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O taxista e as eleições – por Máucio

Em uma roda de amigos, um conhecido recém-chegado de viagem à Bahia quis dar um panorama da situação eleitoral de lá. Usou como parâmetro a conversa que teve com um taxista que o levou ao aeroporto. Não sei por que as pessoas citam esses profissionais como depositários da opinião pública. É certo que possuem informação urbana, mas daí a achar que balizam tendências vai muita distância.

Aqui no bairro, por exemplo, tem um taxista muito tradicional, Seu José. Mais de 30 anos nesta atividade, a vizinhança toda sabe dele ali do ponto da esquina.  No entanto, no meu entender  não serve de referência porque, apesar de simpático, é uma das pessoas mais de mal com a vida que conheço. Para ele o país está vivendo um momento péssimo. O futebol não é mais o mesmo. As mulheres são levianas e as pessoas inconfiáveis.

Andar com Seu José é sempre um episódio. Primeiro porque fica resmungando ao volante, depois porque instiga a gente com alfinetadas. Prefeito, governador, presidente: nenhum presta. Nunca. O passado é que foi bom. Atualmente está tudo virado, sentencia.

Esses dias fiz uma corrida e não deu outra. Começou falando no clima, do frio que não parava, depois dos buracos das ruas chegando à questão eleitoral, seu objetivo velado.

− Já decidiu em quem votar?

Perguntou. Respondi sim e me calei. Não abri o jogo. Então ele retomou a prosa.

− Antigamente não era assim… esses assaltos.

Como assim, perguntei.  

− No tempo da ditadura a coisa era diferente. Não havia essa baderna!

Coloquei-me a rir como única reação ponderada para a ocasião. Claro, percebi que não haveria nenhuma chance de um diálogo minimamente compartilhado. Porém, segundos depois não me contive e lasquei.

− Quer dizer então que se vivêssemos em uma ditadura os problemas de trânsito acabariam?

– Não só os de trânsito. Acabariam todos!

Criei mais coragem e o afrontei.

− Seu José, o senhor é muito louco! 

Para minha surpresa ele sorriu e falou meio mascado.

− Venha trabalhar de taxista pra ver como é! Saí do carro e fiquei pensando.

Seu José ganha a vida no trânsito, ou seja, opera em um lugar cada vez mais caótico. A maioria está ali só de passagem, mas ele não, seu destino é permanecer no caos. No frio, no calor, no vento, na neblina. Nos momentos de chuva, em que todos evitam a circulação sua presença se acentua ainda mais, não há escolha.

Nos fins de semana: festas, formaturas, bailes… Está lá levando passageiros pra cá e pra lá.  Deixa a pessoa na porta, mas não entra. Páscoa, natal, ano novo, decisão do campeonato, nada disso o libera da lida. Com um agravante, ele está na rua, ao abrigo do imponderável.

Agora entendo o José, seu temperamento e a sua tendência de voto. Mas acho que o candidato dele não irá ganhar a eleição. Até porque os tempos mudaram. Ainda bem.

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