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Somos mais do que compradores de livros – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

Aproxima-se mais uma edição da Feira do Livro de Santa Maria. Durante os dias 30 de abril a 15 de maio, a Praça Saldanha Marinho toma-se por livros. Junto a eles leitores, autores, estudantes, curiosos, ou simplesmente andantes. De fato, não podemos negar, todos nós passamos a fazer parte deste momento.

Tais como os ensinamentos de Aristóteles, somos todos peripatéticos, como ficaram conhecidos os seus discípulos, em razão de aprenderem enquanto andavam, ou por se acomodar para ouvi-lo embaixo de árvores e arbustos.

Neste contexto, são os livros que buscam espaço entre árvores, bancos e canteiros. Impossível termos a pretensa ideia de delimitar quantas histórias, estórias e personagens, reais ou fictícios, tomarão como endereço barracas e bancas montadas na praça.

A divulgação do evento este ano nos apresenta outros três personagens que anunciam a Feira: Eliz, que dormia, comia e twittava; Alfrodo, o senhor dos canais; e Liesel, a menina que não lia livro e os usava sob a cabeça para manter o andar elegante.

Criativa, instigante e mais do que apresentar a programação da Feira, a campanha cerca-se por um apelo à leitura, contextualizada aos tempos em que a maioria da juventude presa às telas da televisão, criam padrões contestáveis, distanciam-se da leitura, por conta de aproximarem-se de informações abstratas e vagas. Diferente do conhecimento, acabamos por gerar leitores e conteúdos superficiais.

Façamos diferente a primeira quinzena de maio, façamos-nos leitores, aprendizes e contadores de histórias, que estejamos todos a fugir da ignorância, fazendo das nossas páginas mais do que rascunhos. Sejamos mais do que compradores de livros. Parafraseando Bill Gates, meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive, a sua própria história. Se Fernando Pessoa nos disse: se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos? Eis que possamos, então, construir sonhos e contar histórias a partir das nossas leituras.  

Antes que termine meu espaço para o texto; só para encerrar conto-lhes que os livros de Liesel deixaram de estar sob a sua cabeça, foram apanhados por Eliz, que largou o pacote de bolachas, tirou o pijama e deixou de twittar para chamar Alfrodo, que desligou a televisão, e as acompanhou na leitura… Aqui uma outra história.

Vitor Hugo do Amaral Ferreira –  [email protected] e @vitorhugoaf

OBSERVAÇÕES: 1) O tema do artigo foi sugerido em três emails que o autor recebeu no final da semana passada. E 2) para quem quiser seguir a Feira do Livro no Twitter: @feiradolivrosm

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5 Comentários

  1. Andrea. Não sei se tu te referiste aos meus comentários quando fala em coisas “fora do esquadro”. A Feira do Livro é fundamental e é desnecessário falar aqui da importância deste evento. Eu fiz referência à campanha e a forma preconceituosa e moralista como ela trata os outros meios. Isto está explícito na arte e nos textos da campanha, ou vc não reparou nas orelhas de burro dos personagens que a compõe. É uma contradição vc dizer que a leitura “venha de onde vier é indispensável” mas que não entende os comentários fora do esquadro da Feira do Livro. Torço para que as pessoas comprem livros, os leiam, mas que saibam que quem não lê, por uma série de razões, não é ignorante ou burro.

  2. Acompanho todos os artigos,mas esse merece meu aval. A serenidade do marido e a dedicação desta campanha da filha me leva a registrar aqui um aplauso mais que especial.Somos todos ligados aos meios de comunicação. Cada um cumpre o seu papel na nossa vida, mas um período em especial deve sim, ser dedicado aquele que conseguimos pegar, levar para qualquer lugar,na terra, no ar, no mar, independente de sinais e de conecção. O livro não substitui nada.Somos sabedores que a leitura é indispensável a qualquer ser humano,venha da onde vier, quer seja em tela ou papel e usufruímos dela,em todos os segmentos.Portanto,não sei porque tantos comentários fora do esquadro “Feira do Livro de Santa Maria”.Eu li e entendi “perfeitamente” essa campanha. Um brinde ao livro. Tim tim.

  3. Vitor!
    Sensacional o texto.
    Agradeço os elogios em relação à campanha. Gosto da forma como tu trazes a importância da leitura em relação aos outros meios. Lembrando que esses não deixam de ter sua relevância também, mas não como substitutos do bom e velho livro, são complementares. Por isso, especialmente no período de 30 de abril a 29 de maio, a leitura pede licença para entrar em suas histórias.
    Abraço!

  4. Esta campanha não tem nada de criativa ou instigante. Ao contrário, ela está totalmente desplugada dos tempos atuais, das práticas contemporâneas e das diversas formas de conhecimento existentes. Trabalham com um conceito fechado de leitura e associa mídias como televisão e internet à ignorância. Os cartazes são ofensivos; colocam orelhas de burro em pessoas gordas que tuitam em meninas que se preocupam com a beleza ou em adolescentes que veem televisão. O que esse tipo de abordagem constrói? A campanha desconsidera a linguagem não verbal, ignora que existe leitura e conhecimento na arte, na música e na internet. A campanha considera somente a leitura letrada, acadêmica, o conhecimento que vem dos livros. Um analfabeto é um ignorante, então? E o conhecimento dele da vida, do ofício, das outras linguagens que ele exerce. Os tempos são outros, as formas de leitura mudaram; as mídias se complementam e os livros convivem com outras práticas de aquisição de conhecimento.

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