ComportamentoCrônica

CRÔNICA. E o Pylla Kroth proporcionará o encontro entre ex-namorados que não se viam há 30 anos. E…

Telinha & Fefe

Por PYLLA KROTH (*)

Encontrei um velho amigo, que não via há muito tempo, caminhando cabisbaixo na rua, foi quando lhe chamei a atenção: “Psiu, hei você! Qual o motivo da cara triste e desanimada?” Ele, surpreso com nosso reencontro décadas depois, me cumprimentou, me deu um abraço e começou se lamentar da vida.

“Sabes amigo, estou aqui pensando de como o tempo voa e não nos poupa das lembranças. Envelhecemos sem piedade, mas você não mudou nada” disse-me. E lhe respondo que isso só poderia ser ilusão de ótica dele, porém estou com saúde sim.

Contou-me ele, então, que “alguns dias atrás estava sonhando com uma antiga namorada minha que há muito tempo não vejo e me acordei todo desorientado, sem ter explicação para dar a minha esposa, que acordou junto, tamanha minha excitação e agitação no sonho.”

Logo foi me falando da moçoila com um brilho de poeta nos olhos. Parecia ter virado um Jorge Amado ou um Mario Quintana de tão lindas palavras: “ela era uma guria moreninha, cor de caju, com cara de pantera, espoleta, porém aparentemente comportada, parecia uma flor colhida ainda orvalhada junto ao instante de tornar-se rosa. Possuía uma boca carnuda, um jeito meigo de falar, uma pele macia e tinha um caminhar que mais parecia flutuar. Foi amor a primeira vista, mas que não passou de uma semana. A legítima feiticeira que como dizia o poeta gaúcho, somente em sonhos a vejo. E noite passada sonhei com aquele amor passageiro e juvenil que foi embora daqui e nunca mais voltou. Atendia pelo nome de Maristela, mas em nosso relacionamento lhe chamava intimamente de “Telinha” e ela me chamava de “Fefe” – olha que lindo-. Isso foi 30 anos atrás amigo. Agora estou de volta aqui rumando pra minha aposentadoria, resolvi terminar minha carreira na Aldeia Santa nossa. Por acaso tu que andava na noite conosco não te lembra daquela moça, amigo? Pois eu também fui morar em Porto alegre onde cursei faculdade e me formei e vivi por 28 anos. Ela era Alegretense e estava começando faculdade de administração. Juro que daria tudo para encontrar aquela Deusa que nunca mais saiu da minha cabeça!”

Fiquei uns segundos mudo, observando todo seu relato bonito daquele amor perdido. Pensei um pouco, rebuscando o passado na memória e perguntei: “Mas aquela menina que tu falas por acaso não morava em uma “comarca de estudantes” ali na esquina da Niederauer com a Duque?” Ele me responde com euforia: “Isso mesmo, isso mesmo!” Então lhe falei o que eu sabia: “Ora, meu amigo, pois sei de quem estás falando, sim, e casualmente estamos a uma quadra de um de seus estabelecimentos comerciais. Hoje ela é uma grande empresária aqui na cidade.”

Todo eufórico ele me pergunta se teria como eu levá-lo até ela. “sem problemas amigo, vamos ali então”. Chegamos e logo ele se apavora com o tamanho do negócio de sua inesquecível “Telinha”. Adentramos e chamei a gerente da loja. “Gostaríamos de falar com a Dona Maristela, seria possível?” Ao que ela, solícita, responde: “um momento que vou chamá-la!”

Meu amigo ficou ali visivelmente todo sem jeito, aguardando o “grande encontro”. Logo ela apareceu, deslumbrante com um vestido de seda totalmente fora dos padrões estéticos poéticos definidos por ele em suas lembranças, bem como provavelmente todo restante dos detalhes de aparência e confesso “um pouco acima do peso”!

Em segundos após esta aparição, olho para meu lado e só consigo ver pelo fio do olho o velho amigo Fernando saindo em disparada da loja, mais parecia ter avistado uma assombração. “Quem é esse louco que saiu correndo, Pylla?”, perguntou-me ela, percebendo a cena.

E eu não titubeei na resposta: “ Ah… Não dê bola, Dona Maristela. Encontrei esse sujeito agora há pouco, veio até mim e me perguntou se a conhecia e queria conversar com você, pois não lhe via há quase trinta anos, e agora que a senhora chega ele me sai desse jeito, não entendi por quê. Inclusive me confidenciou que lhe chamava antigamente de “Telinha”. “Eu, hein? Era só o que me faltava!” me responde ela quase ao mesmo tempo em que eu completava a informação: “A propósito disse que a senhora lhe chamava de “Fefe!”

Ela pede a cadeira pra sua secretária e um copo de água. E eu, por acaso me descobrindo o promotor daquele encontro inusitado, achei melhor aproveitar a oportunidade e tirei meu time de campo! Deus me livre ser o causador de um ataque cardíaco da madame! Até explicar que focinho de porco não é tomada de luz, estaria encrencado.

E enquanto andava de volta pelo meu caminho ia pensando e me perguntando até um tanto divertido, será que o meu amigo, que lá no inicio da história toda parecia tão realista quanto a questão da passagem do tempo e seus efeitos sobre a gente, não havia mesmo cogitado que isso vale para todo mundo e inclusive para a musa das suas paixões juvenis? Vai ver que não pensou mesmo.

 (*) PYLLA KROTH é considerado dinossauro do Rock de Santa Maria e um ícone local do gênero no qual está há mais de 35anos, desde a Banda Thanos, que foi a primeira do gênero heavy metal na cidade, no início dos anos 80. O grande marco da carreira de Pylla foi sua atuação como vocalista da Banda Fuga, de 1987 a 1996. Atualmente, sua banda é a Pylla C14. Pylla Kroth escreve às quartas feiras no site.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução de internet.

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