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SAÚDE. Audiência e exibição de filme marcam Dia Nacional da Esclerose Múltipla na Assembleia do RS

Do diagnóstico ao tratamento, as dificuldades para os pacientes desta doença

Atenção aos pacientes gaúchos de Esclerosde Múltipla em discussão hoje durante audiência na AL (Foto Christiano Ercolani/Divulgação)

Da Assessoria de Imprensa do Deputado Valdeci Oliveira

O Dia Nacional de Conscientização sobre Esclerose Múltipla, 30 de agosto, foi marcado na Assembleia Legislativa pela realização de uma audiência pública e pela exibição, em sessão especial de pré-lançamento, do documentário Esclerosada não é a avó. A atividade foi promovida pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente, por iniciativa do deputado Valdeci Oliveira (PT). 

O curta-metragem, dirigido pelas jornalistas Erenice de Oliveira e Marcia Denardin e pelo cineasta Luiz Alberto Cassol, retrata a vida de mulheres diagnosticadas com a doença, que é progressiva e incapacitante. Na obra, quatro delas (Aline Souza, Bruna Rocha Silveira, além de Erenice e Márcia) falam – como pacientes ou como familiar cuidadora – sobre as angústias, desafios, cuidados, capacitismo e discriminações sociais que emergem diante de uma doença crônica, e também sobre as vitórias em um cotidiano dificultado por estigmas e rótulos.

“Não somos um rótulo, uma estatística. Temos identidade e importância para as pessoas que nos rodeiam. Muitas vezes, não podemos fazer coisas simples como lavar a louça ou varrer, mas somos capazes de fazer outras coisas”, apontou Márcia. “Teve um dia que eu falei para minha mãe que eu iria raspar a minha cabeça (….) porque as pessoas respeitam quem tem câncer. Quem tem esclerose múltipla não, porque ninguém sabe o que é”, relata Bruna no filme. Segundo apontado pelos presentes, pesquisas indicam que 80% da população desconhece a moléstia e como ela se manifesta.

A esclerose múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o sistema nervoso central, produzindo lesões cerebrais e medulares. Atinge principalmente mulheres e jovens e é a segunda causa de afastamento do trabalho nesta faixa etária. “Não é uma doença de idosos e nem uma sentença de morte. Não há cura, mas há tratamento, cuja eficácia é maior quando a doença é diagnosticada logo”, frisou Márcia. “Não somos portadores de EM, nós temos EM e precisamos de respeito. Não temos o privilégio de poder esperar (diagnóstico e medicamentos)”, destacou Ricardo Farias, paciente e presidente da Associação Gaúcha de Pessoas com Esclerose Múltipla (AGAPEM). 

O diagnóstico, no entanto, tem sido o principal obstáculo enfrentado pelas pessoas com esclerose múltipla. Segundo Farias, normalmente os doentes vivem uma verdadeira saga. “Achar um médico que entenda da doença nem sempre é fácil. E depois disso, temos outra batalha, que é lutar pelo fornecimento dos medicamentos em dia”, revelou.

O neurologista Jefferson Becker, coordenador do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em EM, ressaltou que a gama de medicamentos para tratar a doença aumentou muito nos últimos anos, mas que as dificuldades para obtê-los também. Segundo ele, pacientes têm, sistematicamente, pedidos negados pela Secretaria Estadual de Saúde e pela Justiça.

Ele defendeu a criação de um protocolo de tratamento para o Rio Grande do Sul, além da desburocratização do atendimento multidisciplinar para evitar o vai e vem de pacientes por diversos estabelecimentos de saúde para fazer o acompanhamento da doença. “Ter dois surtos por ano (o que é comum na conjuntura hoje posta) é inadmissível, pois vai acumulando incapacidades enquanto podemos oferecer treatamento”, protestou Becker.

Já o defensor público Tiago Rodrigo dos Santos, que também é paciente, defendeu a criação de centros especializados em Neurologia e atendimento de pacientes com EM. Para ele, “Todo atraso pode ocasionar em uma lesão no cérebro e levar à dependência (da pessoa acometida) de parentes ou cuidadores. E isso não é bom para ninguém, nem para as famílias nem para o próprio estado (em termos de custos)”, afirmou.

“Além das ações necessárias que precisam ser tomadas pelos governos em termos de políticas públicas, esta audiência demonstrou que a sociedade gaúcha e brasileira precisa debater muito mais sobre a esclerose múltipla, que é invisível, degenerativa e que precisa ter seu diagnóstico feito de forma rápida e precoce. O estado, enquanto ente público, seja na esfera municipal, estadual ou nacional, precisa urgentemente enxergar essas pessoas, assumir sua obrigação. Pelo documentário aqui apresentado, pelos depoimentos dados, experiências relatadas e pelas condições das pessoas com EM – necessidade de judicialização para acesso a medicamentos, isolamento e preconceito, entre outras -, podemos dizer que foi uma audiência pública histórica”, avaliou Valdeci Oliveira.

No final do encontro, o parlamentar propôs como encaminhamento a realização, a ser requerida pela Comissão de Saúde, de uma reunião com a secretária de Saúde, Arita Bergmann, para discutir a adoção de um protocolo que atenda desde a disponibilização de medicamentos a consultas, respeite os prazos e as características do tratamento e para discutir a possibilidade de criação de centros especializados em esclerose múltipla.

Também será realizada audiência em Santa Maria (que tem maior índice de diagnóstico de EM por 100 mil habitantes – o RS tem mais do que o dobro da média nacional) para articular a reabertura do ambulatório para atendimento da EM no Hospital Universitário (HUSM) e avaliar o papel do Hospital Regional, que ainda conta com parte de sua estrutura ociosa, neste contexto. Articular a distribuição e divulgação do documentário para hospitais e profissionais de saúde também constou na deliberação dos presentes, público este formado majoritariamente por pacientes e familiares.

Em seu percurso de festivais, Esclerosada Não é a Vó recebeu, recentemente, o Cisne de Ouro de Melhor Documentário no Festival de Curta Metragens de Santo Ângelo (RS), participou de Categoria Especial no Festival Guarnicê, do Maranhão, e será apresentado, em outubro, no Festival de Jaraguá do Sul (SC) como Documentário Convidado. Nesta quarta, o documentário foi selecionado para integrar a Mostra SESC e deverá ser exibido nas atividades culturais da entidade em todo o país.

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