Artigos

Os 100 primeiros dias (nada auspiciosos) de Trump no poder – por José Renato Ferraz da Silveira e Carolina Gonçalves Pedron

Declínio cada vez mais acentuado dos EUA e nova ordem mundial em transição

“O caos é uma ordem por decifrar” – José Saramago. A frase do escritor português revela “o que nos parece caótico agora pode não parecer depois de algum tempo, quando pudermos olhar para os desdobramentos daquela situação”.

Essa frase resume muito bem a situação atual que se encontra os Estados Unidos nos primeiros meses de governo de Donald Trump, na qual tem realizado movimentações que podem vir a modificar completamente o cenário da ordem internacional global.

O presidente Donald Trump retornou – com triunfo – ao Salão Oval e os 100 primeiros dias de seu governo são marcados por polêmicas, confusões, diplomacia do bully e uma série de recuos atrapalhados. Tal performance desastrosa já se refletiu na opinião pública estadunidense.

Uma pesquisa do Instituto Ipsos, do jornal “Washington Post” e da rede de TV ABC News, divulgada no domingo (27) mostra que Donald Trump é o “presidente dos Estados Unidos com a pior aprovação aos 100 dias de mandato em 80 anos” Aprovam Trump (39%); Desaprovam (55%); Não responderam (5%). Vale destacar que os números não somam 100% por conta de arredondamentos.

A pesquisa foi feita com 2.464 adultos, entre 18 e 22 de abril de 2025, em inglês e espanhol. Uma parcela de 30% dos entrevistados se declarou democrata, 30% republicano e 29% independente. Os resultados têm uma margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Outro dado relevante é que 73% disseram que a economia dos Estados Unidos está em má situação, 53% afirmaram que piorou desde que Trump tomou posse e 41% disseram que as suas finanças pessoais pioraram.

Somado a isso, a edição da revista inglesa The Economist denuncia a concentração de poder no Executivo, o afastamento de qualificado corpo técnico, o ataque às universidades e a imprensa e o abandono de alianças históricas em nome de um “nacionalismo bruto”.

A revista expõe que o governo Trump não é apenas um governo autoritário, na realidade, está demolindo sistematicamente as bases democráticas dos Estados Unidos. Isto pois o presidente tem adotado medidas e ações abruptas que estão instaurando uma imagem mais isolacionista do país, colocando em jogo questões de confiança sobre a nação e trazendo à tona preocupações sobre suas relações comerciais. Além disso, alianças antigas e importantes para sua diplomacia estão sendo quebradas, influenciando diretamente nos seus acordos e vinculações.

As políticas econômicas do presidente, em especial, têm sido um dos maiores alvos de críticas, não só de analistas internacionais em razão da guerra tarifária e o agravamento no PIB, como também da própria população, que por conta da grande mudança no aumento de preços do mercado gerou preocupação nos consumidores americanos.

Outro ponto agravante do novo governo de Trump é a sua ignorância (desprezo) contra os valores democráticos. Os Estados Unidos por muito tempo, foram uma referência em fóruns e organizações voltadas para a defesa dos direitos humanos, não só acolhendo causas, como também implantando-as e servindo de exemplo a ser seguido por outras nações.

Esses ataques ao direito civil os fazem perder seu prestígio e credibilidade, demonstrando o possível decaimento de sua democracia mundo afora e também reforçando uma erosão interna na sociedade, ferindo a diversidade e os valores básicos como de inclusão.

Além desses fatores, algumas questões são ainda mais preocupantes. O país que é visto como uma das lideranças em pesquisa, desenvolvimento e criação, que sustenta sua própria hegemonia pelo pilar de conhecimento e multiplicidade intelectual, agora passa por uma degradação simbólica. As universidades que antes eram vistas como centros necessários para firmar a imagem de hegemonia dos Estados Unidos, agora são foco de cortes, doutrinação e forte repressão.

Essa circunstância afeta a atração de outros estudiosos estrangeiros para contribuir ainda mais para a qualificação americana, não só pelo temor da futura ameaça ao movimento acadêmico, como também pela novas políticas migratórias totalmente restritivas de Trump.

O país deixa de ser um lugar de “abrigo” e “refúgio seguro” para imigrantes e se torna um lugar perigoso para o recomeço de novas histórias. Uma imagem de nação que era feita baseada em pluralidades sociais, culturais e identitárias agora se afunila em um lugar isolado, e em retrocesso jamais visto antes.

Em suma, a incerteza e insegurança são os sentimentos que afligem não só os indivíduos norte-americanos como também a sociedade global. As dificuldades de compreensão das novas ações de Donald Trump trazem à tona uma onda de antiamericanismo no globo, e ao mesmo tempo, aflora sentimentos nacionalistas em outras potências e países, até mesmo em seus próprios vizinhos.

O que podemos constatar é o declínio cada vez mais acentuado dos Estados Unidos e a nova ordem mundial em transição.

(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP)

Carolina Gonçalves Pedron é graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e membro do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo