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A tecnologia pensante – por Leonardo Foletto

eugeneDesde quinta-feira passada só se fala em Copa no Brasil. Pra quem não gosta fica difícil fugir do assunto, por que ele está em todos os lugares, TVs, redes, rádios e ruas. E pra quem gosta fica difícil fazer outra coisa, já que a onipresença futebolesca estimula a overdose de informação, que as mesmas redes, e também o jornalismo, têm tratado de suprir com mais e mais doses infinitas.

Estou tentando acompanhar tudo, das manifestações aos jogos, mais como observador do que como torcedor. Do assunto que tem sido o meu objeto principal de interesse no momento, a tecnologia e a comunicação nas redes, poderia comentar sobre as belas visualizações de dados que têm sido produzidas sobre a #Copa2014, que se aproveitam dessa ser a primeira do big data e da ação efetiva em tempo real de milhões (bilhões) de pessoas nas redes sociais – estou juntando algumas numa série de tweets no @baixacultura. Ou dos memes quase instantâneos que circulam pela rede – como este, fruto de Alemanha X Portugal, ou os do primeiro jogo do Brasil, compilados pelo YouPix – colocando o Twitter como companheiro indispensável (e mais divertido) para acompanhar uma partida da copa.

Dava para falar também do uso decisivo da tecnologia na marcação do segundo gol de França X Honduras, realizado domingo à tarde no Beira-Rio, em Porto Alegre, e que provocou reações das mais interessantes nos comentaristas do jogo, considerando o tal chip – e por consequência a tecnologia – como uma entidade infalível, superior, quase um Deus todo-poderoso, se esquecendo que ela também é produto humano e, como tal, também pode falhar (embora certamente menos que os juízes desta primeira rodada da copa, é verdade).

Mas não vou falar sobre copa hoje, porque pra isso vocês tem zilhares de opções nesta internet. Vou comentar, sim, sobre tecnologia, e peço licença para contextualizar um causo. Ano passado, no doutorado que faço em comunicação, cursei uma disciplina na pós em computação da UFRGS chamada “Mentes e Máquinas”. Entre diversas conversas e leituras sobre o que de fato seria inteligência, o “Teste de Turing” sempre aparecia como o clássico paradigma da inteligência artificial – quando que um computador teria a esperteza e a criatividade para enganar diversos seres humanos?

O teste funciona assim: um julgador humano entra em uma conversa, em linguagem natural, com outro humano e uma máquina projetada para produzir respostas indistinguíveis de outro ser humano. Todos os participantes estão separados um dos outros. Se os juízes não forem capaz de distinguir com segurança a máquina do humano, diz-se que a máquina passou no teste.

Pois bem, parece que no sábado retrasado, 7 de junho, no aniversário de 60 anos da morte de Alan Turing – matemático considerado um dos pais da “computação”– um computador chamado Eugene Goostman passou no teste. Criado por um time russo, ele convenceu 33% dos juízes que era humano, segundo disseram os pesquisadores da Royal Society da Inglaterra, onde o teste foi feito. Entre os que comentou sobre a vitória do robô russo estava Kevin Warwick, um dos maiores especialistas em cibernética do planeta, cara que já controlou um braço mecânico com diversos eletrodos na cabeça e escreveu sobre essa (e outras experiências) num livro chamado “I, Cyborg“.

Existe ainda muita controvérsia sobre o que, de fato, passar no teste significa – e se este foi realmente o primeiro caso na história a isso ter acontecido. Muitos consideram que Eugene não “pensa” no sentido cognitivo dos seres humanos e é “apenas” um chatbox, um simulador de conversação rodado através de um script (muito) sofisticado. Assim, o fato dele ter vencido o teste não responderia a questão “as máquinas podem pensar?”, que estaria na base do exercício proposto por Alan Turing.

Perguntado sobre o seu feito, Eugene, o robô que afirma ser um adolescente ucraniano de 13 anos da cidade de Odessa, disse que se sente tranquilo em bater o teste, que não é “nada demais”. Fiquei com uma duvida: o que será que os comentaristas de futebol falariam sobre a aprovação no teste do robô-guri Eugene?

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