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Filosofia, justiça e política – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

A sinopse define o intuito da obra, que apresenta o curso “Justice”, ministrado pelo autor, um dos mais populares da Universidade de Harvard. No mínimo instigante quase mil alunos aglomerar-se para ouvir a reação dos grandes problemas da filosofia a prosaicos assuntos do cotidiano. Temas que instigam nossos valores morais, valores de justiça: casamento entre pessoas do mesmo sexo, suicídio assistido, aborto, imigração, impostos, o lugar da religião na política, os limites morais dos mercados.

Tenho algumas boas compras de livros, que sem indicação, ou qualquer outro tipo de referência, os adquiri no escuro, no impulso. Dessas surpresas, já tem alguns dias, instigado pelo título, retirei da prateleira da livraria e levei pra casa, a obra, até então pra mim desconhecida, de Michael J. Sandel, com o curioso título – Justiça: o que é fazer a coisa certa.

Nas linhas do texto, fala-se das habilidades que o mundo espera de nós, sem dúvida, mediar conflitos está entre elas. A obra em comento, que me faz dividi-la com os leitores deste artigo, desafia-nos a meditar sobre esses conflitos e mostra como uma abordagem mais segura da filosofia pode nos ajudar a entender a política, a moralidade e também a rever nossas convicções.

Neste contexto, já definiu Aristóteles que a sabedoria prática é um estado racional e verdadeiro para agir em relação ao bem humano, em que se congrega virtude moral com implicações políticas. Trata-se três das principais linhas filosóficas sobre o que é o certo. O utilitarismo que parte da maximização do prazer; a ideologia libertária defendendo que somos livres e diante de tal liberdade, sustenta a implementação de um Estado Mínimo; e a concepção kantiana que encontra no motivo a ação moralmente correta ou não.

Dentre as passagens da obra, aborda-se como saber se uma sociedade é justa. Para tanto, basta perguntar, como ela distribui as coisas que valoriza: renda e riqueza, deveres e direitos, poderes e oportunidades, cargos e honrarias.

Disso a indagação: quem merece o quê? As discussões sobre justiça e direitos são pautas sobre o propósito de uma instituição social, o que, por sua vez, reflete noções conflitantes a respeito das virtudes que a instituição deveria valorizar e recompensar.

Talvez não seja possível determinar o que é justo sem discutir o sentido da vida boa. Retoma-se Aristóteles, a finalidade da associação política é cultivar a virtude dos cidadãos, aprender a levar uma vida boa; permitir que as pessoas desenvolvam suas capacidades e virtudes para deliberar sobre o bem comum, desenvolver um julgamento prático, participar da autodeterminação do grupo, cuidar do seu destino.

Dilemas de lealdade tratam do ser livre e responsável apenas pelo que consente e como alternativa à concepção voluntarista do indivíduo. O certo encontra-se em primazia sobre o bom. Os princípios de justiça que definem nossos direitos e deveres devem ser neutros no que tange à definição de vida boa. Para chegar à lei moral Kant argumenta que é necessário abstrair interesses e objetivos contingentes. Para deliberar sobre justiça, Rawls sustenta a renúncia dos nossos apegos e convicções particulares, das quais não sabemos a quem afetam. 

Eis novamente Aristóteles “só realizaremos plenamente nossa natureza como seres humanos se vivermos em uma pólis e participarmos da política (…) A virtude moral resulta do hábito, tornamo-nos justos ao praticar ações justas, comedidos ao praticar ações comedidas.” Completo: o que precisamos é coragem!

Vitor Hugo do Amaral Ferreira

[email protected]

@vitorhugoaf

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