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Ciro Gomes e o pombo enxadrista – por Michael Almeida Di Giacomo

O articulista e o “debate” que opôs o presidenciável do PDT a um humorista

Há um conceito psicológico, oriundo do mundo virtual, sobre o comportamento de um dos lados em uma acalorada discussão – sobre qualquer matéria. O princípio é comumente relacionado ao debatedor que tem menos referências empíricas ou cientificas.

O conceito/princípio é descrito do seguinte modo: “Discutir com ‘fulano’ é o mesmo que jogar xadrez com um pombo, ele ‘defeca’ no tabuleiro, derruba as peças e sai voando cantando vitória”.

É exatamente o que aconteceu entre Ciro Gomes, candidato pedetista à presidência da república, e Gregório Duvivier, ator, humorista, escritor e um dos fundadores do canal Porta dos Fundos, ao protagonizarem um “debate” no último dia 20.

Duvivier, graduado em Letras, é apresentador no canal HBO Brasil do “Greg News” – um programa de entretenimento que traz um olhar crítico e cômico sobre questões ligadas ao dia a dia do Brasil, em especial, da vida política.

Ainda no início de maio, o humorista dedicou um programa inteiro a “zoar” o neo-pedetista e sua turma. Mas esse não foi o motivo a causar a indignação de Ciro, a ponto de desafiar Duvivier para um debate.

Perto do final do programa – que já tem mais de 1,3 milhões de visualizações no canal do Youtube – o apresentador argumentou que o fato de Ciro Gomes priorizar o seu projeto presidencial afasta a possibilidade de uma vitória de Lula já no primeiro turno da eleição.

E, ainda, que uma derrota do capitão no primeiro turno impediria a extrema-direita de aplicar um golpe, pois a trupe bolsonarista teria que anular a eleição de todos os governadores e parlamentares – o que no segundo turno, já com as bancadas formadas no Congresso Nacional, seria muito mais fácil.

O raciocínio de Duvivier, que é tão somente uma replicação do que alguns (muitos) apoiadores de Lula vem repercutindo nas redes sociais é um tanto infantil.

Primeiro, porque se Bolsonaro quiser aplicar um golpe, pouco importará o tempo – uma vez que qualquer ação golpista estaria consubstanciada em argumento – fático ou não – e no apoio popular – impossível de prever de forma antecipada.  E, segundo, porque Lula já está com sua chapa completa. Não há espaço para o Ciro Gomes. Da mesma forma que não houve em 2018.

Ora, em um estado democrático de direito, querer impelir a sua vontade política, sem considerar que o outro –  a fim de defender suas ideias e projetos, também tem o direito de transitar em meio à esfera pública – reza diretamente sob cartilhas totalitárias. É exatamente esse o pensamento de quem busca constranger/restringir a candidatura de Ciro Gomes.

O candidato pedetista, ao convidar Duvivier para um debate sobre esse ponto e outros levantados no programa de humor, perdeu a mão e oportunizou que o “pombo” derrubasse as peças do tabuleiro e saísse cantando vitória. Foi constrangedor.

Uma vez que não concorre a nada, o humorista nada tinha a perder. E foi o que aconteceu. Ciro, que tentou implementar uma narrativa mais lógico-política, se perdeu ao ser confrontado com argumentos desprendidos de qualquer base empírica ou científica.

Um vacilo de um líder experiente em debates com outros políticos, mas que não teve o mesmo senso de oportunidade ao confrontar ideias com um humorista – o “pombo” enxadrista.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: a foto (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é uma reprodução obtida na internet. Você pode encontrá-la AQUI .

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2 Comentários

  1. Pano de fundo de toda esta gente, tem muitas coisas em comum. Desenvolvimentismo trabalhista do PDT (que vem do fascismo do tio Benito) Alás, Dilma, a humilde e capaz, foi membro fundadora do PDT. Que fecha com Arno Augustin, que fecha com Mantega e Mercadante, que fecha com os ‘economistas’ da Unicamp, ou seja, todos desenvovimentistas. Sem ilusões, turma do Cavalão também possui desenvolvimentistas, uma milicada de pijama. E, final e obviamente, turma do Ciro da Massa acha que ele ‘colocou Duvivier no lugar dele’ e os cavalistas concordaram, Duvivier foi ‘humilhado’ por Ciro da Massa. Resumo da opera. Questão de bolha e de ponto de vista.

  2. Duvivier, graduado em letras. Questão: o que o soprante tem a ver com as bombachas? Humorista é um ‘intelectual organico’ no sentido gramsciano. Foi escalado para a tarefa independentemente da capacidade cognitiva. Depois vem o pensamento mecanicista. Ciro da Massa tiraria votos do Molusco com L., o honesto, no Nordeste. O que ‘prejudicaria’ o mesmo. Problema é que não existe nada garantido nisto daí. Detalhe: Duvivier mentiu (grande novidade um Vermelhinho mentindo ou criando teoria da conspiração) que Molusco com L., o honesto, teria sido ‘inocentado’. Alás, falando em teoria da conspiração, não vai acontecer golpe nenhum, é pura balela/cortina de fumaça. Ciro da Massa acredita que o confronto é uma ferramenta politica eficaz. Funciona até por ali.

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