ELEIÇÕES. João Vicente Goulart quer resgatar o projeto de Nação interrompido pelo golpe de 1964
Por MAIQUEL ROSAURO (texto e fotos), da Equipe do Site
Eram pontualmente 17h quando um senhor com cabelos grisalhos atravessou o Viaduto Evandro Behr e se aproximou dos militantes do PPL que empunhavam grandes bandeiras nas cores verde e amarelo. Bastou algumas pessoas em volta comentarem que aquele era o filho de João Goulart, o ex-presidente Jango desposto pela Ditadura Militar, para que diversos santa-marienses pararem para cumprimentá-lo e, claro, fazerem o registro fotográficos em seus smartphones.
João Vicente Goulart tem 61 anos, mas aparenta ter uns 40 e poucos. E bastam cinco minutos de conversa com ele para perceber uma disposição da juventude de outrora. Embora não tenha juntando um grande número de militantes e seja desconhecido do grande público, Goulart deixou uma boa impressão em Santa Maria.
O pré-candidato a presidente pelo Partido Pátria Livre (PPL) deu atenção a todos que se aproximaram, passeou no Calçadão com o ex-candidato a prefeito Werner Rempel (PPL), tomou café na Boca Maldita, fez um afago nos cães de rua que sempre ficam em volta das aglomerações no Centro e ainda participou de um ato do partido no Viaduto Evandro Behr.
Em meio a toda esta movimentação, o site entrevistou o filho de Jango, que falou sobre a construção de sua pré-candidatura, os planos interrompidos em 64 e as ações que ele pretende retomar caso seja eleito presidente da nação.
Site – A classe política anda tão desacreditada. Por que o senhor acredita que possa fazer a diferença?
João Vicente Goulart – Temos uma trajetória histórica, um longo exílio nas costas e a memória do povo brasileiro sobre o que ocorreu em 1964. Foi um retrocesso, queríamos construir uma nação brasileira, mas o projeto foi inviabilizado naquele momento. O golpe em si não foi contra o presidente, mas contra um projeto de nação que estava em construção naquele momento, com reformas que modificariam a estrutura do país.
Site – Quais reformas Jango estava prestes a colocar em prática?
Goulart – Agrária, Tributária, bancária…
Site – Reforma Bancária?
Goulart – Sim, até hoje os grandes conglomerados financeiros mantém o crédito em mãos. Há 20 anos tínhamos uns 30 bancos, hoje quatro conglomerados privados detêm 75% dos ativos da nação. Dizem que o é mercado livre, porém é um monopólio com dinheiro da poupança pública e só distribuem para as subsidiárias que lhe interessam.
Site – Quais as outras reformas que foram interrompidas?
Goulart – A Lei de Remessa de Lucro. Os grandes conglomerados hoje são financeiros, não só os bancos. As joint ventures, com Casas Bahia e Ricardo Elétrico, o lucro está no oligopólio e não na venda do eletrodoméstico. Está na venda no mercado financeiros, na venda a prazo em 36 meses. A produção é subjugada ao mercado de capitais. Quando dizem que a Bolsa de Valores subiu ou desceu, trata-se de uma balela do mercado financeiro. Os números de uma nação rica é o pleno emprego, a educação, a saúde pública, a situação sanitária das pessoas. Isso é que buscamos nesse momento. O resgate não só da história, mas o resgate do sonho de uma nação livre.
Site – Por que o senhor deixou o PDT ano passado?
Goulart – Sou fundador do PDT e signatário da Carta de Lisboa. Há dez anos estou no Distrito Federal (DF) porque criamos o Instituto Presidente João Goulart. Tínhamos um projeto do Oscar Niemayer para Brasília, no Eixo Monumental, dentro da composição arquitetônica, e nosso partido, lamentavelmente, no momento em que a nação brasileira devolveu a Jango o seu título de presidente da República, cassado em 64; no momento em que a nação brasileira lhe prestou honras de chefe de Estado, que a Ditadura não permitiu no seu falecimento no exterior ainda no exílio; no momento em que a nação brasileira anulou a fatídica sessão de 2 de abril de 1964, quando o Congresso eleito em 1962 com dinheiro da CIA, através do seu presidente, Auro Moura de Andrade, declara vaga a presidência da República com o presidente dentro do país, legalizando o Golpe de Estado; nesse momento em que estávamos formalizando a reestruturação da História de Jango através do memorial da Liberdade e da Democracia, o Rodrigo Rollemberg (governador do DF) caça o terreno e anula a sessão de uso do terreno. O Rollemberg é do PSB, mas o nosso partido estava na base. Entre o partido e a história de meu pai, eu vou ficar com a história de meu pai e do trabalhismo.
Site – E por que o PPL?
Goulart – O PPL lutou contra a resistência, está em construção, vem do MR8 que lutou contra a Ditadura e está em posição de vanguarda no que tange colocar em pauta as propostas nacionalistas, que são as propostas do trabalhismo antigo, de Jango e Getúlio Vargas. Nessas eleições de 2018 temos a importância fundamental de lutar pela perda desses direitos trabalhistas, que não são do PT, do PSB, do PCdoB. Esses direitos que estão sendo perdidos foram conquistados por Getúlio, com a CLT, por Jango quando implanta o 13º. Essas conquistas são nossas e temos que lutar por elas. E o PPL está disposto a isso. Claro que temos dificuldade. Hoje somos um partido que não temos deputado e senador. O que por uma parte também é bom, nos trás uma tranquilidade, pois não estamos comprometidos com o congresso que ai está. A dificuldade está em uma campanha sem fundo eleitoral e participação na TV, mas a luta se constrói passo a passo.
Site – Como está se construindo sua pré-candidatura?
Goulart – Sou vice-presidente nacional do partido e presidente no DF. Lá, estamos construindo um grande diálogo de ser a terceira via, chamando de Fórum da Terceira via. Nos trazemos uma opção nova. Existe um diálogo, conversando com Rede, PSOL, PV, PPL, PCdoB. Queremos fugir a esse bipartidarismo, de bicandidaturas.
Neandertais prometendo como será a arca de Noé.