Caminho Livre

Vamos celebrar o Diwali? – por Bianca Pereira, de Chandigarh, Índia

bianca-luzes-na-cidadeNo dia 30/10 foi o Diwali, ou Deepavali ou ainda Deepawali, como você quiser escrever. É uma festa religiosa hindu, conhecida como o festival das luzes. Os indianos falam que é uma mistura de natal e ano novo aqui, é o feriado mais importante e tem até troca de presentes envolvida. Todo mundo fala superbem do Diwali, mas a minha experiência não foi tudo isso.

O feriado é comemorado por hindus, sikhs e jains em todo o mundo, no primeiro dia do mês lunar Kartika, que ocorre no mês de outubro ou novembro. Eles enfeitam as casas com luzes (foto acima) – tipo essas de Natal, que colocamos nas árvores e nas sacadas, eles fazem o mesmo nas sacadas -, que significam a vitória do bem sobre o mal dentro de cada ser humano.

É o período do ano em que eles fazem a maior parte das compras e tem muitas promoções. Sim, tipo nosso Natal mesmo, porém as roupas são para eles mesmos e o que eu vi darem de presente foram doces, tipo na páscoa. Mas da mesma forma que a comida temperada aqui é MUITO temperada, os doces são MUITO doces. Então, é a época do ano em que as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e lançam fogos de artifício.

No Escritório, o expediente terminou às 4 da tarde e aí, antes de dançar, os desenhos foram feitos para decorar o ambiente
No Escritório, o expediente terminou às 4 da tarde e aí, antes de dançar, os desenhos foram feitos para decorar o ambiente

Meu Diwali começou na sexta-feira no escritório (ah sim, eu contei que tenho um emprego novo? E sim, eu sei que estou devendo um texto explicando o que aconteceu), onde trabalhamos até as 16h e depois fomos decorar o escritório com balões e desenhos. Montamos duplas e fizemos os desenhos de Rangoli na entrada do escritório. Depois fomos dançar, sim, isso mesmo, dançar as 17h, dentro do escritório. E pelo que eu entendi festas com danças são comuns aqui dependendo do grupo de pessoas. Aas que eu trabalho agora são bem diferentes das do clube que eu trabalhava antes; elas não vão para clubes, ficam mais com a família e para poderem dançar é em festas familiares ou no escritório mesmo. Por último, eles jogaram alguns jogos como mímica e um de música, mas como foi tudo em hindi eu não joguei e não entendi nada! As 19h pedi para um amigo me buscar e fui jantar e aproveitar minha sexta-feira.

Os desenhos de Rangoli podem ter qualquer tamanho e podem ser feitos de uma vasta quantidade de materiais. No Diwali geralmente é utilizado areia ou um pó bem fino de diversas cores. A maioria dos desenhos é de padrões simétricos de animais ou flores.

Minhas colegas de apartamento estavam em Jaipur no fim de semana para aproveitar o feriado (tivemos a segunda de folga!), eu havia prometido a um amigo (o fotógrafo do lugar que eu trabalhava antes) que passaria o diwali com ele, antes mesmo de saber o que era diwali e se valia a pena passar aqui na cidade (erro de iniciante, fazer o quê?!). O sábado foi tranquilo, aproveitei com amigos e depois sai pra dançar, nada demais. Domingo que foi o dia do festival, não fizemos nada o dia todo. Lá pelas 16h chegaram alguns amigos dele e eles passaram o tempo todo falando em hindi, depois fomos olhar tv, em hindi… pois é, superdivertido, mas nem um pouco. E não adiantou pedir para falarem em inglês (o que, tirando a mãe desse meu amigo, todos falam, continuaram falando em hindi e ninguém traduzia) o pior é que ficaram de cara comigo porque eu não estava me inserindo na conversa (que eu não entendia, mas ok).

Os deuses e o “puja”, um altar na casa em que a blogueira esteve: parece que nem tudo deu certo, pelo menos para ela
Os deuses e o “puja”, um altar na casa em que a blogueira esteve: parece que nem tudo deu certo, pelo menos para ela

Pelas 20h estávamos eu, três amigos e a mãe de um deles para fazer o puja, o ritual de oferenda às deidades que se faz no diwali, geralmente com a família, para convidar a Deusa Lakshmi para as casas. Primeiro acendemos velas por todos os cantos da sacada/terraço e janelas, sem deixar nenhum lugar escuro. Depois são feitos os “puja” direcionados a Lakshmi. E depois saímos para estourar fogos de artificio.

Eu não sou uma pessoa religiosa, na verdade eu gosto é de questionar a tudo e a todos. O puja foi interessante. Ver a devoção deles pelos deuses é muito lindo e estranho. Eles cantam músicas e seguram um prato com velas nas mãos e fazem círculos em torno do que podemos chamar de altar para os deuses. Dão comida na boca das pinturas e colocam o ponto vermelho na testa deles também. A família que eu estava é bem religiosa e leva todo o processo a sério. Claro que eu não entendi quase nada e ninguém me explicou nada também.

Depois disso jantamos uma típica comida indiana, arroz (com pedaços enormes de cebola, óbvio que eu não consegui comer!), uma espécie de feijão e chapati, (uma espécie de panqueca, vou falar mais disso nos próximos posts) e olhamos mais tv em hindi. Depois saímos para encontrar outros amigos desse pessoal que eu estava para estourar os fogos.

O negócio é o seguinte: vocês já estiveram em outro pais ou com pessoas que não falam a mesma língua que vocês? Ou pelo menos que falam sobre um assunto que vocês não têm ideia sobre? Pois é, podemos aguentar algumas horas isso, certo? Mas agora um dia inteiro sem ninguém se importar se vocês estão entendendo ou não? E ainda reclamando que você não está dizendo nada? Chega uma hora em que você cansa de tentar explicar e fica na sua, pega seu telefone e faz qualquer coisa. E eu não sou muito de fogos de artificio, não vejo a graça em fazer muito barulho e queimar os dedos, especialmente se já não estou me sentindo confortável e tenho alguns receios sobre as pessoas ao meu redor.

No fim, estava tão exausta de tudo que decidi cortar a noite na metade e ir pro meu apartamento, vazio, e não ver ou falar com ninguém além da minha mãe. Só queria um tempo para falar com ela e dormir. Na segunda-feira eu deveria estar com esse meu amigo ainda, porém decidi não falar com ninguém e aproveitar a casa só para mim no feriado. As meninas iriam voltar só na terça-feira de manhã cedo.

Quero deixar claro que porque eu não gostei do festival não significa que ele seja ruim. Eu tive uma péssima experiência, mas com as pessoas certas se pode ter um ótimo diwali. Falando com outros estrangeiros que passaram na cidade com indianos eles me falaram que o pessoal explicou tudo o que estavam fazendo, que eles jogaram cartas, dançaram, comeram bem, beberam e se divertiram. De lição levo que é melhor decidir como curtir qualquer festival quando se tem noção do que ele é e o que se faz e depois de saber o que os teus amigos vão fazer, não prometa nada sem saber antes o que está acontecendo.

CONFIRA DOIS VÍDEOS DA FESTA DO DIWALI

(Quem quiser saber algumas das histórias do diwali, continuem lendo!)

Segundo a crença hindu, a luz de uma só lamparina pode acender milhares de outras, sem perder o seu brilho, assim como o amor, quanto mais é oferecido mais dele é abastecido a quem o oferece. Durante o Diwali se celebram a renovação da vida e a abertura de um tempo de fartura de saúde, amor e realizações prósperas para a família, o país e toda a humanidade.

Uma das histórias é de que Sri Rama, um dos avatares de Vishnu, derrotou o mal encarando em Ravana, que havia raptado sua esposa Sitadevi. O povo de Ayodhya (a capital do seu reino) comemorou com Rama e pediu por iluminação com fileiras (avali) das lâmpadas (Deepa), dando assim o seu nome: Deepavali.

Já no Jainismo, Diwali é como o nirvana do Lord Mahavira, que ocorreu em 15 de outubro, 527 aC. Para os sikhs, o Diwali é o retorno a cidade de Amritsar do iluminado Guru Hargobind (1595-1644), que havia sido detido no Forte em Gwalior sob as ordens do imperador Mughal, Jahangir (1570-1627). Como o sexto Guru, do Sikhismo, Guru Hargobind Ji, foi libertado da prisão – juntamente com 53 hindus Kings (que eram mantidos como prisioneiros políticos). Após isso ele foi para o Darbar Sahib (Templo Dourado) na cidade santa de Amritsar, onde foi saudado pelo povo com tamanha felicidade que acenderam velas para cumprimentar o Guru. Devido a isto, sikhs referem frequentemente que Diwali também como BANDI Chhorh Divas – “o dia da libertação dos detidos”.

E aqui vai uma das orações que eles fazem, achei o que eu imagino que é a tradução de um…

“ORAÇÃO DE LAKSHIMI

Lakshimi, Deusa da Prosperidade e da Abundância, abro meu coração e meu lar com muito amor e exuberante alegria para recebê-la no meu Templo interno e no Templo da minha morada.

Que suas bênçãos cheguem a mim trazendo a pureza da flor de lótus, a harmonia nos meus relacionamentos e a prosperidade em tudo o que eu executar com fé, entusiasmo e altruísmo.

Que o aspecto feminino de Deus em todas as suas manifestações me tragam intuição, percepção, dedicação e receptividade, para que eu possa realizar todas as minhas atividades com alegria e felicidade.

Que sua majestosa beleza se reflita em meus pensamentos para que eu possa sentir, falar, ouvir e agir somente com a consciência da minha Presença Divina.

Que a sua Luz me envolva dentro de um campo magnético de Abundância para que eu possa ter tudo o que necessito e expandir essa minha Prosperidade para todos.

Tudo o que me for ofertado eu abençôo e consagro para a realização do Plano Divino.

Amada LAKSHIMI, bem vinda à minha vida e ao meu lar!

Eu Sou, Eu Sou, Eu Sou a manifestação de tudo o que desejo neste instante, hoje e sempre!

SHRIM!

Que as bênçãos de Prosperidade e Abundância de LAKSHIMI iluminem você, seu lar e seu trabalho, hoje e sempre.”

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