A cruz – por Tércia Montenegro Lemos
A cruz é de uma proporção sem proporções:
O peso exato de dobrar os joelhos,
A condenação de arrastar os dias,
Nesta dimensão cheia de dor.
A cruz, em si, é de uma simplicidade extrema:
Mera intersecção de madeiras, troncos que oprimem
As vértebras, as tardes tranqüilas, os sonhos,
Os ossos cansados, a pílula que nos traz o sono
E as pedras que se prendem na garganta.
A cruz é sombra limpa e vertical,
Ou rasgo horizontal que se leva nos ombros.
Pode ser um filho que desconhece a vida,
Um beijo com intenção eterna, um ácido
Que escorre na coluna vertebral, ou uma flecha
De vidro que penetra na carne.
Ou pode ser toda esta ausência,
Quando o entendimento pesa,
Nesta noite sem remédio ou poema.
A cruz é o lugar onde se acende a vela,
Onde se põe a flor,
O lugar onde recolhemos nossos pedaços.
A poesia
A Cruz, de Tércia Montenegro Lemos, de Fortaleza/CE, conquistou o 2º lugar no 27º Concurso Literário Felippe D’Oliveira, em 2004. A publicação foi autorizada pela Secretaria Municipal de Cultura de Santa Maria. Crédito da imagem que abre a página: ELG21 / Pixabay.
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