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Brasil: cinco anos da Pandemia – por Leonardo da Rocha Botega

Foram mais de 700 mil mortes. Relembrar “é muito doloroso, mas necessário”

Há cinco anos, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou a Covid-19 como Pandemia. O motivo era o alcance mundial e acelerado do vírus SARS-CoV-2. A “pneumonia misteriosa”, surgida cerca de três meses antes em Wuhan na China, já havia provocado 118 mil casos e 4,2 mil mortes em 114 países. Entre os principais países afetados estavam, além da China, a Itália e a Espanha.

No dia seguinte a declaração da OMS, o Brasil registrou sua primeira morte causada pelo novo coronavírus. A vitima era uma mulher de 57 anos que havia sido internada no dia anterior, no Hospital Municipal Doutor Carmino Caricchio, em São Paulo. Naquele mesmo 12 de março de 2020, vinte membros de uma comitiva que havia acompanhado o então presidente Jair Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos testaram positivo para Covid, entre estes três ministros e um senador.

O que seria uma alerta para o governo brasileiro acabou se tornando a construção de um verdadeiro Necrossistema. Um Necrossistema, conforme o Acervo da Pandemia da Covid-19, recentemente lançado pela Unifesp, é “formado por um conjunto de instituições e agentes que atuam de forma articulada para controlar a vida e a morte da população, estabelecendo e ampliando seu poder sobre corpos, comunidades e a sociedade”.

Em 24 de março de 2020, o presidente anunciou como o Necrossistema bolsonarista funcionaria. Em rede de rádio e televisão, Jair Bolsonaro pediu a “volta da normalidade” e o “fim do confinamento em massa”, criticando a “sensação de pavor” que os meios de comunicação estariam causando por conta de uma “gripezinha”. Quatro dias depois, o número de mortos no país já passava de uma centena. Uma semana depois, um jovem de 23 anos teve a confirmação de sua morte por coronavírus em 17 de março.

Depois da “gripezinha” se seguiram outras declarações como: “Coisa de covarde”, “Vamos todos morrer um dia”, “Brasileiro não pega nada”, “Eu não sou coveiro”, “E daí?”, “Esse vírus é quase como uma chuva”, “Tem que deixar de ser um país de maricas”, “Chega de mimimi”, “Vai comprar vacina, só se for na casa da sua mãe”, “Covid apenas encurtou a vida delas por alguns dias ou algumas semanas”, “Lamento profundamente, mas é um número insignificante”.

Enquanto isso, ministros da saúde entravam e saiam do governo, o número de infectados e mortos não parava de crescer, a pobreza e a miséria também, e as Fake News se espalhavam tanto de forma oficial como informal, conduzidas pelo chamado “gabinete do ódio”. A principal delas foi a do “tratamento precoce” a partir do “Kit covid”, medidas sem comprovação cientifica recomendadas pelo governo Bolsonaro e que ganhou adeptos entre um conjunto de médicos bolsonaristas.

A propaganda do “kit covid”, tratamento a partir do uso de uso de medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e suplementos de zinco, surgiu a partir da publicação de um artigo de qualidade duvidosa no Journal of Antimicrobial Agents. Recentemente, o artigo foi despublicado por questões éticas e erros metodológicos na pesquisa. Além disso, alguns de seus autores foram acusados de “charlatanismo” e tiveram seus registros médicos cassados.

Por aqui, o “charlatanismo governamental” fez suas vítimas. Milhares de pessoas não respeitavam as recomendações, participavam de carreatas e motociatas, e repetiam exaustivamente as besteiras presidenciais. O Necrossistema bolsonarista foi muito eficiente em seu objetivo. O país se tornou um dos mais afetados. Com 2,75% da população global, tivemos, entre 2020 e 2021, 17% dos óbitos mundiais por Covid-19. Foram mais de 700 mil mortes. A maioria poderia ter sido evitada!

Passados cinco anos da declaração da Organização Mundial da Saúde, dos primeiros casos e das primeiras mortes por Covid-19 no Brasil, relembrar este “tempo presente” é muito doloroso, mas necessário. O sentido do “não esquecer, para não repetir” também se faz presente na História da Covid-19. Um sentido que nos alerta que, ao longo da pior Pandemia Mundial desde 1918, estivemos como a tripulação de navio perdido em meio a um mar revolto, com o “capitão” agitando ainda mais as águas.

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