Coluna

Carta para Dunkirk – por Bianca Zasso

Não quero entrar no ringue onde os adoradores e os “odiadores” do diretor Christopher Nolan se digladiam. Digo isso logo de início porque muitas foram as indagações sobre de que lado da luta esta que vos escreve iria ficar. Pois bem, eu sempre fico do lado do cinema e minha fase de defender com unhas e dentes ou mesmo declarar ódio a algum realizador já passou. Pode ser a idade, mas não coloco minha mão no fogo por ninguém. Talvez por Akira Kurosawa e John Cassavetes, mas estes eu já conheço de outros carnavais.

Então: Dunkirk é um filme de guerra. Pode parecer uma frase idiota, mas é de grande importância, já que muitos são os roteiros ambientados em conflitos, mas poucos são os que se preocupam com a trincheira e o embate. Não que isso seja um defeito, mas num ambiente propício para imergir o espectador como é uma sala de cinema, um pouco de sangue e pólvora é sempre bem-vindo.

Dunkirk é feito para a tela grande. Barulhento, sujo e tenso. Em seus melhores momentos, pois Nolan não se libertou do vício de deixar tudo explicadinho nos mínimos detalhes. Dessa vez a função de informante de dados coube ao ator Kenneth Branagh. O seu Comandante Bolton tem diálogos repletos de números e dados. Se são corretos, aí já não sei. Eles poderiam não existir e Dunkirk ainda manteria sua força intacta.

Nolan acerta o passo por não dar ao espectador o que seria mais comum em meio a uma trama de grande tragédia, que é um protagonista sofredor. Ao invés de focar em apenas um soldado ou salvador, o cineasta vai pincelando a tela com vários personagens e suas percepções sobre a evacuação do exército britânico via litoral francês.

Temos o jovem soldado que só deseja sobreviver e voltar para casa, o frustrado com a derrota, o piloto que precisa tomar decisões extremas, pai e filho que usam o próprio barco para ajudar no resgate. Não é preciso se identificar com nenhum deles nem mergulhar fundo em suas histórias pregressas para que haja simpatia. Nossos olhos estão fixos talvez nas melhores cenas de ataques aéreos da última década e no insistente tom sombrio da fotografia assinada por Hoyte Van Hoytema.

Este texto não é uma crítica. Pode parecer uma frase idiota, mas é necessária. Eu poderia discorrer páginas e mais páginas de todas as lembranças e sensações que assistir Dunkirk me causou, mas prefiro deixar o convite ao prezado leitor. Vá ao cinema. Dunkirk foi feito para ele e só na sala escura ele pode ser desfrutado até a última gota, remetendo aos clássicos de guerra, que nos permitem sentir medo, frio, fome e desejo sem levantar da poltrona. Duas horas na praia de Dunkirk e muita emoção, do tipo que faz tremer a cadeira, é o que Christopher Nolan nos dá. Que ele continue neste ritmo. E leve mais guerra ao cinema, já que aqui fora não temos os créditos finais para aliviar a dor.

Dunkirk

Ano: 2017

Direção: Christopher Nolan

Em cartaz nos cinemas

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