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O protagonismo das “fake news” corrói a democracia – Por Valdeci Oliveira

Passou da hora de quem produz falsidades enfrentar o peso da lei e algemas

Numa guerra, a primeira vítima é a verdade. O aforismo teria sido cunhado por um senador norte-americano pouco mais de cem anos atrás, mas o dito, a cada dia que passa, infelizmente, se mostra atual. E as eleições em Santa Maria, neste segundo turno do pleito de 2020, lamentavelmente, asseguram que sim.

Na busca pelo voto, que metaforicamente é uma guerra, os fatos pouco importam. O fundamental, neste caso, é a narrativa criada, mesmo que essa não encontre sustentação ou provas na vida real. E o objetivo é único: a avalanche de notícias falsas busca em um só tempo destruir reputações, manipular a vontade dos eleitores e vencer, a qualquer custo, a disputa.

Antes mesmo do advento das chamadas fake news, que não passam de mentiras muito bem elaboradas, inclusive graficamente, essa prática já era uma velha conhecida dos eleitores brasileiros. Não raro, durante um pleito eleitoral, surgiam da noite para o dia panfletos apócrifos, sem autoria determinada, atacando candidaturas com ilações nada críveis e cujo único objetivo era o de desacreditar oponentes e levar o eleitor ao erro.

Isso antes da internet ser o que é, antes dela fazer parte do cotidiano das pessoas e de colocar o mundo na palma da mão e ao alcance dos dedos. Para o bem ou para o mal, a tecnologia imprimiu uma velocidade incrível antes nunca vista no dia-a-dia das sociedades. Em questão de segundos um fato, não necessariamente verdadeiro, chega a milhares de pessoas. E quando reproduzido e compartilhado em redes sociais e aplicativos de troca de mensagens como o WhatsApp, bastam poucos minutos para que milhões de smartphones se tornem ao mesmo tempo destinatários e remetentes. Porém, quando mentirosas, tais mensagens transformam seus emissores em criminosos e seus receptores em vítimas, manipulando desejos e vontades.

A mais recente fake news das eleições locais, que está recebendo o devido tratamento jurídico por parte do Partido dos Trabalhadores de Santa Maria, insinua que o PT está apoiando uma das candidaturas neste segundo turno em troca de cargos num hipotético segundo mandato.  Reitero aqui a decisão da Executiva do partido que, no último dia 17 de novembro, de forma pública, não recomendou votos em nenhum dos nomes que disputarão a nova rodada neste domingo.

Em razão da incompatibilidade de projetos e de visão de cidade de ambos – além de as agremiações também serem responsáveis pela retirada paulatina de direitos sociais do nosso povo e terem votado contra a população nas reformas trabalhista e da previdência e na emenda do teto de gastos, o PT de Santa Maria estará situado politicamente no campo da oposição ao candidato vencedor, seja ele quem for.

Todos sabemos o quão fácil é manipular a realidade, vide a eleição presidencial de 2018, quando imagens de mamadeiras com o bico em forma fálica foram compartilhadas por milhões de pessoas, que asseguravam que o objeto era disponibilizado nas creches municipais quando Fernando Haddad era prefeito de São Paulo. E esse foi apenas um dos milhares de absurdos criados pelas milícias digitais hoje abrigadas no chamado “Gabinete do Ódio” e a serviço do atual presidente da República.

Guardadas as devidas proporções é importante que não nos esqueçamos de que na Alemanha Nazista, o ministro da propaganda do III Reich, Joseph Goebbels, criara a máxima – e sem nenhum pudor de reproduzi-la a quem quisesse ouvir – de que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Uma outra frase, que ficou conhecida por compor um dos inúmeros conselhos de Nicolau Maquiavel aos governantes em seu clássico da ciência política “O Príncipe”, diz que os fins justificam os meios. Junte-se esses dois ingredientes à tecnologia, agregue fortes quantidades de desonestidade, ódio, intolerância, sede pelo poder e falta de ética e teremos uma noção da força destrutiva das fake news.

Só no primeiro turno da eleição em nossa capital, o Facebook derrubou mais de meio milhão de notícias falsas contra a candidatura de Manuela D’Ávila. Coincidência ou não, atribuídas a grupos e pessoas que ideologicamente apoiam o bolsonarismo raiz e até o negacionismo.
Deplorável o desrespeito neste momento com o eleitorado de Santa Maria.

O que estão fazendo se configura em crime e como tal deve ser visto, apurado e penalizado. As mulheres e homens de nossa cidade, que irão novamente às urnas no próximo domingo, mereciam muito mais do que lhes está sendo oferecido. Ouso dizer que o segundo turno das eleições santa-mariense foi quase que tragado pela prática das notícias criminosas, que assumiu um protagonismo muito maior do que as propostas e os planos de governo elaborados para a cidade e seus problemas.

A democracia é um bem que deve ser defendido com todas as forças, em todos os momentos, por aqueles e aquelas que acreditam em sua essência. As fake news devem ser encaradas como substâncias tóxicas à democracia, pois elas nitidamente enfraquecem a sua existência, amplificam sua fragilidade e a corroem por dentro – ao mesmo tempo que desnudam o verdadeiro caráter de certas candidaturas. Com a palavra o Poder Judiciário e os órgãos policiais: já passou da hora dos produtores de notícias falsas enfrentarem o peso da lei e as algemas.

(*) Valdeci Oliveiraque escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287

Nota do Editor: a imagem (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é uma reprodução da internet.

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