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Pescoço do Neymar – por Orlando Fonseca

Há dois meses, rolava pelas redes sociais, ora como lamento, ora como crítica, o pé do Neymar. Mais especificamente, o quinto metatarso do pé direito, o qual sofreu uma lesão séria, que tirou o craque dos gramados desde então. Mas eu quero apontar mesmo é para o pescoço do atacante, artilheiro do Paris Saint-Germain e da Seleção Brasileira. Mais especificamente do lado esquerdo, pode-se ver uma das 34 tatuagens do jogador midiático: Tudo Passa.

Os detalhes desse fato é que me chamam a atenção e me provocam a algum tipo de reflexão. Jovem, milionário, figurinha carimbada no jet set internacional – não sei se ainda se usa a expressão -, ícone de sua categoria, cujas virtudes são reconhecidas por colegas, empresários do setor e comentaristas esportivos, Neymar mantém o espírito de quem sabe o que está dizendo com o que gravou na pele. Acostumado a temporadas, a um esporte que tem hora para começar e terminar – mais os descontos do árbitro -, com lesões e recuperações, ele tem consciência de que a passagem do tempo é crucial, tanto para ele como para qualquer ser humano.

A ideia por trás da “mensagem” indica que tanto os maus como os bons momentos são transitórios, e o importante é aproveitar a vida. É uma máxima que vem desde priscas eras; Neymar inventou (ou aperfeiçoou) muitos dribles, mas a frase não foi criada por ele. O conceito já aparece no conhecido lema jovem “carpe diem” – também muito usado em tatuagens -, o qual foi registrado pelo poeta romano, Horácio, em suas Odes, indicando que é melhor “colher” o dia, sem dar muito crédito a um possível amanhã.

Muito antes, o sábio Salomão deixou-nos um de seus adágios: “tudo é vaidade. Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? Uma geração vai, e outra geração vem; mas a Terra para sempre permanece.” Ao final dos anos sessenta, do século passado, o cantor Nelson Ned fez um tremendo sucesso internacional com o refrão: “Tudo passa, tudo passará”.

Tão certo como a fatalidade expressa pelos termos que perduram desde a antiguidade, já se passaram dois meses desde a lesão do craque da nossa seleção; quatro anos já se passaram e estamos, outra vez, às vésperas da Copa do Mundo. Nelson Ned também não ficou, embora a sua canção esteja entre as mais regravadas dentre as compostas por brasileiros.

O Brasil atravessou momentos turbulentos, desde o golpe que destituiu uma presidenta da qual não se encontrou crime (por isso a definição de golpe), tanto é assim que ela está prestes a se lançar como candidata nas eleições, que também se aproximam. Lula está preso, seus adversários políticos e algozes estão soltos. Até mesmo a caravana passou. Tudo passa e nada ficará, apenas a Terra continua o seu movimento, como anunciou Galileu, com a convicção de que a ignorância de seus algozes também passaria.

Dificilmente um jogador de futebol usaria o pescoço para realizar uma grande jogada – a menos que quisesse fazer uma firula. São os seus pés os equipamentos anatômicos privilegiados de um atacante – se for ambidestro tanto melhor- e a sua cabeça. No entanto, diante do momento e suas gravidades, aponto para o pescoço do Neymar e concordo: é melhor aproveitar o dia.

E não falo apenas de hedonismo, dos prazeres, da alegria – que são os bens da vida feliz (ou pelo menos a tentativa de sê-lo). Falo com a mesma ênfase de uma canção de protesto, da mesma época daquele refrão melancólico de Nelson Ned: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, cantava Vandré. Era o que o Horácio tinha em mente ao recomendar ao seu leitor: que “colha” – trabalhe, se esforce – o dia. O amanhã é apenas uma probabilidade.

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