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A descoberta da vacina em 2020: Guedes avisou Bolsonaro que era importante? – Por Carlos Wagner

Ministro sabia que a vacina era a bala de prata contra a Covid-19. No entanto...

Ministro Paulo Guedes, que tudo sabe sobre o Mercado, não insistiu com o presidente sobre o valor da vacina (Foto Reprodução)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é cabeça dura e boca de conflito – xinga todo mundo. Mas não rasga dinheiro. E quer se reeleger. Portanto, existia a possibilidade de que ele tivesse dado ouvidos a quem lhe explicasse, no ano passado, que a descoberta da vacina era a bala de prata contra a Covid-19. E que ele poderia seguir nas suas pregações negacionistas sobre o poder de contaminação e de letalidade do vírus, como fazia o seu colega e ídolo, o então presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano).

Enquanto Trump seguia de vento em popa nas suas pregações negacionistas, “alguém” no seu governo comprou as vacinas. Trump não se reelegeu, perdeu para Joe Biden (democrata) e saiu do governo pela porta dos fundos da Casa Branca. Mas uma coisa que ninguém pode tirar dele é o crédito da compra das vacinas. Hoje os americanos estão sendo vacinados em massa e a previsão é de que o país volte à normalidade ainda neste ano. Quem poderia ter sido esse “alguém” no governo Bolsonaro? É sobre esse assunto que vamos falar. Vamos aos fatos.

No título do texto citei o ministro da Economia, Paulo Guedes, 71 anos. Por quê? Ele é líder dos neoliberais do governo Bolsonaro. Pessoas que defendem e entendem como funcionam os mercados internacionais. Portanto, pessoas que enxergam o futuro, porque vender e comprar ações ou seja lá o que for exige um conhecimento enorme da realidade.

Hoje Guedes e os seus colegas afirmam com todas as palavras que a reativação da economia depende da vacinação em massa da população. Guedes foi apelidado pelo presidente de Posto Ipiranga, um lugar onde se encontram todas as soluções, como diz a publicidade da marca. Por ser um homem de mercado, Guedes sabia que a vacina era a bala de prata contra a Covid-19.

Então? Por que não foi ele o “alguém” do governo Bolsonaro e deixou passar a oportunidade do Brasil comprar, em agosto do ano passado, as 70 milhões de doses oferecidas pela Pfizer? O negócio ficou nas mãos do ex-ministro da Saúde, o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, homem que sequer olhava as horas no relógio sem pedir a autorização do presidente. Guedes não agiu na ocasião por medo de perder o emprego ou não se deu por conta da importância da vacina?

O ministro Guedes não foi o único que teve oportunidade de ter alertado, no ano passado, sobre a necessidade das vacinas e evitado o caos. Os ministros Braga Neto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, não têm o olho do mercado como Guedes. Mas são generais e entendem de estratégia de guerra. Eles podiam ter tomado as rédeas na questão da vacinas por serem homens de confiança do presidente. Não tomaram.

Aqui chegamos a um ponto importante da nossa conversa. Sabe? Em maio de ano passado, quando se tornou público o vídeo de uma reunião do presidente Bolsonaro com os seus ministros, eu pensei se tratava de uma peça publicitária.

Por quê? O então ministro da Educação Abraham Weintraub chamou de vagabundos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu que todos aproveitassem que a atenção do país estava voltada para a pandemia e “passasse a boiada” – derrubando portarias e outras leis.

O presidente, das palavras que pronunciava, metade eram palavrões. Foram duas horas de um espetáculo decadente. Um colega repórter de um jornal nos Estados Unidos, um velho conhecido dos tempos dos conflitos agrários no interior do Rio Grande do Sul, me ligou e perguntou sobre o assunto. Eu disse que aquilo parecia ter sido montado por Bolsonaro para satisfazer os seus apoiadores ligados ao movimentos nazista, terraplanistas, ocultistas e outros radicais de extrema direita.

Esqueci o assunto. Na semana passada, conversando com um colega, ouvi dele que as pessoas que são chamadas no gabinete do presidente entram lá e não sabem se sairão com os seus empregos. A minha conclusão hoje é que aquelas cenas da reunião de maio do ano passado não eram uma peça publicitária para os apoiadores de Bolsonaro. É assim que as coisas acontecem. Guedes e os generais têm medo de despertar a fúria do presidente.

O Brasil vive um pesadelo causado pela vacinação a conta-gotas. Mais de 2 mil pessoas estão morrendo diariamente, uma boa parte delas devido ao colapso dos sistemas de saúde público e privado. Em 25 dos 27 estados não há vagas nos hospitais. Quem necessita de uma UTI enfrenta uma fila de espera que já soma centenas de pessoas.

O presidente Bolsonaro é o comandante de toda essa lambança. Mas ele não o único responsável. Os seus ministros e assessores diretos também têm parte da culpa nessa situação porque deixaram as coisas acontecer. Daí que considero muito importante nós repórteres identificarmos no governo quem poderia ter evitado essa situação e não fez nada.

Ou fez e acabou sendo demitido, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, depois de ser boicotado e fritado pelo presidente. O Brasil hoje é apontado no mundo como exemplo da devastação que pode se causada na saúde quando um presidente torna o negacionismo política de governo.

Claro que todo esse rolo vai acabar nas cortes internacionais de justiça. Em uma entrevista dada hoje (16/03) ao O Globo, o novo ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, disse o seguinte: “Política é do governo Bolsonaro, não do ministro da Saúde”. Ele está a menos de 24 horas no cargo é já está tirando o corpo fora. Por quê?

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

 (*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP..

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6 Comentários

  1. Esqueci de um detalhe cômico. Há quem defenda na cidade que o Brasil precisa de um novo Segundo Sargento de Infantaria Vargas, Getúlio Dornelles. Só dando risada.

  2. Resumo da ópera: queimar Guedes para desestabilizar o governo. Há um esforço concentrado para lançar Mandetta para ocupar a terceira via. É um candidato fraco, obvio. Pesquisas fabricadas afirmam o contrário. Precisam da polarização. Se alguém medianamente aceitável aparecer como alternativa derrota os dois.
    Molusco. Quando assumiu no começo dos dois mil economia estava mais ou menos encaminhada. Pegou o boom das commodities.
    Com 3 toneladas de minério de ferro era possível comprar uma tv tela plana razoável. Preço caiu depois (com a despesa publica ajustada no preço alto) e 14 mil quilos virou o preço. Deu no que deu.
    O que o quase octogenário pegaria agora? Economia bagunçada. Pais dividido. Divida publica na casa do chapéu. Muita gente p. da vida por motivos diversos. Matriz energética mundial sendo alterada. Outra ‘revolução industrial’ em andamento. Cadeias de suprimento globais em alteração. O que pode dar errado?

  3. Cavalão é boquirroto. Fala m. Toma atitudes tresloucadas e não escolhe as brigas, perde capital politico. Não é burro, mas não é nenhum ‘Maquiavel’. Sim, o filho está enrolado com rachadinhas. Ele, mais 26 deputados e 75 assessores. Partidos muitos, PT, PSOL, MDB (surpreendentemente) e por aí vai. Pepino é que uma hora o RJ derrete de vez (só não foi ainda por conta dos royalties do petróleo) e o resto do país será chamado a pagar a conta.
    Mandetta foi um baita ministro, fecha tudo e o pico é daqui 15 dias. Guedes diz que as vacinas deveriam ter sido compradas desde o tempo dele.

  4. Ano passado muita gente deveria ter olhado a bola de cristal e feito ‘mimimi’. Por que os críticos da imprensa não abriram a boca se era tão óbvio? Paulo Guedes é ‘cientista’?
    Guedes, algo estranho para vermelhinhos, tem formação e capacidade. Sim, é arrogante, mas é outra história. Saindo do ministério e passada a quarentena tem emprego garantido e muito bem remunerado. Do mesmo jeito que Moro. Simples. Não sai porque os fatos do ponto de vista de lá são diferentes do que vistos da planície e diferentes das ‘narrativas’ inventadas pelos comunistas mezozóicos.

  5. Discurso das vacinas é espelho do que foi utilizado contra Trump nos EUA. New York Times, 11 de dezembro de 2020, ‘Administração Trump deixou de assegurar mais vacinas da Pfizer- Cia farmacêutica ofereceu a chance de contratar suprimento adicional antes dos testes clínicos provarem sua eficácia’.
    Pfizer pedia na época algo como 20 dólares a dose. Necessita de -70ªC no acondicionamento (vai ter gente colocando grana no bolso comprando geladeira em floricultura e gente tomando placebo achando que tomou vacina). Empresa não se responsabiliza pelos efeitos colaterais. Como se resolveu o último imbroglio? Com uma lei. ‘ficam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios autorizados a adquirir vacinas e a assumir os riscos referentes à responsabilidade civil […] em relação a eventos adversos pós-vacinação’. Quais eventos? Não se sabe. Vacina da Pfizer é tecnologia nova.

  6. Criticar o Cavalão (que não se reelege) é questão de direito e livre arbítrio. Tentar enganar os outros no processo é ‘feio’.
    Para começo de conversa não existe ‘vacina’ (embora os intelectualmente simplórios possam pensar desta forma), existem ‘vacinas’. Com preço, regras contratuais e dificuldades logísticas diferentes (uma ou duas precisam de rede de frio especial).
    Viés de retrospectiva, o que os americanos chamam de ‘hindsight bias’. Olhando no retrovisor até vermelhinho vira gênio (talvez não a maioria). Vacinas levam décadas para ser desenvolvidas. Queriam que fossem comprado algo que não existia, não havia garantia de eficácia e o fabricante não tinha ainda encaminhado a papelada. Daí a exploração da falta de memória da população, é ‘algum período indefinido no ano passado’.

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