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Sobre eleições, tolerância e paciência – por Leonardo Foletto

Interrompemos o horário eleitoral permanente para… falar de política. Sim, não adianta, caro leitor do ClaudemirPereira.com.br: não há como evitar falar de política hoje, faltando quase duas semanas para o 2º turno mais disputado e polarizado dos últimos tempos, certamente o mais acirrado que eu, na minha inexperiência dos 28 anos, já presenciei. Está nas propagandas dos rádios, das TV, nos santinhos, caminhadas, bandeiras e camisetas na rua, nos papos do café, ônibus, do bar, na fila do restaurante – além, é claro, da onipresença do assunto nas redes digitais, Facebook e Twitter principalmente, a não ser que a sua “bolha” esteja cansada de conversar sobre o assunto tamanha a guerra que virou as eleições da última semana pra cá

A conversa cotidiana sobre política tem tudo para ser extremamente saudável para todos. Afinal, somente ao conversar e escutar que criamos um debate produtivo sobre os prós e contras de todos os candidatos que estão concorrendo nesse pleito. É só nesse diálogo que forçamos a nossa “jovem” democracia, tão assombrada pelos ecos dos regimes autoritários de décadas passadas, a amadurecer, saber mais de seus direitos, deveres e limites, o que pode e o que não dá pra ser feito. Só com informação confiável e debatida é que os argumentos se tornam mais fortes e racionais, com menos achismos e emoção na hora da discussão – nada contra aos que põem os nervos à flor da pele numa conversa qualquer, mas política parece ser um dos raros casos em que convém mais pensar com a cabeça do que com o coração.

Mas para fazer isso, exige-se disposição e paciência. Especialmente nas redes sociais, onde, como escrevi semana passada, os algoritmos tem nos feito dialogar cada vez mais com os “nossos”, que compartilham de uma mesma visão de mundo e muitas vezes os mesmos candidatos, o que torna ainda mais raro a situação de debate entre opostos. Pois bem: desiludido com o resultado do 1º turno, com aquela onda reacionária de deputados eleita, resolvi essa semana ser mais “incisivo” no debate e dar mais ao debate. Testei primeiramente com um comentário no Facebook sobre como ficou difícil, mesmo sendo um otimista, acreditar em menos preconceito e mais igualdade com deputados tão raivosamente contrários entre os mais eleitos do país.

Na minha “bolha”, houve curtidas, alguns comentários que concordavam – vários dizendo “estou cogitando morar no Uruguai”, desilusão compreensível e uma fuga fácil, como se abandonar o país numa hora tão importante fosse resolver tudo como mágica. Também apareceram alguns comentários contrários, um deles fazendo uma pergunta que achei pertinente: “A sociedade só será justa se eleger os candidatos da tua preferência?”. Respondi que não, que uma sociedade mais justa se faz com mais segmentos sendo representados e menos preconceito contra o outro, coisa que os citados no comentário não representam, pelo contrário: defendem abertamente posições preconceituosas contra tudo que é diferente da opinião deles, ou ainda a volta da ditadura militar, caso de Jair Bolsonaro.

O debate prosseguiu por mais alguns comentários até chegar ao assunto ditadura militar. Aqui, a disposição e paciência que até então tinham me revestido começaram a pesar. O mesmo que fez o comentário anterior disse: “Se tu ouvisse os argumentos de quem defende que o golpe de 64 foi necessário veria que existiam motivos para tanto”. Juro que já tentei entender quem defende o golpe e a ditadura militar, indo atrás de fontes de diversos lados e tentando ver os pontos positivos (se houve algum) do regime. Mas nunca me mostraram informação suficiente pra isso, e eu portanto não consigo acreditar na visão, expressa no comentário, de que o golpe foi “necessário” para evitar uma “ditadura comunista”. Não há comprovações aqui, só achismos e interpretação – que até mesmo o grande escritor e semioticista Umberto Eco defende que tem limites. É um dogma, e contra dogmas não interessa que se mostre “n” fontes credíveis confrontando informações, pois a pessoa não vai ouvir, muito menos nem dar chance de entender “outros lados”: pra ela, é indiscutível, ponto final.

Foi assim que a discussão do post terminou. Minha disposição em debater e sair da “bolha” progressista foi sugada pela perspectiva dogmática de um assunto tabu – e também pelo tempo, afinal não tenho todo o tempo disponível para informar sobre algo que o outro talvez não vá nem querer tentar saber. É essa situação que parece estar limando o debate de ideias, racional, nesse período de 2º turno nas redes. A disputa está tão acirrada, mas tão acirrada, que estamos virando todos torcedores mais do que eleitores. E não só torcedores “comuns”, que vibram com seu time mas entendem quando ele não vai bem e quando cometem falcatruas: estamos falando aqui de uma massa cada vez maior de fanáticos. Aqueles que se entocam na bolha dos seus e não fazem o trabalho de ao menos questionar aquilo que se informam, algo que também os seus não farão, já que estão todos confortáveis com a mesma opinião. E aí rola só achismos, interpretações sem quaisquer limites que deixariam até Eco confuso. De ambos os lados.

Torcemos para que esse processo seja um mal necessário e que nas próximas eleições a nossa “jovem” democracia já esteja mais madura. Ou então aumentemos a dose de paciência (e também de persistência) para o debate eleitoral permanente que se seguirá pelas próximas semanas.

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