Coluna

Luz, câmera e assédio – por Bianca Zasso

Deu no New York Times: o produtor Harvey Weinstein (foto acima), um dos mais poderosos da indústria hollywoodiana, foi acusado por mais de 10 mulheres que trabalham com cinema, incluindo atrizes premiadas, de assédio sexual. Após a divulgação de áudios e depoimentos, outros nomes se juntaram ao coro. Do lado de lá da gangorra, pessoas (mulheres inclusive) reclamando que isso seria uma jogada de marketing das atrizes ou achando um exagero o barulho em torno das atitudes do produtor. O que isso tem a ver com cinema? Tudo.

Sets de filmagem costumam ser ambientes majoritariamente masculinos e as grandes produtoras mundiais poucas vezes foram comandadas por mulheres. E se um machista já é um monstro por si só, imagine um machista com poder. As lendas sobre os “testes do sofá” geram piadas de mau gosto até hoje e colaboram para que monstros saiam de suas jaulas. Se o produtor é o dono do filme, por que ele não pode ter a possível protagonista em sua cama? A frase é assustadora, mas é dessa maneira que muitos pensam que deve funcionar a indústria. E é por pensamentos assim que ouvimos comentários insanos.

O pior deles talvez seja o de que uma mulher bonita não sabe receber um elogio e transforma tudo em assédio. Aos que corroboram com isso, informo que o corpo, seja ele da forma que for, não é um espaço público e não deve ser tocado sem permissão. Lembro também que elogio é algo feito com educação e certas palavras não soam nem um pouco agradáveis. Há algo no mundo chamado limite. Se você não sabe lidar com ele, procure tratamento e não uma próxima vítima.

Há os que perguntam: mas se alguns desses assédios aconteceram há quase uma década, por que só agora as vítimas resolveram falar? Meus caros, a vida é mais complexa do que a cabecinha pequena de alguns pensa. Só quem já sofreu um assédio (e toda mulher já sofreu ou vai sofrer um, em diferentes intensidades) sabe o gosto amargo do misto de raiva, medo e vergonha. Sim, vergonha. O patriarcado nos faz pensar que fomos culpadas pelo toque, pela insistência, pelo desejo.

Questionamos nossa roupa e nosso comportamento antes de questionarmos a possibilidade de quem nos assediou ser um doente. É triste, mas guardamos esses atos em silêncio na maioria das vezes. Por isso a denúncia é tão importante. Ao vermos outras mulheres soltando o verbo, nos sentimos seguras para fazer o mesmo. A rivalidade feminina, tão reforçada em vários filmes ao longo dos mais de cem anos de cinema, é uma invenção. Queremos ajudar umas às outras. A inveja incontrolável foi inventada pelos homens. Os idiotas, na verdade.

Depois desse desabafo, só nos resta lutar por mais mulheres fazendo cinema. Lutar para que não exista meia dúzia de modelos de personagens femininas. Somos vastas e somos muitas. Queremos estar todas nas telas. Sonhamos muito e queremos realizar estes sonhos com garra e trabalho. E sem nenhum imbecil no caminho que pensa que por ter dinheiro e comandar um grande negócio, pode nos comandar. Sabemos que é difícil, mas sempre vale lembrar: não se cale. Grite, denuncie e não tenha medo. Um útero não é do tamanho de um punho fechado à toa.

 

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo