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Caminho Livre

Ah o sul! (2) – Gokarna, Kudle beach e costumes diferentes – por Bianca Pereira, de Chandigarh

Gokarna foi nossa próxima parada, chegamos no dia 4 de janeiro e fomos embora no dia 6. Foram 5 ônibus para chegarmos lá! Todos do jeitinho que aparece em um dos vídeos. Foi ali que escutei algumas frases em português de pertinho em meses, mas não achei ninguém para conversar. A maioria dos estrangeiros eram famílias inteiras de alemães ou franceses.

Gokarna é uma cidadezinha conhecida pelos seus templos (pelo menos 7) e religiosidade, com a principal deidade sendo Lord Shiva. É conhecida por ser um dos 7 centros de peregrinação hindu, e fica no distrito de Uttara Kannada, no Estado de Karnataka. A cidade não é das mais lindas, nem das mais limpas, poeira por todo lado, mas tem um “quê” português na arquitetura das casas, nos bolos, nos pãezinhos caseiros que me lembraram de casa.

As praias são pouco usadas pelos locais, e apenas recentemente começaram a ser conhecidas pelos estrangeiros. São de uma areia clara, uma água transparente e com poucas ondas. Esse foi o nosso paraíso por dois dias e a vontade de voltar lá e nunca mais ir embora, continua.

A praia de Gokarna em si é considerada sagrada pelos locais. Ficamos duas noites na cidade e vimos as pessoas saírem de um dos templos e irem se banhar nas aguas do mar, exatamente no mesmo local, nesses dois dias. Nesse ponto nos falaram que as águas são bem sujas e que muitas pessoas só se banham lá.

No primeiro dia, assim que chegamos, procuramos uma pousada e nos mandamos para a praia. Procuramos ficar longe do local de banho, queríamos respeitar as crenças deles, ainda mais porque estávamos as duas de biquíni e não queríamos ninguém nos encarando. Porém, o que era longe para nós não era longe o suficiente.

Estávamos as duas tranquilas tomando banho de sol quando o pessoal começou a chegar para o banho, pelo menos 30 pessoas entre adultos e crianças, todos correndo, gritando, se atirando água, como se estivessem num parque aquático. É contagiante de ver! Quando nos demos por conta estávamos sendo encaradas por alguns senhores mais velhos que decidiram se banhar perto da gente. Estávamos na dúvida de mudar de lugar ou não quando um estrangeiro que parece que conhece o lugar muito bem nos chamou atenção e pediu para irmos mais para o fim da praia.

Claro que saímos de lá o mais rápido possível e aproveitamos o resto do dia mais para o cantinho da praia vendo esse monte de gente ir e voltar dos templos. Por sinal, as mulheres se banhavam com o sari tradicional (nos vídeos dá para ver as roupas usadas pela população das cidades), enquanto os homens se banhavam de cueca ou algo parecido com isso (bem estranho de se ver!).  Passamos o resto da viagem conversando sobre o que aconteceu e nos fizemos diversas perguntas para as quais ainda não temos respostas.

Por mais que tenhamos a consciência de que estamos em outro país, com outros costumes, acabamos levando os nossos costumes para lá também. Tínhamos a consciência de que, 1) biquínis são comuns em alguns lugares na índia, principalmente nas praias de Goa, cheias de turistas, mas isso não impede os locais de ficarem constrangidos ou de encarem de uma forma que nos constrange; e 2) aquele era uma área de banho e os locais estão sempre indo e vindo. Depois que saímos de Anjuna já havíamos começado a pensar em como nós, estrangeiros, acabamos meio que suprimindo as crenças e costumes de algumas sociedades pelo nosso próprio prazer.

Em Gokarna, por mais estrangeiros que tivessem lá, as pessoas que vimos respeitavam ao máximo o local, nada de ir para praia de biquíni ou roupas curtas de mais, muitos andavam no calor com calças e camisas para não chamar atenção. Em Anjuna a cidade era dos estrangeiros, tomamos conta de tudo por lá. Ficou o pensamento do quão difícil é realmente entender um lugar estando apenas de passagem, por mais que tenhamos lido sobre ele e sabemos sobre sua cultura, sempre colocamos o que estamos acostumados na frente e agimos dessa forma até algo ou alguém nos mostrar que não é bem assim.

No segundo dia acabamos indo para Kudle beach, o nosso pequeno paraíso no sul da Índia. A praia fica a poucos quilômetros da cidade de Gokarna, subindo um morro e descendo umas escadas de pedra cercadas de árvores. A praia não possui casas ao redor, apenas alguns restaurantes e hotéis. A agua é transparente e rasa enquanto a areia é clara e limpinha. Passamos todo o dia 5 de janeiro lá e a manhã do dia 6 também. Saímos contrariadas e só porque eu precisava pegar o voo em Kochi no dia seguinte.

Lá conhecemos duas pessoas de uma cidade pertinho que estavam vendendo colares e pulseiras. No primeiro dia que estávamos em Kudle beach conhecemos uma menina, 22 anos e com dois filhos. Ela é linda! Na verdade não parecia ter mais de 17, falava inglês muito bem e estava com o neném mais novo no colo. Ficamos um tempo conversando, não achamos nada que tivéssemos gostado para comprar e na verdade estávamos num orçamento fechado para conseguirmos durar a viagem toda com dinheiro. Ela nos contou que parou de estudar para cuidar das crianças e que estava fazendo de tudo para que eles estudassem e pudessem continuar na escola. Não consigo lembrar seu nome, apenas que começava com “A” e que ela tentava fugir da maioria das nossas perguntas.

No segundo dia que passamos lá encontramos com um menino, se não me engano tinha entre 15 e 18 anos, também vendendo colares e pulseiras. Com ele eu percebi como a questão de cor é levada em diferentes lugares.

Ele não nos disse seu nome, mas nos falou que os estrangeiros da praia haviam apelidado ele de “cara de macaco”. A minha amiga da Romênia achou engraçado e queria saber porque, mas ele ficou obviamente constrangido e mudava de assunto toda vez que ela perguntava o motivo do apelido. Eu entrei em choque na hora, por chamarem ele assim, por ele se reconhecer melhor por esse apelido porque os estrangeiros no local achavam que o representava melhor e porque a minha amiga não parecia entender o porquê da minha cara e da reticencia dele em responder.

Tentei conversar diversas vezes com as pessoas daqui sobre cor, mas sempre voltamos para a discussão de castas, e eles acabam dando um nó na minha cabeça e não respondendo nada (como quando pergunto sobre política). Quando o menino se afastou expliquei o porquê me chocou tanto o nome e porque achava que ele não havia respondido. Então foi a vez dela de entrar em choque, ela não conseguiu entender como um país do tamanho do Brasil, com tanta mistura de povos e crenças, e com uma população onde mais de 50% se considera negra (de acordo com o IBGE) poderia ver diferença em cor.

Porém na Romênia a população negra é pequena e eles teêm sérios problemas com os considerados “ciganos” na região. Tentei fazer um paralelo entre os dois, mas acho que não consegui explicar em que “pé” está o racismo no Brasil, e não sei se saberia explicar sem deixar passar algum ponto importante. Passamos o resto do dia as duas perdidas em pensamentos.

No dia 6 fomos para a praia de manhã e ao meio dia voltamos para o hotel para tomarmos um banho rápido e irmos pegar um dos primeiros ônibus para Kochi. Foram 3 ônibus, sendo um deles um “sleeper” onde metade dos acentos são camas. A Jules saiu do ônibus antes que eu, já que ela teria que pegar outro ônibus para ir para a próxima cidade, continuando a viagem. Eu desci no aeroporto de Kochi, e depois de uma parada em Mumbai cheguei em Chandigarh no dia 7 de janeiro direto para o apartamento novo.

A viagem me deixou muito no que pensar ao mesmo tempo que me deixou maravilhada com a simplicidade das pessoas no sul do país, com a língua tão diferente (sim, para nós ficou bem óbvio que não era Hindi ou Punjabi), com as roupas e os lugares que visitamos. Tinha a impressão de que o sul da Índia seria imundo (e muitas cidades são, mas não tão diferentes da sujeira do norte) e que as pessoas seriam mais rudes do que aqui. Mas, como sempre, o sul me surpreendeu e me mostrou que mesmo não sendo tão “ocidentalizado” como o norte, é um lugar único, com sua própria forma de pensar e que vale muito a pena visitar de novo.

Por sinal, a comida do sul é mais apimentada que a do norte, mas a qualidade do peixe e o fácil acesso à carne de búfalo, além do preço acessível na maioria das cidades, faz a comida lá ser muito melhor na minha opinião. Claro que a frase “sem pimenta” é dita mais constantemente que aqui em Chandigarh. E a melhor pizza que comi até que cheguei aqui foi em Kudle beach, uma pizza de queijo feita no fogo a lenha. Uma massa fininha e crocante!

Não dá para comparar as praias do Brasil com as daqui primeiro porque tem vacas, cachorros, lixo e pássaros por todo o lado, mas as pessoas, o clima, o “mood” é diferente. Nossas praias tem um clima mais de festa, de férias, de diversão. Aqui achamos um clima de reverencia, trabalho e fé. Claro que as cidades que paramos não eram tão propicias a festas, tirando Anjuna, e eles não estavam em férias ou nada parecido.

Quem tiver oportunidade de dar uma passeada no sul da Índia, vale muito a pena. Ainda quero ver se consigo voltar e conhecer algumas das outras cidades ainda nessa minha estadia aqui, mas se por algum motivo puder voltar a passeio, não tenham dúvida de que voltaria!

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