Pátria de cada um – por Orlando Fonseca
Há muitas maneiras de se olhar ou analisar a realidade. Reduzindo à impressão particular, é possível listar: com otimismo, com pessimismo ou com indiferença. Assim como há os que alimentam boas expectativas, mesmo com um quadro nebuloso e crítico, há os que apostam no “quanto pior melhor”. Enquanto os que podem tiram vantagens das crises – para alguns, oportunidade de melhores negócios -, outros incentivam as crises para se apresentarem como “salvadores da pátria”, os mitos e os falsos messias. Não tenho instrumentos de pesquisa para quantificar, mas tenho a impressão de que a grande maioria “não está nem aí”. Neste Sete de Setembro, a Pátria que cada um tem a celebrar pode ser o resultado de uma dessas visões.
Nos últimos anos, a noção de país, de Brasil-brasileiro, de Pátria-amada-mãe-gentil, no imaginário popular, tem-se confundido com um permanente quadro de decadência. Desde os abalos dos pilares da democracia até à redução do conceito de república aos interesses escusos. É certo que nosso país, assim como o resto do planeta, viveu dias terríveis com a pandemia da Covid 19, e que ainda vive os sintomas colaterais de uma guerra no Leste Europeu. No entanto, a se lastimar com mais evidência, a implantação de um estado permanente de “falta de noção”, de um derrame de notícias falsas e a afirmação de um falso moralismo fundamentalista. Como o senso comum tomou conta dos debates, para os mais desatentos, a impressão é que pertencemos a uma nação que não tem mais jeito. Se dependêssemos apenas do que circula na mídia, especialmente nas redes sociais, estaríamos vivendo nos quintos-dos-infernos. Embora eu tenha inúmeras razões para dizer que não é bem assim, e isso baseado em dados, sou quase levado pela corrente, pois sou obrigado a silenciar, para não ser tomado como ingênuo, conivente e ainda me precaver de ataques midiáticos ou riscos de ir à via dos fatos.
Neste momento, em que a campanha eleitoral ganha as ruas, ao invés de propostas para o país sair desta crise (que não é mais apenas uma questão econômico-financeira) o que temos presenciado é o aumento do discurso do ódio. Em vez de argumentos, ideias novas, aumenta a tensão através da violência – verbal ou material. Não resta dúvida que a corrupção é um dos males que devem ser combatidos com decisão e com mecanismos eficazes. Entretanto, na mesma ordem, aparecem problemas de ordem fiscal, envolvendo agentes públicos e a iniciativa privada. Segundo dados do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda, a sonegação apresenta números muito mais nefastos à República. De acordo com informações da Receita Federal, em 2021, foram sonegados em torno de R$ 550 bilhões, em tributos como Imposto de Renda da Pessoa Jurídica. Neste ano de 2022, 22 já são mais de 423 bilhões, até agora.
E toda vez que há mobilização do Ministério Público ou da Receita Federal, temos uma comoção, que se transforma em conspiração (ou paródia disso). Haja vista o que aconteceu após o anúncio de um número expressivo de imóveis adquiridos em dinheiro vivo, ou sobre a operação da Polícia Federal com buscas em endereços de grandes empresários suspeitos de inconfidência para garantir a reeleição no pleito presidencial atual, independente do resultado das urnas. Ou seja, aqueles que se arrogam de bastiões da moralidade, porque representam o poder econômico, têm os seus pés de barro (ou na lama), os seus esqueletos no armário (ou no cofre). Mesmo entre os cidadãos comuns, é possível se deparar com os que pretendem que os agentes públicos “deem um jeitinho” para atender suas demandas. No final das contas, seja em verbas, seja em verbos, celebrar a Pátria não é uma questão de apenas exigir o amor desta Mãe Gentil, e sonegar a sua parcela na construção da democracia, do bem comum, de um país próspero e justo para todos. É preciso exercer a cidadania com dignidade.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Pátria, democracia, bem comum, país próspero e justo para todos, cidadania com dignidade, de fato palavras bonitas para as quais a maioria ‘não está nem aí’. Pura conversa mole. Perda de tempo. Negocio e cuidar da vida que é curta.
Há transação de imoveis no Brasil pagos em sacos de soja. Se o imovel é registrado aparece como patrimonio no imposto de renda Receita deve atuar. Ninguém é preso por crime tributario no Brasil, apesar de agora prenderem por crimes contra a honra dependendo do ofendido. Ex-juiz sofre busca e aprensão porque a letra do nome dos suplentes não está com o tamanho certo? Quem não lembra da SWAT da PF prendendo Temer numa avenida movimentada? Resumo ‘nós somos corruptos mas todo mundo é’. Empresarios escrevendo bobagens em rede é crime gravissimo? E o dinheiro gasto nas operações?
Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda para quem não notou é um sindicato. Acredita quem quiser. Anos atrás cataram uma economista que concluiu que a sonegação no Brasil era quase 10% do que deveria ser arrecadado. Quem ler o trabalho vai ver diversas ‘estimativas’. Resumo é que a carga tributaria no Brasil não seria trinta e poucos por cento e sim mais de 40%. Curva de Laffer já teria ido para o espaço faz tempo.
‘Falta de noção’ é relativo. Roubar não é pratica aceitavel, embora alguns discordem. Fake News é algo controverso, na margem é uma minoria tentando tutelar a maioria, tentando dizer o que é a realidade como estrategia obvia de dominação. Falso moralismo fundamentalista? Politicamente correto, ataque a comedia, linguagem de genero neutro, ‘local de fala’, lista interminavel. Redes sociais sofrem os respingos da guerra civil cultural ianque Porem são bolhas, presta atenção quem exige uma perfeição utopica do mundo. Vias de fato? Velho só entra em briga para apanhar. Lembra alguns da aldeia que nunca levaram uma sova porque nunca valeram o incomodo devido a insignificancia.
Democracia é uma palavra bonita que não tem conceito unico. Antiga Alemanha Oriental era ‘Republica Democratica Alemã’ segundo o conceito ocidental não era nem republica e nem democracia. Lembrando que na aldeia (e fora) há quem tentou passar a ideia de que ‘comunistas nao existem mais’. Defensores de ideias que nunca deram certo com falacias do tipo ‘capitalismo matou mais que o comunismo’. Instituições são prédios e papeis que descrevem o que lá deve acontecer. Quando as criaturas que ocupam os cargos deixam de corresponder ao que a teoria prescreve, deixam de se dar ao respeito quando o establishment perde o contato com a realidade problemas ocorrerão.
Crise originalmente significava decisão. Na acepção atual é algo que afeta diferentemente as diversas pessoas. Pergunta é se as pessoas não estão nem aí ou simplesmente não veem crise sendo ‘fomentada’. Bom lembrar também 2013, tudo estava calmo e, de repente, surgiram protestos significativos. Crise mesmo acontece no Chile, nova Constituição (vermelha) rechaçada. Crise mesmo é na Argentina onde o bloco kirchnerista no Senado afirma que ‘enquanto continuar o julgamento de Cristina não haverá paz social’. Julgamento por corrupção é bom lembrar.