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Finitude – por Liliana de Oliveira

Desconfio que o que mais nos angustia é a finitude. Reconhecermos-nos como seres finitos, mortais, nos angustia profundamente. Por isso vivenciar uma aposentadoria, uma menopausa, uma andropausa, a saída dos filhos de casa, perdas de pessoas importantes, entre tantas outras coisas, nos faz sofrer.

A aposentadoria marca nossa maturidade e o fim da vida ativa no mundo do trabalho. Da mesma forma a menopausa (mulheres) ou a andropausa (homens) marcam o fim da vida reprodutiva. A saída dos filhos nos faz lembrar que eles cresceram e precisam cuidar de suas vidas, mas também sinalizam que estamos ficando mais velhos. A perda de pessoas queridas nos revela a brevidade da vida.

Sabemos que não somos eternos, entretanto vamos vivendo como se jamais fôssemos morrer. Talvez por saber que somos mortais, relutemos tanto. Fazemos contas em dez ou doze prestações como se tivéssemos certeza de que estaremos vivos para poder honrá-las. Fazemos planos para o futuro. Fazemos juras de amor eterno.

Ora, se por um lado é bom que vivamos como se não fôssemos morrer porque isso nos impulsiona pra vida, porque fazemos projetos, muitas vezes os realizamos e assim seguimos até que sejamos pegos de surpresa pela morte. Por outro lado, viver como se jamais fossemos morrer nos permite sair de casa sem se despedir com um beijo porque preferimos acreditar que vamos voltar; permite-nos adiar um telefonema, uma declaração de amor ou um pedido de desculpas porque preferimos acreditar que poderemos fazer isso num outro dia. Às vezes não voltamos. Às vezes não há mais possibilidade de dizer ao outro o quão importante é em nossa vida.

Sempre me lembro da minha avó que comprava calcinhas e roupas novas e as guardava para uma situação especial. As calcinhas para ir ao centro (sempre pensava que poderia desmaiar ou acontecer algo e que não poderia estar com calcinhas velhas) e ao médico; as roupas para algum aniversário ou situação especial. Morreu com camisas e calcinhas novas no roupeiro esperando um dia especial. Eu, diferente dela, acho que as coisas assim como a vida devem ser usadas. Por isso, visto as calcinhas e roupas novas quase no mesmo dia em que foram compradas. Morro de medo de morrer sem usá-las.

Lembro-me sempre do quanto à vida é breve e do quanto deve ser vivida. Vivo e na medida em que aprendo a viver, aprendo a morrer. Como nos dizia Sêneca “Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”.

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