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Um final afinal – por Orlando Fonseca

Desde o final do ano passado, 2016, minha impressão é cada vez mais crescente de que o ano não termina, e derrama sua história pelo ano seguinte. Isso significa que, agora, final de 2017, muito do que deveria ser dado como concluído, terá um desfecho definitivo no ano novo, no ano que vai nascer. Claro que, começando pela conjuntura política, a qual influencia na economia (e vice-versa), na vida profissional, no cotidiano das famílias, a impressão se alastra pela experiência das pessoas. Afinal, são projetos que não se concluem, afetos que não se consolidam por inteiro, sonhos que são adiados. Ainda que, em perspectiva, 2018 não me parece com cara de que vai cumprir com o que se espera dele.

O famoso jingle global, há muitos anos vem despejando em nossa orelha durante o mês de dezembro “que é um novo dia, de um novo tempo que começou”. Talvez isso explique a impressão geral: as coisas também têm a tendência de se antecipar, tanto no plano governamental – e como se sabe, a Globo tem interesses a administrar – quanto na vida comum, do dia a dia.

O futuro já começou, é o que insiste a letra da canção que é mais do que uma vinheta televisiva, torna-se uma moldura no cotidiano nacional. Há os que põem a desculpa na crise para, já ao final de novembro, enfeitar as vitrines com a decoração natalina. O comércio vende também a ilusão de que é preciso correr, se antecipar, e ainda faz bordão com as ofertas: pague só no ano que vem. Ou seja, no final das contas, as contas não têm final. E por aí o ano não fecha, sempre ficam restos a pagar.

Em vista das marchas e contramarchas políticas, ao parlamento cabe a parla, e a nós o lamento. Os projetos não andam, as votações se acumulam, as reformas se encaminham ao sabor dos interesses do mercado – esse deus soberano que comanda as mentes em Brasília. A venalidade dos congressistas cada vez mais se escancara: o Presidente não precisa mais fazer as negociatas na calada da noite; o articulador deixa explícito o pregão dos votos e o Congresso Nacional é invadido por vendilhões e por vendidos. E nesta bolsa do toma lá-dá-cá, a vida do trabalhador, do aposentado, do pequeno empreendedor oscila entre o inferno e o paraíso. E um ano é pouco para que se decida o rumo dantesco que a conjuntura vai tomar.

Por isso, mais do que tudo, gostaria de ter um final de ano. Não importa a qualidade, mas que seja um final. Não o fim do planeta, não o fim dos tempos, nem mesmo o fim da picada. Um final, ao menos, um ponto final na narrativa de 2017. Sei que se trata de mera convenção, pois a Terra há de seguir o seu curso indiferente às preocupações comezinhas dos que não têm saudade do ano que se foi. Dos que pretendem renovar propósitos, partindo do zero, com a firmeza de que as resoluções não cumpridas ao longo dos últimos doze meses serão efetivadas nos próximos.

Que as boas festas sejam boas, mas que o adeus ao ano velho seja definitivo, que ele se aquiete na folhinha descartada e vá para o arquivo morto, para o acervo de lembranças boas ou más, mas que tenha o fim que merecem os anos findos. No fundo, sei a essas alturas da vida, que tudo é ilusório, nem um ano finda, nem outro começa, pois já cantávamos, há muito tempo, diante do não acontecido, essa nossa esperança de uma segunda oportunidade: “Que tudo se realize, no ano que vai nascer”. Bom, já que tem sido assim, por que não tentar de novo? É o que desejo a todos, vai que desta vez dê certo.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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