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Mercedes, a comunista, gracias a la vida – por Carlos Dominguez

Não, eu não ia escrever sobre Mercedes. Não ia mesmo. Muitos já o tinham feito. Até que no primeiro domingo após a morte da cantora me deparo com a coluna de Rogério Mendelski intitulada “Mercedes, a comunista”. Poucas vezes li algo tão imbecil.

O colunista do Correio do Povo (a cada dia melhor) escreve abaixo do título: “A cantora Mercedes Sosa, falecida recentemente, só ficou famosa porque era comunista militante e filiada ao PC argentino”. Uau! O PC argentino não é um partido político com pequena representatividade eleitoral. Não. É uma máquina de propaganda stalinista capaz de alçar aos píncaros da glória uma cantorazinha qualquer. Impressionante a perspicácia do colunista. Nunca ninguém sequer imaginou tal coisa.

Tal raciocínio (talvez não possa ser chamado assim) me lembra um show da infame comunista Mercedes Sosa, por volta de 1988, no Teatro Avenida, em Pelotas. No local, um empresário peruano que enriqueceu vendendo máquinas agrícolas me confidenciava que quando escutava um agudo da cantora argentina, seguido de uma mudança de timbre para o grave, na mesma melodia, quase tinha um orgasmo. E da emoção que sentia ao ouvir músicas de sua distante Lima na voz doce e apaixonada da cantora. Nada mais comunista. Da mesma forma quando os filhos da elite agropecuária rio-grandense dançavam ao som dos carnavalitos de “la negra”, em plena Tertúlia Nativista de Santa Maria, entusiasmados e buscando uma boca companheira para fechar a noite e começar a vida. Tudo coisa de malditos comunistas que, ao seguir o raciocínio do colunista Rogério Mendelski controlam com mão de ferro a indústria fonográfica mundial, um sabido e notório antro de comunistas. Foram eles que fizeram Mercedes Sosa gravar a revelia da população pia e honesta 49 discos de alta vendagem no mundo todo. De tocar com os principais artistas internacionais (claro que todos devem ser malditos comunistas, né Mendelski) da ópera até o jazz, passando pelo pop e a música folclórica.

Mas talvez ai esteja o ponto. Mercedes Sosa nasceu em local pobre (que nojo, né Mendelski) aprendendo a cantar as coisas do povo. Povo. Povo pobre. E ela, a mais famosa cantora da América teve o disparate de ganhar dinheiro com sua arte. Incrível. Gravou compositores de todo o mundo, todos, a julgar pelo raciocínio de nosso colunista, comunistas de carterinha.

Uma artista com uma trajetória tão extensa deveria ser julgada por seus atributos estéticos. Engajada, sim. Mas engajada com quem. O que é a Argentina? Todos vivem bem ali. Ninguém passa fome? Por que a cultura regional era deixada de lado até o surgimento de artistas como Mercedes e Athaualpa Yupanqui? Quem detém o poder dos meios de comunicação (rádio, jornal, televisão, gravadoras) na argentina? Serão os comunistas? Dizer que o sucesso de Mercedes Sosa se deve única e exclusivamente a sua militância comunista é um disparate. Uma leviandade. Uma ignorância completa das qualidades artísticas da cantora. Na mesma época, quando a Argentina estava mergulhada na pior e mais cruel ditadura que a América do Sul conheceu muitas outras mulheres corajosas que empunharam o violão para falar das injustiças. Muitas morreram. Mortas por balas e por torturas. Nada mais do que um “modismo boboca” né Mendelski.

Bem pelo interior do interior, lá onde não há jornal nem tv, apenas rádio, em uma região do Rio Grande do Sul de nenhuma identificação com a fronteira sul, bem ao nordeste encontrei um velho senhor, descendente direto de italianos, tocador de acordeon e que fora músico na juventude. Ao perguntar sobre o que ele escutava, revelou que gostava muito de polcas e valsas, mas que tinha uma admiração especial por uma cantora argentina de chamamés chamada Mercedes Sosa, que conhecera de um vinil da década de 70. Por quê? Por cause de sua voz, única, e sua postura. Que postura, indaguei? Em defesa do povo, disse o gringo de quase 80 anos com os olhos azuis de felicidade. E la negra cantou de tudo. Guaranias, chamamés e zambas no início de carreira, descobrindo a voz, longe ainda da política. Depois canciones de protesto a exemplo do que se fazia no mundo todo na época (conhece Bob Dylan, Mendelski?). Depois canções, canções e canções inclassificáveis. De tudo um “poco ella cantó”. Com o que existe de mais POP na Argentina (e muito, muito, muito no Brasil: Caetano, Fagner, Chico Buarque, Vitor Ramil, Bete Carvalho e seu grande amigo e a segunda voz mais linda da América, Milton Nascimento) até o mais tradicional folclore (folk music). Mas isso tudo deve ser papo de comunismo. Bom mesmo é velho capitalismo. Esse sim. Apenas destrói o planeta. De resto, segue tudo bem. Fora o comunismo, né Mendelski! É certo escrever para quem se sabe muito bem o que deve se dizer. Papo torto. Gracias a la vida.

Cosa mui mala.

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4 Comentários

  1. Caro Claudemir, plagiando a personagem da Arlete Salles em Toma lá dá cá…
    PREFIRO NÃO COMENTAR MENDELSKI, pois desde que dixei o magistério, sistematicamente eu procuro ignorá-lo como já o fazia antes, e ainda me dou o direito de desacreditar tudo que ele escreve.
    Justifico: um homem xenófobo, um ser execrável porque tem na mão a oportunidade de poder “vomitar” suas barbaridades, e uma ameba emocional, pois nunca vi nada de bom sair daquele corpo.
    Falar que MERCEDES SOSA tenha sido só uma oportunista ligada ao comunismo, isso só para ser simplista, é pura arrôgância.
    E isto é padrão neste Jornalista. Ele não é torto, ele é defeituoso moral o que é bem pior. Abraços

  2. Caro Dominguez…
    O Mendelski falar mal da Mercedes talvez tenha sido a maior homenagem que ele (sem pensar) pode ter feito a “la negra”.
    Me preocuparia se ele falasse bem dela…deve ter sido para gente como ele que ela cantava a “la cigarra”.

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