Santa MariaTragédia

KISS. Após limpeza, prédio da boate poderá ser de novo utilizado. Pelo menos se depender da Fepam

kiss seloA Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) aguarda contratação de empresa para fazer o trabalho. O fato é que haverá a limpeza (bem especializada, claro) do prédio onde funcionava a boate Kiss, palco da tragédia de janeiro, e que matou 242 pessoas e feriu pelo menos outras 600.

Quem custeará tudo é a empresa dona do imóvel – que tem 15 dias para informar ao Ministério Público quem realizará o trabalho. Mas, e depois? Não se sabe, ainda, o que o prédio abrigará. Acredita-se, embora não exista confirmação, menos ainda confirmação, oficial que seja desapropriado e ali construído, por exemplo, um memorial. Mas um fato objetivo pode ser relatado de pronto: segundo a Fepam, não haverá qualquer risco para reutilização, depois de feita a limpeza geral.

Quem trata disso, no final de semana, é o jornal A Razão, que trouxe a palavra da Fepam, inclusive contradizendo algumas versões de que o local estava inutilizado. A reportagem (texto e fotos) é de Luiz Roese. Acompanhe:

O prédio da Kiss segue igual ao que era no dia da tragédia, 27 de janeiro. Discute-se o futuro
O prédio da Kiss segue igual ao que era no dia da tragédia, 27 de janeiro. Discute-se o futuro

FEPAM acredita que espaço da Kiss poderá ser reutilizado

Se depender da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM/RS), o espaço onde funcionava a Boate Kiss, no centro de Santa Maria (RS), poderá ser reutilizado novamente após passar por uma limpeza especializada. A opinião é do engenheiro Mário Kolberg Soares, da Divisão de Controle da Poluição Industrial da FEPAM, que vai orientar a empresa que fará o serviço.

Por acordo entre o Ministério Público Estadual (MP) e a Eccon Empreendimentos Imobiliários (dona do imóvel), a empresa recebeu um prazo de 15 dias, contados a partir de 9 de outubro, para informar quem contratou para o serviço de remoção dos resíduos. O projeto e a remoção deverão ser feitos sob responsabilidade da empresa ou profissional com a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Se as providências não forem tomadas, o MP poderá ingressar com uma ação civil pública para obrigar a Eccon a fazê-las.

A FEPAM vai orientar quanto aos procedimentos que devem ser adotados para a remoção dos resíduos. Uma empresa especializada deverá elaborar um projeto sobre como deve ser feita a limpeza  e para onde os resíduos serão encaminhados. Depois de finalizado, o projeto deverá ser encaminhado para aprovação da FEPAM.

A iniciativa para a solução do problema foi promotora Rosangela Corrêa da Rosa, que abriu um inquérito civil para apurar a existência dos produtos químicos tóxicos no interior da Kiss. Ela fez três reuniões: uma com representantes do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), sediado em Santa Maria, e da FEPAM; outra com Eccon, FEPAM e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-RS); e a última com a Eccon. Ela também já conversou com Mário Kolberg Soares, que acertou o apoio técnico que será dado à limpeza, como verificar a segurança dos trabalhadores que farão o serviço. “A toxicidade dessas substancias é maior por inalação ou por ingestão e também pode haver contaminação pela pele se mexer muito no local. Por isso, é necessário o uso de equipamentos de proteção individual no serviço”, diz Mário. 

Coleta de amostras, em março, apontou a existência de 17 produtos químicos. Agora, a limpeza
Coleta de amostras, em março, apontou a existência de 17 produtos químicos. Agora, a limpeza

Após ser realizada a limpeza, o local deve ser vistoriado por técnicos da FEPAM. Na visão de Mário Kolberg Soares, o resultado ambiental do incêndio na Boate Kiss não foi diferente em relação a outras ocorrências do mesmo tipo. “Tirando o número de pessoas que morreram, foi um resultado normal para acidentes desse tipo. Qualquer local que tenha plástico, cloro e carbono, se houver uma queima, vai resultar em dioxinas e furanos (substâncias tóxicas resultantes da combustão), em quantidades medidas em nanogramas (1 milionésima parte de um grama)”, afirma Mário.   

O pedido para a limpeza do local foi com base na coleta feita em março, dentro da boate, por profissionais do Cerest. Eles recolheram amostras de resíduos do interior da casa noturna e depois enviaram o material para análise da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), vinculada ao governo paulista. Os laudos da Cetesb relataram a presença de 17 produtos químicos no pó residual que está na Kiss.

O resultado da análise já levou o juiz Ulysses Fonseca Louzada, que preside o processo criminal da tragédia, a negar pedidos dos defensores dos réus para entrar na boate. Os riscos à saúde também fizeram com que não fosse realizada uma reprodução simulada dos fatos por peritos dentro da casa noturna. O magistrado chegou a pedir ajuda à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para saber se há possibilidade de ser feita uma “reconstituição virtual” dos fatos ocorridos na tragédia de 27 de janeiro deste ano.

De acordo com o especialista da FEPAM, o piso também deverá ser removido durante a limpeza. Depois do serviço, profissionais da fundação ainda poderão fazer uma análise do solo residual, para saber se houve contaminação. “A maior quantidade de toxinas saiu no momento do incêndio. Depois da análise feita pela Cetesb, não surgiu nada fora da expectativa. Se eu queimar pneus, vou liberar dioxinas e furanos no processo de queima.  O risco agora é muito baixo, inclusive, para o entorno da boate. Teria que haver um vento muito forte para espalhar a poeira ou uma chuvarada que pudesse arrastar esses resíduos. Não vejo por que o espaço não pode ser reutilizado depois da remoção dos resíduos”, afirma Mário Kolberg Soares, da FEPAM.

O especialista da FEPAM diz que já houve casos de ocorrências semelhantes no Estado, que depois demandaram o mesmo tipo de remoção de dioxinas e furanos. Ele informa que existem muitas empresas no Estado e no país capazes de realizar o serviço. Depois, o que for recolhido poderá ser levado para um incinerador ou para células de confinamento em aterros, opções que estão disponíveis no Rio Grande do Sul mesmo.

Quase nove meses depois do incêndio que resultou na morte de 242 pessoas, o imóvel que abrigava a Boate Kiss, na Rua dos Andradas, está do mesmo jeito ao dia seguinte à tragédia. Policiais militares vigiam em alguns turnos o local, que está cercado por tapumes e fechado. O que mudou foi a vizinhança. Uma empresa de formaturas, uma academia e uma vidente, que ficavam acima da boate, na mesma rua, trocaram de endereço.

A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria (AVTSM) tem um projeto para fazer um memorial no local da tragédia, mas a ideia não avançou. A prefeitura de Santa Maria também tem a intenção de desapropriar o imóvel. Mas, para qualquer movimento, dos pais ou do governo municipal, é necessária a liberação do prédio. Que pode começar pela limpeza.”

PARA OUTRAS REPORTAGENS DO JORNAL A RAZÃO, CLIQUE AQUI .

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. Teve gente que disse que tem um LAUDO pedido pelos orgãos de saúde que afirmaram que havia substancias tóxicas, cancerigenas, … quem tem este laudo? Por que ele nao foi divulgado e os especialistas da UFSM podiam analisar.
    Provocaram pânico na comunidade. Quem fez isto?
    Agora querem lavar e tá tudo certo?

  2. Não tenho nada a ver com isto, mas fazer um memorial no local não creio que seja uma boa idéia. Um local mais central, mais movimentado seria melhor.
    O especialista esqueceu de mencionar a relação entre dioxina e agente laranja.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo