KISS. A carta de uma mãe ao filho que morreu. E recados claros às autoridades, inclusive ao prefeito

Silvio Beuren foi um dos jovens mortos vítimas da tragédia de 27 de janeiro. Um dos 242. Sua mãe, Irá Marta Mourão Beuren, já escreveu duas cartas públicas. Uma foi publicada no jornal A Razão, pouco depois da tragédia. Agora é a segunda, decorridos quatro meses e pouco do crime (ou alguém tem outra palavra para qualificar o ocorrido?).

Ela representa as inúmeras famílias inconformadas (boa parte delas, inclusive por temperamento, caladas – o que não quer dizer inermes, nem muito menos indispostas à luta). Nesse texto, que o sítio publica com a autorização dela, dona Irá se refere ao comportamento de autoridades, do Legislativo, do Judiciário e até ao prefeito, falando sobre a viagem dele à Espanha, ora em curso.

Se trata de uma carta a alguém que, na memória de dona Irá, está bem vivo. E que precisa ser informado e esclarecido do que acontece por aqui. Confira você mesmo, a seguir:

“Filho querido Silvinho – carta n° 2

Passados cento e vinte dias da tua partida para a eterna viagem, a questão espaço e tempo passou a ser diretamente proporcional a dor, a inconformidade, a vergonha, a revolta… Meu amado filho! As coisas que estão acontecendo neste fatídico plano terreno é algo surreal.

Em nível de cidade, a prefeitura lançou a campanha “Sorri Santa …Maria”. Neste ínterim, morreu mais uma vítima. A linda menina Mariana Vielmo. Muito triste!

Em relação à Câmara de Vereadores (casa do povo) foi criada uma CPI da ala governista para apurar responsabilidades administrativas. O presidente do legislativo está silencioso em relação ao caos. Acredito que o mesmo deixou de levar em consideração a expressiva votação que obteve nas urnas! O mais votado. Tu sabes! A mãe aqui, fez toda a família votar nele! Talvez, este silêncio esteja relacionado ao cargo que ocupou na secretaria de mobilidade urbana.

O prefeito vai viajar para a Europa. “Cá” entre nós, meu filho! Com a situação caótica do município, de sã consciência, alguém pode participar do Encontro Mundial de Prefeitos lá na Espanha? E ainda ter a tranqüilidade de dizer: – “Eu sou o prefeito da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Brasil, onde aconteceu a grande tragédia que sepultou 242 jovens e deixou mais de seiscentos feridos”.

Filho, não reconheço o prefeito como meu representante nesta viagem. Por isso, em minha opinião, ele deveria ir apenas como cidadão comum, turista, para respirar aliviado os ares do primeiro mundo, com custos financeiros bancados do próprio bolso.

Em relação aos quatro presos houve a mais cruel e vergonhosa manobra dos advogados na Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Porto Alegre. O advogado do Kiko é filho de um desembargador aposentado. Cujo o mesmo, é…” 

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