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No tempo da Independência, 550 – por Alice Elaine Teixeira de Oliveira

Era a época dos anos dourados do rock nacional e o menino cabeludo odiava tudo aquilo, gostava mesmo do que vinha de fora e ainda mais se fosse da década anterior. Guardava pilhas de discos e conhecia a história de cada um deles. Curtia o som dos velhos ancestrais e criava seus próprios versos. Parecia um misto de Jim Morrison com Paulo Ricardo, mas não gostava da última comparação.

Respirava música e pulsava o coração por lindas garotinhas. Os garotos da rua faziam a festa e ele era sempre convidado. A vida continuava seu curso dentro da normalidade do mundo do menino cabeludo.

Quando o Maverick azul estacionou ao lado de sua casa, ele nem ligou. Chamou um pouco a sua atenção por seu ronco e suas linhas inconfundíveis, mas nada que exigisse maior desprendimento. O cara do violão é que realmente tocou seus sentimentos sonoros. O menino era um prodígio com seu violão folk da Giannini.

Não levaria muito tempo para que uma amizade com laços musicais se estabelecesse. Mas, havia um problema… Na vida daquele jovem rapaz de habilidades existia uma sombra que sempre persistia em lhe acompanhar, mesmo durante a noite, era a pedra e o chiclete do sapato, o calo do seu pé, o castigo da sua vida…

O endereço deles remetia à Independência e a Liberdade ficava a poucos metros dali, mas a vigília da coisinha viscosa era constante. Aquilo era como que um barulho de bate-estaca de uma obra grande, uma caturrita insistente num capão de mato. Podia ser comparada a um motor de atividade infinita! Não dava folga, e agora tinha outro alvo além do menino do violão…

Não demoraria muito mais para que o garoto cabeludo notasse que o grude pertencente ao seu amigo logo grudaria também em si. Dito e feito! Em pouco tempo não havia mais a necessidade do violão estar presente para que a resina pegajosa que sempre o acompanhava colar-se a ele próprio.

Aqueles garotos nunca estavam na mais completa paz. Na audição do acervo de LPs, ela estava lá. Na cantoria do fim de dia, na calçada, também estava presente, e suas intromissões eram sempre não requisitadas, e quando a polícia foi chamada devido a uma reclamação de perturbação do sossego, com certeza foi a voz da dita cuja que deve ter causado o problema.

Mas, o que para uns fora o inferno, para ela aquele tempo fora aquele no qual ela começou a lançar as sementes para o seu vindouro paraíso. O menino do violão sempre fora o astro pop, o garoto mais inteligente da sua vida, o mágico mais astuto, o inventor mais perfeito, o narrador de futebol mais hilário, enfim, alguém para ser admirado por ela por tudo que fazia, ele tinha o toque de Midas, mas ela sentia-se como ninguém e sua maior pena era que ela sempre precisava implorar para estar na plateia.

Por outro lado, o menino cabeludo iluminou seu mundo que havia sido voltado para o garoto do violão. Ele sentia pena e apelava por ela, intercedia junto ao violeiro por sua permanência mesmo que incomodativa. Este cabeludo deferiu atenção as suas curiosidades e insistências. Dividiu o lanche, e mesmo que para ele isso fosse algo comum e corriqueiro, para ela foi o primeiro “X” da sua existência. Ele mostrou muitas coisas novas para ela admirar, e dentre tantas, ela passou a admirar a si própria. Deixou de ser a coisa impertinente e gosmenta da vida de outros. Agora ela era só a Irmã mais nova… dos DOIS (porque não se muda tanto assim em pouco tempo)!!!

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