DO FEICEBUQUI. Uma trajetória de 26 anos e as palavras do editor de A Razão: José Mauro Batista
Foram muitas as manifestações no Feicebuqui acerca do fechamento do oitentão (faria 83 em 9 de outubro) jornal A Razão. Muitas histórias, muitas carreiras profissionais. Muitas experiências. Muito tudo. Haveria várias para reproduzir aqui, mas o editor opta por trazer a palavra do atual comandante da redação, no cargo ao longo dos últimos 13 anos e pouco. Com a palavra, José Mauro do Nascimento Batista (foto ao lado), publicada no Feicebuqui na manhã deste sábado:
“O CHOQUE DO FUTURO
Buenas, meus amigos.
Desde a noite dessa sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017, venho recebendo centenas de mensagens de solidariedade, perguntas e questionamentos por todos meios, pelo fechamento do Jornal A Razão. Esperei a última edição impressa chegar às casas e bancas para me manifestar. Este é o canal que apropriado e minha manifestação é coletiva.
UM SÍMBOLO
Para quem conhece um pouco da história de Santa Maria, ler A Razão era como tomar Cyrilinha, viajar nos trens da antiga Viação Férrea, passear no Campus da UFSM ou olhar a cidade do alto do Monumento ao Ferroviário. E mesmo interrompendo sua circulação, A Razão jamais perderá esse valor agora tão somente simbólico.
TRAJETÓRIA E HISTÓRIAS
Dia 13 de março próximo vindouro, eu completaria 26 anos na Redação de A Razão. Nessa trajetória enfrentei chuva, barro, sol ardente e até cães bravos. Contei muitas histórias, histórias alegres e tristes, de ganhos e perdas, de encontros e despedidas. Contar boas histórias é a essência do jornalismo. Essa essência que o jornalismo vem perdendo e terá que resgatar.
FIM DE UMA ERA
Mas chegou o fim de uma era. É evidente que dói o fechamento de um jornal que foi por muitos e muitos anos, cara, alma e coração de Santa Maria, desde os tempos do fundador Clarimundo Flores, no remoto 08 de outubo de 1934 do século passado até o dia de hoje, 25 de fevereiro de 2017. Não é fácil. É uma história que se encerra. É uma parte de cada um que se vai. Do entregador de jornal aos sócios-proprietários. E também, é claro, dos nossos milhares de leitores, anunciante e parceiros.
UMA NOVA REALIDADE
Muitas são as razões de empreendimentos e marcas sumirem. E isso acontece todos os dias. E em todas as partes do mundo. Com o advento da internet, muitos jornais e revistas impressos reduziram circulação, diminuíram a periodicidade, migraram parcial ou totalmente para a internet, ou simplesmente sumiram. Isso em toda parte do mundo. E hoje, nenhum impresso sobreviverá sem sua versão digital.
Em 1969, o norte-americano Alvin Toffler, a quem recomendo, principalmente a quem pretende enveredar pelo mundo do jornalismo, escreveu O Choque do Futuro, no qual aborda as profundas e velozes transformações a partir do pós-guerra. E prevê o impacto da chamada revolução tecnológica nas fábricas, organizações, empresas em geral e até na vida familiar. O fato é que, querendo ou não, esse impacto das mudanças cada vez mais rápidas, destroça paradigmas e nos desafia, a toda hora, a sairmos da nossa zona de conforto.
OS ÚLTIMOS TEMPOS
Nos últimos anos, acompanhei como poucos a história do Jornal A Razão, com seus acertos e erros, suas alegrias e tristezas. A começar pelo assassinato de um dos fundadores da empresa, o Luizinho De Grandi, vítima de assalto em 1988. Uma tragédia que impactou principalmente a vida do seu núcleo familiar formado pela Dra Zaira, Alexandre, Antonela e Renata.
Anos depois, veio a doença que atingiu a diretora-presidente, Zaira De Grandi. Ao mesmo tempo em que lutava para viver, lutava para manter A Razão de portas abertas. Doenças graves em um familiar impactam qualquer família. A vida para. E é compreensível que aqueles mais envolvidos emocionalmente com o problema, com a morte batendo à porta, não tenham tempo e forças para sonhar. E a doença venceu.
AS NOVAS PERSPECTIVAS
Nova mudança, novas apostas e perspectivas. Acompanhei, e ativamente participei, com todos os meus colegas, de todos os setores, do esforço descomunal para salvar a empresa e manter A Razão circulando. Minha família, em especial minha esposa, Kleinne dos Anjos Simões, acompanhou e sofreu tanto quanto eu essa angústia que rondava um possível fechamento do jornal.
Já era previsível que um dia essa situação chegaria a um desfecho. E esse desfecho chegou. Não da forma como nós todos queríamos. Não da forma tão rápida e surpreendente como tudo ocorrreu, especialmente para nós, funcionários. Para alguns dos que permaneceram até o momento derradeiro foi uma opção, para outros, talvez, a alternativa possível.
UM ESFORÇO CONJUNTO
Eu e colegas com cargos de chefia abraçamos a causa, com toda nossa energia possível e disponível, juntamente com o Alexandre de Grandi e alguns parceiros, para manter o jornal A Razão circulando. Mas não conseguimos. Nem por isso, devemos nos sentir fracassados, derrotados ou frustrados. Muito menos devemos atribuir esse episódio a credores e concorrentes. De minha parte, não vou terceirizar um processo lento e gradual que não conseguimos reverter com nossas próprias forças.
Fui fiel e leal durante todo esse tempo, principalmente em respeito aos tantos leitores, colegas e amigos que conquistei. Em reconhecimento a tudo que A Razão me proporcionou em termos de aprendizagem. Uma escola não só de jornalismo. Mas também de vida. Agradeço a cada um que me deu oportunidades, que me abriu portas, a todos os chefes e colegas com quem trabalhei e convivi nesses longos 26 anos. E também as minhas fontes, que não imagino quantificar. Peço, também, humildemente, desculpas por eventuais questões que tenham provocado alguma mágoa a algum colega ou a qualquer pessoa na minha função. Aos colegas que fizeram comigo a última edição o meu fraterno abraço e a minha solidariedade. Não vou citar nomes para não esquecer ninguém. Isso será feito em outra oportunidade. Em outro texto.
NOVA VIDA, NOVOS PROJETOS
O futuro chegou. O choque chegou. E com ele novos desafios. Uns terão mais dificuldades de elaborar, de entender/compreender. Tenho estrutura familiar e apoio de amigos. Dito isto, informo que após uma breve saída (que já estava programada, no final da semana que vem), retornarei projetos. Podem ficar tranquilos, continuarei no mercado jornalístico. Até breve!”
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