Artigos

Gafes – por Pylla Kroth

Já me falaram que é coisa minha mesmo e outros atribuíram ao fato de ser geminiano, mas a verdade é que penso e logo falo. Isso é automático em minha pessoa. Quem me conhece já sabe. Para sentar e escrever esta crônica semanal que é aqui publicada é assim, sem planejar muito, sento, penso e escrevo. Faço isto exceto nas redes sociais, onde penso e repenso muito antes de me manifestar. E hoje vou lhes contar um pouco destes atos impulsivos da minha vida devidos a esta característica.

Uns já me causaram problemas, outros nem tanto, mas na verdade penso que todos nós cometemos, eventualmente, o que é denominado uma “gafe”, ou seja, errar involuntariamente sem medo de ser mal interpretado ou ser mal avaliado.  Às vezes é grave, mas quase sempre vira piada. A vacilada faz parte da vida, “ai que vergonha”. E como é bem definido em meu signo, sou um cara com certa facilidade de me expressar e de me relacionar com as pessoas em poucos segundos, sem nunca tê-las visto antes.

Certa vez, fui convidado a participar de um bate papo em um programa de rádio. Cheguei ao local quinze minutos antes do combinado, o porteiro não estava no seu posto, a porta estava apenas encostada, então adentrei e logo no corredor que dava acesso ao estúdio encontrei um senhor de pele escura, vestindo um tênis surrado, uma calça esfarrapada, uma  jaquetinha bem comum de nylon e chapeuzinho na cabeça, ali parado, cabisbaixo, com cara de quem não tinha nada a ver com aquele ambiente.

Cumprimentei-o e ele apenas me olhou com cara de desconfiado. Dirigi-me rapidamente até a sala da rádio, entrei, cumprimentei o locutor, e logo larguei essa: “Cara, entrei aqui e o porteiro não  estava no seu posto. Acho que tu deveria ter mais cuidado, pois pode entrar alguém estranho facilmente, as coisas estão muito perigosas aqui por essas bandas, sabe bem como é, vocês estão localizados em um bairro muito perigoso!”. Ao que ele respondeu “Fique tranqüilo amigo, aqui nunca teve esse tipo de problema, a “invasão” é um pouquinho mais a frente, no miolo do bairro que, aliás, é chamado de Lídia”. Pensei e logo retruquei: “ Ah, Lídia devia ser o nome da mulher que doou aquele pedaço de terra ali adiante para que o bairro fosse criado, não é?”. “Não”, me responde ele, “Lidia foi a primeira mulher a invadir a terra que hoje leva seu nome”.

Tóóóimm! Logo mais, abriu-se a porta da cabine do estúdio da rádio e lá veio o diretor, abraçado no sujeito que eu havia visto no corredor pouco antes e do qual ficara todo desconfiado. “Quanta honra te receber aqui grande artista! Aliás estou aqui com duas lendas da música. Apresento-lhe J.J. Jackson, um velho amigo de Jimi Hendrix que irá se apresentar aqui na cidade hoje a noite!” Tóóóim, novamente! Duas gafes rapidinhas em questão de minutos!

Mas como falei e isso me serve de consolo, todos cometem uma “gafe”.

Em uma outra situação, fui convidado pra jantar na casa de um casal de amigos. Chegamos na dita janta e fomos direto pra cozinha, depois de ser recepcionado pelos anfitriões. Estamos lá preparando um prato especial, “galinha encasacada, ao molho de cerveja”, nunca tinha visto ou ouvido falar no dito prato, então a chefe da cozinha, muito cordial, me dava todas as dicas enquanto preparava o prato.

Conversa vai, conversa vem, a mãe da dona da casa na sala, ouvia tudo e de quando em quando se metia a dar alguns detalhes que a filha estaria omitindo pra mim, segredinhos de cozinheira. Foi quando a moça me falou que a mãe, mesmo estando mal da garganta, pois andara meio adoentada nos últimos dias, não se omitia de dar os pitacos dela. De posse da informação, com toda simpatia que me é peculiar, gritei pra senhora da sala: “já que estás me dando dicas de culinária, vou aproveitar e lhe dar uma dica boa pra sua garganta melhorar, pois trabalho com a voz, e vou lhes dar uma receita!”. Ela não estava no meu ângulo de visão, apenas ouvia minha voz.

“Pois então fale, menino bom!” E lá fui eu explicando: “A senhora pega um pé de meia soquete, empapa de álcool e coloca ela!” falei isso gesticulando com as mãos agarradas na garganta, mas, como falei, ela não estava no meu ângulo de visão e como a filha dela e o pessoal estavam na minha frente encenei a dica agarrando meu próprio pescoço, dando mostras de como fazer, sem me ligar deste detalhe. Ela exclamou da sala: “Verdade mesmo? Pois vou tentar fazer esta aplicação antes de ir dormir!”

No dia seguinte a filha dela nos liga para contar:  “Vocês não vão acreditar! Ontem quando vocês foram embora, fomos todos dormir, pois já era tarde e como nos passamos na comida estava demorando para o meu estômago fazer digestão e resolvi ir até o quarto da mãe pedir a ela onde estava o vidro de sal de frutas, e pasmem! Ela estava deitada com os dois pés pra cima, com duas meias embebedadas de álcool nos pés!” Tóóóim! Pegou a receita, mas não a aula prática! (risos)

Em outra feita, fui a um show de rock que estava acontecendo no teatro da cidade. Como de costume, quando posso, mesmo sem conhecer muito bem os integrantes das bandas, o que é raro, vou a estes eventos, pois estou sempre apoiando os talentos da terra. Cheguei dez minutos antes da apresentação e, notando a pouca movimentação em frente ao teatro, pensei que de certo o pessoal já estava lá dentro.

Avistei um menino de cabelos longos que ia até a porta, dava uma olhada e voltava, e isso se repetiu por duas ou três vezes. Me aproximei e dei boa noite, e ele me cumprimentou pelo nome como se me conhecesse bem. Logo puxei conversa e comentei com que ele me fizera lembrar do meu tempo de menino, quando, quase sempre, mesmo sem ter o dinheiro no bolso, eu ficava no vai e vem da porta, tentando uma alma caridosa que colaborasse com minha entrada. E antes que ele dissesse qualquer coisa, falei todo eufórico: “Hoje chegou minha vez de te presentear! Vamos, entre comigo até a bilheteria, pois vou lhe pagar o ingresso!” Ao que ele me respondeu com um sorriso no rosto: “ Não te preocupe não, querido, mas de qualquer forma te agradeço pela presença, pois estou aqui é esperando a hora para entrar no palco pela porta da frente, pra quebrar a regra. Sou eu quem toca aqui hoje com minha banda!” Tóóóim!

São gafes. Mas uma coisa é certa. “Penso, logo falo, pois existo”. Não consigo ficar calado. Meu pai dizia que se eu não tinha nada pra falar que ficasse calado, quando eu dava as minhas mancadas. Mas, pensando bem, geralmente o que se é exprime-se em palavras, não acham? Então, acabei de pensar alto aqui “cada qual com seu cada qual, cada um com seu cada um”, e chega minha mulher ao ouvir e me fala: “‘cada um com seu cada qual’ você quer dizer, né?”. Novamente lembro de meu velho pai: “Tu não tens jeito mesmo!” Acreditem, a pessoa que comete uma gafe nunca é mal intencionada, mas às vezes fico pensando,  por que como disse, certa vez, um tal de Oscar Wilde: “As boas intenções tem sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram alguma coisa foram as que não tiveram intenção alguma”.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

 

 

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo