Nós, homens
Por VALDECI OLIVEIRA (*)
Se observarmos com atenção as cada vez mais estarrecedoras estatísticas que chegam pelos meios de informação a respeito do tratamento social dedicado às mulheres, nós, homens, deveríamos passar o mês inteiro de março, que é o mês dedicado a mulher, completamente calados, sem emitir quaisquer sílabas a respeito da data e de assuntos relacionados. Calar por 30 dias seria, talvez, uma forma simbólica de expressarmos um necessário e contundente auto repúdio pelo papel que nós, homens, cumprimos nessa história. E aqui não falo só daquele tema que imediatamente, hoje em dia, assalta as nossas mentes quando falamos sobre o sexo feminino, que é a violência. Isso, ao meu ver, apesar de gravíssimo, é apenas uma dura consequência da forma vil como nós, os “machos de todas as estirpes”, vislumbramos a existência da mulher no nosso cotidiano.
Em tese, nós, homens, somos acostumados a descrever a mulher como seres sensíveis, determinados e carinhosos. Na infância, aprendemos que “homem não bate em mulher” e que as meninas devem ser protegidas e tratadas sempre de modo afável. Desde muito jovens, somos orientados ainda a entender que uma mulher possui os mesmos direitos que qualquer ser humano.
Mas se, tão cedo, essas lições já são fortemente introjetadas nas consciências masculinas por que a realidade se mostra tão sinistra para elas? Não tenho essa resposta. O que eu sei e entendo – como alguém que é pai de mulheres, avô de mulheres e irmão de mulher – é que o silêncio como forma de penitência pelo machismo impregnado – por mais simbólico que seja – é estéril. Também não defendo que os homens assumam o protagonismo no mês da mulher. Acredito, sim, que nós, homens, deveríamos, nessa época do ano em especial, ter a humildade de dedicar uma fração do nosso tempo para escutarmos e dialogarmos com as mulheres. Porém, com atenção e dedicação.
Digo isso porque me questiono muito se nós, homens, já paramos para pensar nos obstáculos cotidianos que uma mulher enfrenta apenas para subsistir. Será que já pensamos que uma mulher quando ingressa em um ônibus, de manhã, para ir trabalhar, algo trivial, ela tem de pensar em como vai se postar lá, pois dentro do veículo poderá se deparar com alguém interessado em buliná-la nas primeiras horas do dia?
Será que nós, homens, imaginamos que muitas mulheres chegam para trabalhar tendo em suas mentes a informação que o salário delas será inferior ao do colega homem que faz a mesma coisa? Como será que alguém se motiva profissionalmente sabendo, de pronto, que, por uma questão de gênero, a sua atuação será desvalorizada?
Será que nós, homens, um dia já nos demos conta que não são poucas as mulheres que – no próprio ambiente profissional, onde, via de regra, já ganham menos que os homens -tornam-se alvos de cantadas, assédios e outras situações vexatórias e humilhantes?
Será que nós, homens, lembramos que as mulheres quando chegam em casa, após uma jornada exaustiva de trabalho, não podem simplesmente suspirar e descansar? Não podem, pois o dia, para elas, de fato, não acabou. Elas ainda têm – muitas vezes solitariamente – de reunir energias e disposição para preparar o alimento dos filhos e do marido, para lavar a louça e cuidar da limpeza do lar.
Será que nós, homens, concebemos que, para uma mulher, é arriscado, ainda hoje, praticar o corriqueiro ato de colocar um ponto final em um relacionamento amoroso. Isso porque há homens que, covardemente, preferem machucar ou até assassinar a esposa ou a namorada a permitir que elas sigam as suas vidas com uma outra pessoa.
Será que nós, homens, um dia vamos perceber que respeitar e gostar das mulheres apenas retoricamente é vazio? Nós só vamos, concretamente, respeitar as mulheres quando pararmos de enxergá-las como coisas, como serviçais, como meros objetos de prazer e de sexo ou como sacos de pancada. É duro afirmar isso, mas é preciso que se diga: há homens, gaúchos e brasileiros, que se esforçam para não enxergar as mulheres como seres humanos e como cidadãs de fato e de direito. Para esse grupo, abjeto, lugar de mulher é em qualquer lugar onde ela não apareça nem “incomode. Posturas assim são inaceitáveis. Lugar de mulher é na universidade, é na política, é no lar, é aonde ela quiser, gostem ou não os machistas de plantão.
Eu sei muito bem que a caminhada em direção a uma sociedade onde prevaleça a igualdade de gênero é bastante longa. Todavia, otimista que sou, acredito que as novas gerações de homens que virão, arejados pelos movimentos de mulheres e pela sororidade que se fortalece no nosso país e no mundo, virão melhores e mais humanizados. Para que isso ocorra, cabe a todos nós, inclusive ao presidente da República, dar exemplos dignos e mostrar que o Brasil é um país de democracia e de diversidade e não um palco para o exercício da intolerância, da discriminação e do fascismo. Viva as mulheres! Viva os homens que respeitam as mulheres!
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287
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