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25 anos em um dia – por Leonardo Foletto

leonardoDomingo passado, 9 de novembro, fez 25 anos que caiu o muro de Berlim, vocês devem ter visto em todos os noticiários tradicionais, alternativos, redes sociais, televisões, rádios, etc. Estava a viajar e fui visitar um amigo na cidade, e só estando lá me dei conta da data, e por consequência do tremendo cerimonial que os alemães prepararam para o aniversário da queda do muro. Segue, então, um relato caótico com algumas impressões do que vi.

– Cheguei em Berlim no sábado, vindo do interior da Alemanha (Weimar, cidade da famosa universidade Bauhaus) com a mudança que meu amigo trazia para a cidade. Estávamos no carro de um amigo alemão desse meu amigo – aliás, um amigo que falava português porque tinha sido funcionário da antiga Alemanha Oriental (RDA para nós, DDR para os alemães) na embaixada de Moçambique. Ele contou que, como muitos funcionários da máquina estatal comunista alemã, ficou perdido depois da queda do muro, fruto de um processo de abertura, negociações e protestos que vinha já de algum tempo, mas que, de fato, ocorreu de supetão.

– E que foi impulsionado por um mal-entendido: numa conferência de imprensa, um membro do governo da Alemanha oriental (comunista) queria anunciar que as restrições paras viagens aà Alemanha Ocidental (capitalista) estavam abolidas. Aí os jornalistas perguntaram quando, e o cara respondeu, meio sem saber: “… imediatamente”. Não era para ele responder isso, já que a abertura seria feito de forma devagar. Mas a fala foi o suficiente pra milhares de pessoas marcharem aos postos fronteiriços, pedindo a abertura, o que pegou os militares e o governo de surpresa. Na dúvida do que fazer, e pressionado pela multidão, abriram a fronteira na Rua Bornholmer (algumas quadras do local da foto que abre essa coluna), às 23h. No mesmo dia começou a demolição do muro. Em pouco tempo cairia a RDA, pra felicidade de muita gente, “ostenostalgie” – uma expressão em alemão que quer dizer “nostalgia do oeste” – de outros tantos.

– Chegamos em três no carro, por volta das 16h, no apartamento que meu meu amigo vai morar. Que é na frente do muro, próximo ao Mauer Park, em Prentzlauer Berg, e estava tomado de gente por todos os lados, alemães de todas as idades que percorriam o antigo trajeto do muro como um ato simbólico de revisão histórica de um passado que a todo tempo relembram e expõem como forma de se conscientizar para os perigos do presente (e do futuro).

– Mas não percorriam só por isso: havia uma programação especial para a data. Os 8000 mil balões como o da foto estavam em toda a extensão do muro pela cidade (66,7 Km) e foram soltos cada um por seu “padrinho”, cidadãos que foram escolhidos para o ato e que escreviam mensagens (de paz, amor, ou qualquer coisa) para serem lidas (ou não) nos céus de Berlim. Havia diversos telões espalhados pela cidade mostrando vídeos sobre a RDA e o processo que levou a queda do muro, assim como uma programação de shows, falas de políticos, exposições temporárias, entre outras atividades que incluíam até mesmo banquinha de souvenirs espalhadas pelo trajeto e que vendiam todo tipo de material relacionado à data, com destaque para miniaturas das estruturas que continham os balões.

– A programação oficial dos 25 anos do muro durou dias e culminou com um ação no domingo, 9, às 19h, no Brandeburg Tor (Portão de Brandeburgo), marco histórico da capital alemã e que também era dividido pela Berlin Mauer. A cerimônia teve seu ápice por volta das 20h, quando os balões foram soltos ao som de “Ode to Joy”, da 9º sinfonia de Beethoven, tocadas por uma orquestra comandada pelo maestro Daniel Baremboim. Horda de alemães lotavam o portão e todo lugar que tivesse resquício do muro, fazendo com que a região próxima à cerimônia parecesse uma grande festa de ano novo com gente de todas as idades nas ruas. Tudo muito lotado, mas também organizado e ordeiro como de costume no país de Goethe.

– Muita gente também no metrô, num aperto que me lembrou a linha vermelha do metrô de São Paulo no horário das 18h sentido Itaquera (Zona Leste): dificuldade de se segurar, centímetros para se mover. A diferença era que nessa ocasião havia menos gente voltando para seu trabalho e mais indo se divertir, então o clima geral era um pouco mais descontraído. Eu e meu amigo estávamos no metrô em sentido contrário ao Brandeburg Tor um pouco antes da cerimônia e pegamos uma parte do aperto. Quando fomos descer, numa estação fora da “muvuca” da festa, um senhor risonho e de cabelos brancos falou, em alemão, para meu amigo: “mas não tem muro aqui!”.

– Não procurávamos o muro nem a festa, mas sim o lançamento de uma “graphic novel” de um quadrinista alemão chamado Mawill, “Kinderland”, que fala sobre a infância alemã na DDR. Depois do lançamento – organizado em uma interessante leitura dramática com efeitos sonoros e projeções dos quadros do livro na parede – fomos percorrer um trajeto do muro. Não havia mais balões, mas algumas carcaças das estruturas que os acompanhavam, já que boa parte, pra não dizer todas, foram levadas pelos que estavam presentes na festa como souvernirs do momento. Que, por sinal, pra alguém que era muito novo pra saber de fato o que acontecia em 1989 (como eu), foi como uma aula de história a céu aberto e com diferentes pontos de vistas sobre os fatos, como quem sabe todas as aulas poderiam ser também.

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