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A social-democracia e a busca por uma nova narrativa – por Michael Almeida Di Giacomo

E ainda a coalizão que passa a governar a Alemanha e no que ela influencia

A social-democracia, ideologia política que tem sua origem no movimento operário do século XIX, desde Ferdinand Lassalle, escritor e político alemão – a depender do tempo no qual é exercida, resta por sofrer significativas mudanças conceituais e principiológicas.

Foi o que aconteceu no ano de 1875 quando a “Associação Geral dos Trabalhadores Alemães” – fundada por Lassalle, uniu-se com o “Partido Social Democrata dos Trabalhadores”, a formar o “Partido Socialista Operário da Alemanha”.

Adiante, em 1890, a referida união partidária – de raiz marxista – mudou o nome da agremiação operária para “Partido Social-Democrata da Alemanha”. Hoje é reconhecido como o segundo partido mais antigo do país.

No decorrer do século XX, o ideário revolucionário marxista – no encontro de uma sociedade comunista – foi refutado pelos socialistas democratas que adotaram uma posição moderada em suas ações políticas. Neste contexto, a partir da segunda metade do século, os fundamentos de um Estado de bem-estar social e democrático passou a permear o programa social-democrata.

A posição por uma reforma do modo capitalista – e não sua supressão – a fim de mitigar as diferenças sociais, teve por base principiológica as teorias econômicas do britânico John Maynard Keynes. 

O pensamento keynesiano defendia um Estado protagonista na organização da economia, a promover intervenções cíclicas – em tempos de crises – na ideia de aumentar a demanda interna e reaquecer a economia.

Os tempos mudaram.

O DNA “camaleônico” da social-democracia e, conforme palavras do professor António Avelãs Nunes na obra “Os caminhos da Social-democracia europeia”, o abandono da sua matriz ideológica e do legado keynesiano, servem de fonte para analisar sua aproximação com as ideias liberais.

Essa nova etapa surge no final da segunda metade do século XX, quando o Partido Trabalhista britânico, o Partido Democrata norte-americano e o Partido Social-Democrata alemão promoveram ações políticas a partir da combinação do livre-mercado e regulação estatal. À época, diz-se, teve o surgimento da “nova esquerda”, denominada “terceira via”, tendo por viés ideológico a defesa do “liberalismo social”.

No Brasil, a terceira via esteve representada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, quadro político de um partido social-democrata – e que, na verdade, durante seus dois mandatos esteve mais próximo dos partidos da direita brasileira do que da centro-esquerda.

Ao sabor da social-democracia europeia, o governo FHC adotou uma agenda “social-liberal”, conforme afirmou Armínio Fraga, e promoveu profundas reformas no Estado e na economia brasileira.

Agora, no limiar do século XXI, na Alemanha, com o novo chanceler, Olaf Scholz – considerado um político bastante centrista -, a esquerda do velho mundo pretende inaugurar uma nova fase da social-democracia no cenário político.

Nesta conjuntura, espera-se uma resposta mais efetiva do Estado em questões ambientais, ampliação das políticas públicas na área social, aumento do valor da hora referente ao salário mínimo, moradia, educação, atenção aos direitos digitais, o sistema migratório, no uso recreativo da maconha, entre outras ações políticas de igual importância – principalmente – ligadas às novas tecnologias e ao aparato estatal, sem aumento de impostos.

A coalização do novo governo – que inicia na centro-esquerda, passa pelos liberais, indo ao encontro da esquerda, por meio da afirmação de uma nova narrativa, poderá – quem sabe – conter a onda neopopulista, xenófoba e nacionalista que acompanhamos nos últimos anos, inclusive com reflexos na América Latina.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Nota do Editor: a imagem da rosa vermelha, símbolo da social-democracia, é uma reprodução obtida na internet.

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4 Comentários

  1. Onda neopopulista? Molusco com L. é Populista com ‘P’ maiusculo. Tem que ser contido também? Para ganhar o rótulo de ‘xenofobo’ basta alertar para os problemas da imigração (esquerda garante que todo imigrante terá netos ‘Elon Musk’, o que é risivel). Alemanha, foi uma das causas da derrocada de Merkel, tem getos onde se fala turco e outros idiomas. Getos onde a lei vigente é a islamica. Getos onde a taxa de natalidade (curva demografica dos alemães já está na descendente) é maior. É uma possivel bomba relogio. Implantar uma politica de migração ‘duela a quem duela’ (preferencialmente doendo nos outros) tem consequencias. Nacionalismo por si só não é problema. Alás, sociedade sem um minimo de identificação comum, dividida em escaninhos, chega a lugar nenhum. Sem o conceito comum de ‘nação’, com divisões, fica dificil defender os proprios interesses. Alás, o discurso ‘melhor que os outros’ é perigoso, mas volta e meia ouve-se por aqui o ‘maior do mundo’, ‘melhor do mundo’ para coisas reais, imaginarias ou irrelevantes.

  2. No mais, o mesmo. ‘Resposta mais efetiva do Estado’, ou seja, mais intervenções feitas por amadores, cabeças de bagre, politicos que só sabem angariar votos e ‘tirar uma lasquinha’. Intervenção nos problemas que foram ‘apropriados’ pela esquerda. Milagre/lorota ‘sem aumentar impostos’ (kuakuakuakua!). Uso recreativo da maconha deu ruim no Uruguai, gerou um monte de problemas. E o problema não é o uso, é tirar o estigma da reprovação social de uma classe média maconheira. Porcentagem de usuarios (utiliza ou utilizou) não chega a 8% da população segundo alguns. Ou seja, para arrumar a vida de uma minoria se coloca a maioria em risco. Aumento do valor da hora do salario minimo sem aumento de produtividade (de novo a educação) é solução simples, instantane, para um problema complexo, prenuncio de uma c@g@d@, Simples assim.

  3. Na fundação do PSDB Efeagá era figura secundária. Montoro, Covas, Afonso Arinos, muitas figuras eram mais importantes, mas Efeagá virou presidente na carona do governo Itamar. Puro acaso. Brasil não precisa de ‘narrativas’, de mentiras e enrolação a maioria já está cheia. Pais precisa de menos mimimi e de mais resultados.

  4. Do idealismo/romantismo alemão do século XIX aos dias de hoje. Daí aos problemas de querer tocar o mundo com filosofia, coisa que o pessoal do juridico não consegue compreender. Resumo da ópera é simples, a esquerda-esquerda quer ser disfarçar de social democrata. Vide governo Dilma, a humilde e capaz. Mariana Mazzucato, economista italo-americana era muito citada para justificar a intervenção do Estado na economia, inclusive ela visitou o Brasil. Quando o barco começou a afundar voltou e disse que defendia intervenção do Estado ‘mas não da maneira como foi implementada no Brasil’. Ou seja, tirou da reta. Não é todo dia que se ve dinheiro do BNDES, uns falam em 10 bilhões, dado para um Eike Baptista virar fumaça.

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