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A prática de esconder a realidade – por Marta Tocchetto

Governo omite e silencia. E em um ano 13.235 km2 de floresta são destruídos

Enquanto o governo federal omite e silencia, as retroescavadeiras e tratores destruíram em apenas um ano, 13.235 km2 de floresta na Amazônia.

O Brasil e o mundo foram surpreendidos com a tardia divulgação dos dados de aumento do desmatamento na Amazônia após a realização da COP 26, apesar de terem sido informados pelo INPE ao Ministério da Ciência e Tecnologia no dia 27 de outubro, ou seja, uma semana antes da conferência do clima.

O governo até agora não explicou o porquê dessas informações não terem sido trazidas a público, o que aconteceu somente quando técnicos do Instituto de Pesquisas Espaciais denunciaram o silêncio. Sem explicações, quem cala consente, diz o ditado popular.

Chama atenção a postura governamental em esconder, dissimular, distorcer, desconsiderar, deturpar e inverter informações científicas. É uma engenharia de dados maquiados, lavados e enxaguados para esconder e para dar lustro de verdade ao que não é.

Cada vez fica mais evidente que a falta de transparência, a criação de narrativas paralelas destinadas à sabotagem, à destruição e ao desmonte da ciência fazem parte de políticas ecocidas adotadas pelo governo Bolsonaro que, sistemática e ferozmente, ataca não só o meio ambiente, mas a saúde, a educação, a cultura, além de outras áreas.

Um governo que escolhe as trevas à transparência. Enquanto omite e silencia, as retroescavadeiras e tratores destruíram em apenas um ano, 13.235 km2 de floresta. O número indica o desmatamento ilegal entre agosto e julho de 2021– aquele que o governo federal prometeu zerar na COP 26. Um aumento de 22% em relação ao período anterior. É o maior índice nos últimos 15 anos.

Os números são inequívocos ao mostrar ao mundo, a destruição da floresta e a inércia intencional do governo em não atacá-la. A falta de transparência é uma artimanha, uma estratégia para consentir a prática e para não enfrentar o fracasso na contenção do desflorestamento ilegal.

Medidas não apenas inexistentes, ao contrário, ações que andam de mãos dadas com madeireiros ilegais, grileiros, garimpeiros clandestinos tornando ineficientes e desmontando os órgãos de controle ambiental e de fiscalização, flexibilizando a legislação e não aplicando multas por infrações. Enquanto o desmatamento cresce, o controle decresce. Nítida e intencional atitude de conivência.

A ocultação de dados confronta com os “compromissos” assumidos e antecipados em eliminar o desmatamento ilegal até 2028, fala do ministro Joaquim Leite em Glasgow. A impunidade estimula o avanço do desmatamento. A derrubada criminosa da floresta além de agravar a crise climática, trará sérios problemas diplomáticos e econômicos ao Brasil.

A China, mesmo sendo o maior poluidor do planeta, tem imposto sucessivos bloqueios à carne e a outros produtos agrícolas brasileiros. A União Europeia ameaça não comprar soja, cacau, café, óleo de palma, carne bovina, madeira e derivados de países e áreas de desmatamento.

As sanções impostas agravarão ainda mais a combalida economia do país onde a inflação e a fome galopam sem clemência. A tentativa de lavagem verde e a construção de uma imagem distante da real pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo presidente da república que afirma que “a floresta não queima por que é úmida”, “que ela se mantém intacta, exatamente igual a quando o Brasil foi descoberto, em 1500” e que “90% da Floresta Amazônica estão preservados”, contribuem para corroer, ainda mais, a reputação do país perante o mundo todo.

O governo presta um desserviço gerenciando as questões ambientais à sombra da transparência e com mentiras deslavadas como se o Brasil fosse uma ilha incomunicável e isolada desconhecendo os sistemas de monitoramento global. Bolsonaro é versão piorada do Era uma vez que não via nenhum problema em derrubar as árvores de Trúfula para fabricar não necessidades, personagem da famosa fábula “O Lórax” escrita por Dr. Seuss.

O livro “O Lórax” fala sério sobre os problemas do planeta, apesar de destinado ao público infantil e publicado na década de 70. Tapar o sol com a peneira é desconsiderar a grave situação ambiental do planeta e a nossa responsabilidade sobre esta crise.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feira

Nota do Editor: a foto de um recorte do desmatamento verificado na Amazônia brasileira é uma reprodução obtida na internet.

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