maria. Acompanhe, na íntegra:
“LEI & JUSTIÇA
Patrícia ingressa na sala de audiências para ser ouvida. Ela já tem duas condenações por tráfico de drogas, tendo novamente sido apanhada no centro de Porto Alegre, na Pça da Alfândega, com quarenta gramas de maconha e alguns trocados.
Com 21 anos, seu corpo é franzino, como de adolescente. Cabelo encaracolado e bem curto, detentora de um sorriso simples, revelando jamais ter recebido qualquer tratamento dentário.
até que série a senhora estudou?
Até a 3ª série.
Mas por que a senhora parou de estudar tão cedo?
Eu não parei. Eu sigo estudando.
Como assim? Na 3ª série estudam crianças, de 08, 09 anos?
Os meus pais são usuários de drogas e moradores de rua. Eles não me botaram no colégio quando eu era criança. Somente fui conhecer o colégio depois que fui presa pela primeira vez.
E quantos irmãos você tem? (A essas alturas já não a chamo mais de “senhora”).
Seis.
Você é a mais velha, a mais jovem?
Eu sou do meio. Tenho dois irmãos mais velhos.
E onde eles estão?
Morreram. Um com 18 e outro com 19 anos. Morreram por causa das drogas. Não foram executados. Morreram por causa das drogas mesmo.
E filhos? Você tem?
Tenho um filho de 01 ano e seis meses, que está com a minha sogra.
E o pai da criança?
Está no Central, preso por homicídio. Mas eu não o visito.
(…)
Patrícia segue presa. Como é reincidente específica em tráfico, terá que cumprir uns cinco anos no regime fechado até obter direito ao semiaberto. Não terá direito ao livramento condicional, comutação de pena ou indulto. Ao final do tempo o Estado terá gasto com ela uma pequena fortuna, para mantê-la no sistema prisional. Bem mais do que se a tivesse mantido no colégio na sua infância.
É fácil cumprir a Lei penal, embora custe caro. Difícil mesmo é fazer justiça”
PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI (se você for usuário do Feicebuqui).
Gosto muito do posicionamento desse Juiz. Sempre lúcido e principalmente humanista.