A viagem – por Luciana Manica

Preparar-se para viajar, depois de anos sem férias, soa ser uma retomada de algo único, quase que como ir morar sozinho pela primeira vez. Uma mistura de ansiedade com preocupação. Sim, os prazos não param, você (advogado) talvez não consiga se desvincular do sistema push. Mas fique tranquilo, na semana imediatamente anterior às férias tudo acontece. Literalmente tudo!!

O seu manequim aumenta dois números num piscar de olhos. O seu bronze que estava tão revigorado se vai no primeiro frio. Todos os processos que estavam nas varas debaixo da última pilha ressurgem das cinzas. Os autos esquecidos reaparecem para serem julgados na próxima pauta, exatamente no dia que você comprou o ticket para assistir ao jogo do Miami Heat (NBA). Resumo, você tenta preparar seu corpo e mente para relaxar, mas a herpes surge como um monstro interno e aflora em pleno outono.

Mas não para por aí. Você tem que verificar passaporte, moeda, voucher de passagem, ticket do ABBA, vacina de febre amarela, H1N1, tétano, coqueluche e, é óbvio, contra raiva. Aliás, nessa fase que você ainda não partiu, não se depilou, não fez pé e mão, e ainda tem que pensar em quem vai molhar suas plantinhas no seu apartamento, cuidadas com tanto carinho, ainda, deverá refletir se vai encarar a lua-de-mel sozinha. Hein?! Sim, nesse momento você não sabe se seguirá acompanhada. Que homem que aguentaria uma mulher solicitando opinião para qual das mil opções de miniexcursões ofertadas seria bacana ir? Sendo que a única dica que te deram não tem nem sinal de existência! Você pensa, onde fica o raio da Blue Lagoon Island? Neste cenário, certo que ele troca você por qualquer meia dúzia de cerveja.

Tem mais! Sabe aquele cliente que estava por fechar negócio com você há meses? Pois é, ele lhe contata disposto a pagar mundos e fundos para ajuizar 6 ações. Aí você pensa … nessa crise … mando o marido sozinho para a lua-de-mel? Não, você é guerreira e dará conta de tudo! Mulher hoje em dia é prática: pega o Gillete; faz um jet bronze antes de partir; dá de mão no Ipad e escreve a ação no avião… E o marido? Do seu lado, confabulando uma forma de lhe atirar do navio sem chamar atenção dos demais para não dar ensejo que alguém grite: “- Olha uma baleia ali!”.

Na dúvida, melhor você convidar um amigo dele para ir junto (sim, na lua-de-mel, digo, na suposta lua-de-mel)! Sabe como são os homens, eles se dão bem (em tese, melhor que as mulheres entre si) e com cerveja tudo fica ótimo. Resolvido. Com essa, sou capaz de não ser jogada ao mar (oremos!).

Nesse meio tempo, ainda têm as regras básicas de cruzeiro, como o tão falado jantar com o capitão. Vem cá, quem disse que as pessoas querem jantar com o boneco? Que gala o quê! Deixa eu colocar uma rasteirinha na mala e um pedaço de pano (grande) para tapar toda a circunferência do corpinho e era isso. Nada de glamour, só sombra e água fresca.

Mas dizem que viajar é ótimo! Eu sou fã, e aplico sempre a máxima: “o conhecimento adquirido é impenhorável!”. Mas, seguinte, não deixa o cartão de crédito de garantia, que a conta vem (e grande)!