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Nossa América – por Orlando Fonseca

A semana que começa, de acordo com o calendário de comemorações, traz o Dia Pan-Americano. Seja lá o que isso quer dizer, 14 de abril reserva a data para a celebração, que em outros tempos já foi mais expressiva. A conjuntura internacional do momento não está para festa. Basta olhar o que nos últimos dias viveu a nossa América: manifestantes botaram fogo na sede do Congresso paraguaio; na Venezuela, o Congresso foi fechado – e depois aberto – num ato de força da Suprema Corte; a oposição derrotada, nas eleições presidenciais do Equador, exigiu recontagem de votos com a abertura de um terceiro turno eleitoral – um déjà vu do caos brasileiro, que culminou no impeachment da presidente Dilma. Enquanto isso, nos EUA, Donald Trump põe em marcha uma política internacional que, se não levar ao apocalipse primeiro, põe por terra tudo o que se fez em favor da globalização até aqui.

Os esforços em torno da ideia de unificação das Américas ganharam força no século XIX. Já naquelas primeiras investidas, duas correntes se formaram e que representam muito bem os caminhos que nos conduziram às condições atuais. De um lado, Simon Bolívar, em sua luta pela autonomia dos povos sul-americanos, contra a dominação espanhola. De outro, James Monroe, buscando constituir uma superpotência, para fazer frente à Europa – o tal do “destino manifesto”. Esses dois movimentos, o bolivarismo e o monroísmo, podem ser vistos, na atualidade, tanto nas pregações de Chavez/Maduro, quanto no slogan de Trump: “América first”, com as consequências previsíveis de ambos os lados. No começo do século XX, teve até o esforço de um brasileiro famoso nos livros de história – que assim como o tal dia do pan-americanismo só se vê na escola. Joaquim Nabuco, mais conhecido pela luta abolicionista, foi político, jornalista, escritor e exerceu importantes cargos diplomáticos na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Por razões econômicas, a globalização – segunda metade do século passado – teve como um de seus mecanismos a formação de blocos econômicos, com a Comunidade do Euro, o Mercosul, e os – antes ferozes – tigres asiáticos. A China, por si só, é um bloco tão misterioso quanto gigantesco. Lembro-me de uma das assembleias que se realizaram em Santa Maria, reunindo o que viria a se chamar Mercocidades. Um dos debates era justamente o que envolvia a integração de culturas, a qual, pelo que me consta, nunca saiu do terreno das boas intenções. Não é por outra razão que o bloco sul-americano ainda se esforça para ser grande. Com os altos e baixos de sua economia, as marchas e contramarchas de sua política, e as diferenças regionais acentuadas, não há números da economia que consigam integrar ninguém. Basta ver como as concepções atuais do “bolivarianismo”, erigidas de modo redutor por seus defensores, são atacadas de modo preconceituoso e rasteiro por um monroísmo que também não para em pé. Parecido com o topete do Trump e o seu “américa-first”.

De todo modo, diria com os versos do Torquato Neto: “soy loco por ti America”. E se tivesse os instrumentos eficazes, daria curso ao que pretendia o nosso conterrâneo Nabuco, propondo uma unidade para além de empáfias e rompantes de colonizados. Mantendo o que de melhor nos une ao Velho Mundo, e buscando avançar autônomos para o Novo, com as nossas riquezas – naturais e culturais. Apesar dos pesares, ainda não ficou fora de moda ser utópico.

O PATO (versão inflável)

Lá vem o Pato
Na Paulista a desfilar
Lá vem o Pato

Tá a fim de protestar
Lá vem o Pato
No Planalto e acolá
Lá vem o Pato
Sem saber o que é que há

O Pato pateta
Pintou a careta
Surrou um petralha
Vestiu camiseta
Coxinha da asa

Votou no tucano
Levou um calote
Entrou pelo cano

Comeu um pedaço
De papo furado
Ficou sem tostão

Tá endividado
Murchou a cara
Que é verde-amarela
Caiu na real
Já não bate panela

(Com um toquinho do Vinícius)

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta poesia é uma reprodução obtida na Internet.

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