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Educação especial, sobrecarga e esgotamento dos professores – por Demetrio Cherobini

“O ‘burnout’ tem sido um fantasma a rondar todos os profissionais das escolas”

Uma pesquisa recente, feita pela Universidade Federal de São Paulo, mostrou dados desconcertantes sobre a educação básica no país: um terço dos educadores sofre da síndrome de burnout – diagnóstico para o esgotamento físico e mental decorrente do estresse diário no trabalho.

Participaram da pesquisa professores de escolas públicas e privadas de vários estados, sendo a maioria (87%) mulheres. Além do esgotamento, a síndrome pode gerar transtornos psicológicos diversos (ansiedade, insônia, depressão), alterações metabólicas, comportamentos compulsivos e até dependência química.

Os elementos que provocam o burnout são as más condições laborais gerais: sobrecarga, defasagem salarial, salas de aula lotadas, prolongamento da jornada, intensificação do trabalho, pressão por resultados etc. Uma das suas consequências é o declínio da qualidade do ensino realizado pelos professores que sofrem o esgotamento.

Em Santa Maria, a sobrecarga é visível entre os professores municipais, especialmente na educação especial. Os educadores se queixam, justamente, do excesso de tarefas, quantidade exorbitante de alunos, ter de trabalhar em várias escolas, pouco tempo para planejamento e desmedida pressão, por parte da Secretaria de Educação, para que “tapem furos” de profissionais que faltam na rede, como monitores, psicólogos, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais, entre outros.

Estariam esses professores já próximos do burnout? Inegavelmente, a sobrecarga de trabalho torna difícil o educar. Na educação especial, por exemplo, para obter bons resultados, o professor precisa criar, antes de tudo, um vínculo afetivo positivo com os estudantes, a fim de poder realizar com eles as atividades próprias do ensino.

A criação desse vínculo é fundamental para que o educador consiga inspirar nos alunos a assimilação das regras, rotina e hábitos de estudo necessários para a apropriação do conhecimento escolar. Isto, que se pode chamar de formação da personalidade e do caráter dos estudantes, exige tempo, planejamento, dedicação, diligência, paciência e esforço constante por parte do professor realmente imbuído do propósito de ensinar. Mas como fazer isso se estiver adoecido pelo trabalho?

O burnout tem sido, em nossos dias, um fantasma a rondar todos os profissionais que desempenham funções na escola. Nesse cenário, acredito que os professores têm – para consigo, seus colegas e estudantes – o dever moral de dizer não à sobrecarga,ao acúmulo de funções eàs más condições de trabalho, a fim de evitar o risco do esgotamento e o desperdício irreparável das energias vitais de que dispõem.

No caso da educação especial, em particular, penso que, enquanto durarem os fatores que geram o burnout, o trabalho dos professores seguirá desvalorizado, mera formalidade da escola, coisa “para inglês ver” e fonte permanente de frustração pessoal. Esse quadro lamentável e complexo é o que devemos lutar para transformar, com urgência.

(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.

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Um Comentário

  1. Exelente conteúdo. Importante falar sobre assunto. Pois é a realidade que só quem está na linha de frente sabe , a frustração de querer alcançar bons resultados e não ter o apoio necessário para tal.

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