ARTIGO. A tragédia ambiental de Mariana, um ano

Pela Irmã LOURDES DILL, Coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança

 “O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para administrar em benefício de todos. Se não o fizermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros”. (Papa Francisco, Laudato’Si).

No dia 05 de novembro de 2016, completa um ano que ocorreu o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, de responsabilidade da Samarco Mineração S. A de Mariana, Minas Gerais. Este crime ambiental sem precedentes foi amplamente noticiado na mídia local, nacional e internacional por contribuir na maior catástrofe Socioambiental Brasileira, algo nunca visto, neste crime de envergadura ambiental.

Com o rompimento da barragem, cerca de 50 milhões de m³ de rejeito de minério de ferro, foram liberados no Município de Mariana/MG, na parte alta do Rio Gualaxo do Norte e em seguida atingiram o leito do Rio Carmo e do Rio Doce, até chegar ao mar.

A imensa onda de lama, inicialmente destruiu o distrito de Bento Rodrigues, seguindo para outras comunidades, Municípios e um território regional, tirando a vida de pessoas no caminho. O rejeito de minério destruiu centenas de casas, plantações, pastagens, acessos, infraestrutura de produção rural, propagando um rastro de destruição por onde passava de forma violenta e incontrolável.

Este foi um crime ambiental que ceifou a vida prematura de 19 pessoas, atingindo mais de 600 famílias direta e indiretamente e gerou até o momento mais de 15 mil processos na justiça de Minas Gerais e todos os Municípios atingidos da região.

Este crime ultrapassou os limites do Município de Mariana, estendendo-se por mais de 39 Municípios, no curso aproximado de 826 km, até a foz do rio, impactando a fauna aquática por onde passou, tornando a água imprópria para o consumo e consecutivamente, desabastecendo cerca de 1,2 milhões de pessoas. As famílias atingidas perderam tudo, não só os bens materiais, como também o modo de vida e a tranqüilidade que desfrutavam as comunidades atingidas.

Uma das estratégicas clara da Samarco é de individualizar as ações indenizatórias, não possibilitando uma auto-organização dos atingidos nas ações coletivas de reparação destes danos ambientais, morais, econômicos e sociais.

Diante dos fatos e desafios, a Cáritas Brasileira em parceria com a Cáritas de Minas Gerais, estão contribuindo na organização e formação destas famílias, para que sejam alcançados os seus direitos e ter o mínimo de formação e organização. Esperamos que a empresa responsável possa cumprir as suas obrigações, mesmo que um fato trágico desta envergadura ambiental, a história jamais vai apagar. É um crime que clama ao céu e indigna todo povo brasileiro. É uma perda irreparável.

O grande desafio é o processo de violação dos direitos que foi claramente contatada durante as visitas feitas pelos agentes da Cáritas de Minas Gerais. Outro ponto que merece atenção é o risco atual do processo de reparação de perdas e danos, pois é algo complexo e demanda um grande esforço destas famílias, já vitimadas. Foi diante deste contexto que o Ministério Público de Minas Gerais, fez um chamamento para a Cáritas participar na reorganização e recadastramento das famílias atingidas e viabilizar a organização e formação. Esperamos que crime desta envergadura ambiental, nunca mais aconteça no Brasil e no mundo e que as empresas sejam responsáveis por estes danos morais e ambientais e sejam mais cuidadosas com a Casa Comum, o Planeta Terra.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto que ilustra este artigo é uma reprodução da internet