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ArteCultura

CULTURA. Sobrinha-neta de Frida Kahlo, a fotógrafa Cristina Kahlo, expõe obras pela primeira vez no país

Por ODAILSO BERTÉ (*)

A fotógrafa mexicana Cristina Kahlo, sobrinha-neta da reconhecida pintora Frida Kahlo, inaugura uma tríade de ‘primeiras vezes’ através do Projeto de Extensão EN-RED-ARTE: redes de criação e fruição artística, da Universidade Federal de Santa Maria, com a exposição virtual Tantas Fridas: é sua primeira exposição no Brasil; é a primeira vez que exibe as fotos que compõem a referida mostra; e também é a primeira vez que encampa um projeto de exposição em uma rede social (Instagram).

Embora nada substitua a experiência de estar frente a frente com as obras de arte, neste momento difícil em que a pandemia de COVID-19 nos assombra como um inimigo invisível, as plataformas digitais têm se fortalecido como uma oportunidade criativa de reapresentar a fotografia, a pintura, a dança, o teatro, a música, a performance, entre outras expressões. Nas palavras de Cristina Kahlo “a arte tem sido a grande companheira nesta quarentena em todas as suas manifestações” (**), é por isso que hoje a fotógrafa mexicana nos presenteia a exposição virtual Tantas Fridas.

Com uma destacada produção artística ao longo de sua trajetória, que manifesta a grandeza da fotografia mexicana, Cristina Kahlo é uma criadora digna representante da família Kahlo, linhagem que se ratifica como um berço de artistas. Desde seu bisavô, o fotógrafo Guillermo Kahlo, sua tia-avó, a pintora Frida Kahlo, até seu pai Antonio Kahlo, também fotógrafo, a quem, desde menina, acompanhava em seu laboratório fotográfico.

Na presente exposição Tantas Fridas, Cristina Kahlo retratou crianças, mulheres, homens e bonecas populares mexicanas que recriam a efígie de Frida Kahlo no próprio corpo, revelando como a imagem da pintora tem sido propagada e reinterpretada em diferentes contextos culturais. A fotografia de Cristina Kahlo adentra: festivais e concursos de fantasias, visitas a museus, criações de outros artistas, mercados e o cotidiano de diferentes pessoas; transcende as repetições corriqueiras e explicita a composição de histórias originais a partir de inusitadas formas de bricolagem e uso da icônica imagem de Frida Kahlo, conforme nos ensina o historiador francês Michel de Certeau (1925-1986) em sua obra a Invenção do Cotidiano (1980).

O traje típico tehuano de Frida Kahlo, que mesclava vestimentas e acessórios de diferentes comunidades indígenas mexicanas e também de culturas de outros países, foi o demarcador performativo e revolucionário do nacionalismo mexicano que nos possibilita evocar por um lado a postura questionadora dos muxes (homens juchitecos que usam o traje de tehuana) em relação à opressões da hegemonia heteronormativa, a liderança das matriarcas tehuanas, e por outro a sensibilidade infantil em encantar-se com a figura de Frida que, semelhante à deusa asteca Xochiquetzal, portava indumentárias coloridas e uma fabulosa coroa/cocar de flores.

A reiteração do traje tehuano feita por Frida Kahlo em sua vida e obra, sem sombra de dúvidas manifesta o respeito ancestral ao seu povo e à sua identidade cultural mestiça, e também dá margem para hoje questionarmos os usos vazios de identidade, sentido político, étnico e de gênero que também são feitos com esse símbolo indígena. Nesse sentido, as Tantas Fridas de Cristina Kahlo possibilitam perguntar: seria um tipo de uso performativo que repete para subverter? Estaria Frida Kahlo, em sua identificação e repetição, questionando a artificialidade de certas formas de uso desse símbolo de mexicanidade como se fosse uma fantasia carnavalesca? O nacionalismo mexicano verdadeiramente valorizou a liderança da mulher indígena na sociedade? É possível pensar a repetição da imagem da Frida tehuana como uma forma de performance que, ao repetir, questiona e deflagra a estrutura imitativa e exótica dessa imagem do feminino em diferentes contextos socioculturais? (***) A arte fotográfica de Cristina Kahlo toca os afetos e também convoca ao questionamento.

“Uma porta de saída para qualquer confinamento é a imaginação e a liberdade de pensamento”*. Com este poético pensamento, Cristina Kahlo convida nossa percepção e capacidade crítica a passear por entre as Tantas Fridas existentes nos mais variados contextos: mulheres, indígenas, deficientes, pessoas LGBT+… Pessoas que com sua diferença agregam valores culturais e contribuem para relações sociais mais justas.

Com cinco séries de fotografias, na exposição Tantas Fridas Cristina Kahlo nos convida a compreender que “o principal legado de Frida é a autenticidade”**, revelando-se, a própria fotógrafa, neste e em outros trabalhos seus, uma artista autêntica que insere no mundo uma obra demarcadora da sua diferença poética como criadora, que apresenta o valor da alteridade nos sujeitos retratados e que reinventa a história e a cultura mexicanas, explicitando assim um fazer artístico contemporâneo protagonista na genealogia artística da família Kahlo, na América Latina e no mundo.

A proposição de exposições virtuais em plataformas digitais e redes sociais como o Instagram busca traçar diálogos entre a arte e as demais formas de imagens que circulam por essas redes, propondo conteúdos e experiências estéticas para além do entretenimento. E, ao mesmo, tempo disseminar o acesso a obras artísticas através desses espaços e recursos digitais que estão no cotidiano das pessoas. Estudado de maneira expográfica, diferentes recursos do Instagram foram usados para comportar elementos como: conteúdos de mediação artística nos stories em destaque para auxiliar na apreciação da exposição; texto curatorial em fragmentos dinâmicos para orientar a interpretação as obras, através da postagem de conjuntos de imagens a serem deslizadas; currículo da artista; mosaicos de obras; e as fotografias que podem ser ampliadas possibilitando a apreciação de detalhes, entre outros.  

(*) Odailso Berté é Professor da UFSM e curador da exposição “Tantas Fridas”

(**) Entrevista de Cristina Kahlo cedida a Laura Martínes Alarcón. “Cristina Kahlo: mirada que reivindica la grandeza de la fotografía en México”, publicado em 8 de setembro de 2020. Disponível em: https://espaciomex.com/.

(***)  BERTÉ, Odailso. O abraço de amor de Kahlo, Estrada, Zenil e eu: uma genealogia matricial a partir do corpo performativo. Santa Maria: Editora UFSM / Universidad Iberoamericana, 2020.

A Mesa de diálogo “Família Kahlo – Berço de Artistas” entre a artista Cristina Kahlo e o curador da exposição Odailso Berté, que marcou a abertura desse projeto, está disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=I7hl3OSYmZA&t=86s

A exposição Tantas Fridas pode ser acessada gratuitamente na página do Instagram @liccdaufsm: https://www.instagram.com/liccdaufsm/?hl=en

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