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Enquanto uns jogam bola… – por Daiani Ferrari

Quando eu era criança, não eram muitas as coisas que me afetavam. Minha avó paterna morreu e a única coisa da qual me lembro é de dormir na casa da outra avó e no meio da noite pedir para ir ao banheiro e ela puxar um penico que estava embaixo da cama e dizer que eu já podia fazer. Lembro de estar sentada e olhar para cima e ela estar ali parada, me olhando enquanto eu fazia xixi. Num penico.

Tenho a impressão de que quando crescemos, o mundo bate a nossa porta e nos dá um choque de realidade. As pessoas morrem. Algumas matam antes de morrer. São falsas. Não são amigos verdadeiros. O mundo é dos espertos. Quem ri por último ri melhor e por aí vai. Quando somos grandes, sabemos que essas coisas existem. Sabemos do que nos precaver, mas já vira uma terceira realidade quando as coisas acontecem conosco ou perto de nós.

No outro sábado, saí com as meninas, a criança e o cachorro, e o marido saiu com a filha. Como de costume, foram até a UFSM, brincaram, jogaram bola e voltaram pela faixa velha de Camobi. Viram a movimentação gerada pelo cara que matou a mulher a tiros, mas em momento algum ele imaginou que fosse algo do tipo. Passou pela bagunça e a vida seguiu. Na quarta-feira, um homem matou uma mulher e desovou o corpo no estacionamento do super em que sempre fazemos compras. O marido passou numa cena de um crime dos mais covardes e na quarta podíamos estar fazendo compras e ver um corpo ser jogado de um carro.

Antes a gente, digo nós todos da cidade, só sabíamos dessas coisas dos jornais, da televisão. Agora estamos estampados nas capas desses mesmos jornais, porque isso está acontecendo conosco. Virou nossa realidade. Não que antes não nos comovêssemos, não nos afetasse. Dois homens matarem duas mulheres de forma brutal sempre afeta, mas agora está muito perto. Mesmo que não seja comigo e nenhum dos meus amigos ou familiares, é uma violência imensa e faz com que não nos sintamos mais seguros na nossa velha Santa Maria. Até pouco tempo só os grandes centros eram palco dessas barbaridades.

Não tenho outro comentário a não ser que Santa Maria está ficando bizarra, mas na condição de uma eterna otimista, acredito que isso é só uma fase e que vai passar. Nessas horas dá vontade de ter a idade do Miguel, filho de uma daquelas amigas de sábado, que só se preocupa em jogar a bola do Mickey Mouse o mais alto possível e em não cair no barranco do campo atrás da Basílica da Medianeira. Um instinto de proteção bem diferente do que estamos começando a desenvolver.

Lendo as notícias nas redes sociais, alguém perguntava o que mais falta acontecer em Santa Maria. Para mim, não precisa de mais nada. Deixemos assim para evitar mais surpresas.

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