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A primeira noite de um homem – Bianca Zasso

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Pessoas portadoras de alguma deficiência física necessitam, mais que qualquer outra, viver o verbo adaptar. Suas casas, carros, móveis e hábitos passam por mudanças com o objetivo de alcançar uma melhor qualidade de vida. Por terem uma perspectiva singular do mundo, acabam por observar coisas que os ditos não deficientes deixam passar em brancas nuvens.

No entanto, apesar do olhar único sobre o cotidiano, certas coisas são comuns para quem usa cadeira de rodas e para quem corre todas as manhãs em busca de uma eterna juventude: o desejo. Muitas são as produções que falam sobre ele, mas poucas possuem a delicadeza e a sinceridade presente em As sessões, do diretor polonês Ben Lewin.

Lançado em 2012 com pouco alvoroço, apesar de uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante para Helen Hunt, o filme inspirou-se na experiência narrada em um artigo pelo poeta e pesquisador Mark O’Brien. Aos 6 anos de idade, diagnosticado com poliomielite, ele passou a necessitar de um pulmão de aço para sobreviver.

O tal pulmão artificial consiste em uma máquina enorme que ocupa a maior parte do quarto de Mark, local onde ele trabalha e estuda com ajuda de outros tantos equipamentos, já que a doença o deixou imóvel do pescoço para baixo. Com esforço e dedicação, ele conseguiu realizar o sonho de ser escritor. Com a vida profissional encaminhada, é chegada a hora da mais complexa das suas vontades, que é experimentar o sexo.

Se a primeira transa parece uma odisseia para muitos, imagine para alguém de 38 anos que nunca conseguiu observar o próprio corpo e que precisa de ajuda para se locomover e tomar banho. O cotidiano complica, mas os hormônios de Mark não estão nem aí. Existe tesão, curiosidade e apoio. Sua cuidadora Vera e o padre camarada de sua paróquia fazem coro na torcida. Falta a metade que completa a laranja. E ela surge muito profissional.

Helen Hunt interpreta uma substituta sexual, função surgida nos anos 60 e que funciona como uma professora de sexo para pessoas com deficiência. A profissão pode ser insólita, mas Hunt consegue dar vida e brilho à personagem sem precisar apelar para uma atuação exagerada. Tudo soa muito natural quando ela surge em cena.

Ela fala de toques e posições sexuais como quem dá receita de bolo e isso é decisivo para sua relação com Mark. Seu poeta paciente, como bom romântico, vai colocar amor no centro da terapia. Confundir as coisas acontece com todo mundo, afinal,

As sessões já merecia ser visto por seu roteiro na medida e sua ótima direção de atores. As transformações físicas vividas por John Hawkes, que interpreta Mark são sutis. Seus grandes momentos são os monólogos sobre suas descobertas e a aura mágica que ele traz para algo que nos parece tão natural como o sexo. Além disso tudo, o modo como a nudez é abordada no longa é pouco vista em Hollywood. Helen Hunt mostra seu corpo natural sem truques ou ângulos enganadores. A pele é real, com suas pequenas imperfeições, pintas e manchas.

Em tempos onde há muita gente querendo fazer do photoshop uma realidade por meio de cirurgias plásticas e tratamentos estéticos, é encantador encontrar corpos reais com desejos reais. Cheiros, toques e olhares são as melhores lembranças. E não precisam de botox.

As sessões (The sessions)

Ano: 2012

Direção: Bem Lewin

Disponível em DVD

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