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A desastrosa fala do ministro – por Marta Tocchetto

O que disse em Glasgow o titular da pasta do Meio Ambiente, Joaquim Leite

O Ministro do Meio Ambiente do Brasil em discurso na maior conferência climática, afirmou: “Onde existe floresta também existe muita pobreza”.

Mais uma fala desastrosa, daquelas de queimar a língua, na melancólica participação do Ministro do Meio Ambiente do Brasil na COP 26. Joaquim Leite se manteve calado durante cinco meses, desde que substituiu o antiministro, Ricardo Salles. Podia ter se mantido assim. O ministro em discurso na maior conferência climática, afirmou: “onde existe floresta também existe muita pobreza”.

A esperança é que o ministro esteja apenas de mal com o português e desconheça o significado das palavras ditas. Porém, se de fato ele quis dizer que é incompatível desenvolvimento com conservação, não apenas os brasileiros estão perdidos, mas a humanidade como um todo.

A prática do governo não nos leva a esperar atitudes em prol da sustentabilidade, nem sentado. As promessas feitas em Glasgow (redução de emissões até 2030, neutralidade climática até 2028 e redução global de metano) conflitam frontalmente com a fala expressa do representante oficial do governo brasileiro.

As atitudes governamentais dizem ainda mais do que as palavras. A busca incessante para flexibilizar o licenciamento ambiental, eliminando-o ou substituindo-o por autodeclaração, é um exemplo.

Aqui cabe um parêntese – o Rio Grande Sul, recentemente, aprovou a flexibilização do licenciamento ambiental para diversas atividades, contrariando os alertas dos ambientalistas. Infelizmente, o estado que já foi referência nacional na área, segue na linha do desmonte promovida por Bolsonaro.

Fechando o parêntese. Diversas ações promovidas pelo governo federal têm ameaçado a floresta, as terras indígenas e os povos tradicionais. O incentivo à ocupação e à invasão destas terras contribui grandemente para a derrubada da floresta, o desmatamento e as queimadas.

Ao contrário do discurso do ministro, a floresta em pé é fonte de riqueza e abundância. A derrubada da floresta é sim uma das causas mais expressivas de pobreza, pois afeta a biodiversidade, as reservas hídricas, as fontes alimentares e as alternativas de exploração sustentável.

A fala inconsequente está na contramão da sustentabilidade – uso equilibrado da natureza e suas fontes, considerando o atendimento das necessidades humanas respeitando a sua capacidade de regeneração e limitação.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) publicou que “a floresta em pé é imprescindível para a manutenção de serviços ecológicos tais como: garantia da qualidade do solo, dos estoques de água doce e proteção da biodiversidade. Os processos de evaporação e a transpiração realizados pelas florestas ajudam a manter o equilíbrio climático, fundamental para a agricultura”.

O estudo ainda complementa: “A manutenção das florestas nas margens dos rios evita erosões, assoreamentos e garante o alimento para vários organismos aquáticos. O sombreamento da floresta mantém a umidade e protege contra os incêndios”. A derrubada da vegetação natural substituída pela seca aumenta a inflamabilidade da área.

Ao contrário da afirmação do ministro, o IPAM assegura: “A floresta com sua biodiversidade oferece alternativas de desenvolvimento da bioeconomia – produção de essências, de fármacos, de cosméticos e de madeira. As atividades extrativistas racionais, não apenas fixam a população local, mas oferecem oportunidades econômicas para o seu sustento e melhoria da qualidade de vida. Além disso, a proteção dos povos tradicionais é uma fonte valiosa de informação para a ciência e a tecnologia moderna, tendo em vista a longa e vasta experiência acumulada. A manutenção da floresta ainda promove o desenvolvimento do ecoturismo”, também afirma o estudo, podendo gerar milhares de empregos diretos e indiretos.

“A exploração racional da madeira é outra oportunidade de atividade econômica e de desenvolvimento social”. O estudo como se pode ver, afirma e demonstra exatamente o contrário do que falou Joaquim Leite. A floresta derrubada e queimada libera carbono para a atmosfera que, juntamente com a queima dos combustíveis fósseis, contribui para o aumento da temperatura do planeta.

A contínua emissão é responsável pelas mudanças climáticas, quebra da safra agrícola, crises energética e hídrica, elevação dos mares, dentre tantas outras consequências catastróficas.

A fala do ministro, além de revelar desconhecimento, põe mais lenha na fogueira das intenções desacreditadas do Brasil em eliminar o desmatamento e em manter a floresta, assim como na recuperação da desgastada credibilidade internacional, por conta de práticas que em nada se harmonizam com a preservação, a conservação e o respeito ao meio ambiente.

O INPE revelou, em plena realização da COP 26 que a destruição da floresta, em outubro de 2021, foi 5% maior do que o índice atingido em 2020 e o maior desde 2016, quando o sistema de alerta do desmatamento na Amazônia começou a ser realizado. Os números não mentem e dizem mais do que mil promessas.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feira

Nota do Editor: a foto (de Divulgação) de parte da floresta amazônica, que ilustra este artigo, é uma reprodução do portal HD (AQUI)

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