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Um patinho encantador – por Bianca Zasso

No último domingo, dia 8 de julho, o cinema perdeu um de seus atores mais carismáticos. Ernest Borgnine tinha 95 anos e ficou conhecido por seus personagens inescrupulosos, que interpretou em mais de uma dezena de filmes de gângsters na década de 40.

Sem pinta de galã e gordinho, ficava difícil conseguir o papel de mocinho, num tempo onde os traços viris de Cary Grant e Gregory Peck imperavam nas telas e nos corações das mocinhas. Porém, foi justamente interpretando um homem apaixonado que Borgnine conquistou um Oscar e marcou para sempre a história do cinema.

Marty, lançado em 1955 e dirigido por Delbert Mann, não leva o nome de seu protagonista no título à toa. O açougueiro ítalo-americano Marty é a alma do filme e não perde o ritmo em nenhum momento. Borgnine construiu um personagem cativante e engraçado sem precisar se valer de trejeitos exagerados ou piadas bobas.  A história parece fadada ao dramalhão, já que o personagem principal é um homem de 34 anos que sofre com a pressão da família, que  cobra um casamento e muitos filhos. Marty é feliz, mas acha que tivesse alguém para dividir a vida, tudo seria mais fácil.

O problema é que Marty não faz muito sucesso entre as mulheres e ainda precisa lidar com seu jeito atrapalhado. Ele fala demais, não é bonito e seu grande dilema é decidir se compra ou não o açougue onde trabalha. Porém, sua marca registrada é a persistência. Mesmo sabendo que não leva jeito na hora da conquista, ele faz de tudo para encontrar alguém que o faça feliz. Numa das cenas mais tocantes do filme, nos deparamos com Marty ao telefone, trazendo estampado no rosto a decepção após tomar um fora de uma garota. “A gente aprende a lidar com a mágoa”, diz ele. É de cortar o coração.

A solidão parece ser o destino do nosso herói. Mas e quando dois solitários se encontram? Numa festa, Marty vê Clara, uma tímida professora de química, tomar um fora de um pretendente. O que começa como uma conversa confortadora, acaba em um longo passeio pelas ruas do bairro do Bronx, com Marty falando sem parar sobre sua vida, seus erros e seus sonhos. Clara é Marty de saias. Tímida e fora dos padrões de beleza da época, ela também coleciona decepções amorosas. É o encontro de dois patinhos feios.

Com um clima desses, o próximo passo é o romance. Só que Marty é calejado e não sabe se vai suportar as piadas dos amigos caso se envolva com uma moça que não é bonita. Encarar o amor, tenha ele a beleza que tiver ou se deixar levar pela opinião alheia? Eis a questão de Marty.

Por falar de valores e solidão de uma forma direta e inteligente, Marty conquistou o público e levou quatro Oscars. Além do prêmio de melhor ator para Borgnine, o longa também ganhou as estatuetas de melhor roteiro, melhor direção e melhor filme. Um marco, já que comédias românticas ambientadas no cotidiano não costumavam aparecer entre os indicados na década de 50.

Ernest Borgnine, apesar da idade avançada, continuava atuando no cinema e na TV, inclusive como dublador.  Os homens maus que ele interpretou são históricos, como o Sargento Judson de A um passo da eternidade ou na versão western de Otelo, Ao despertar da paixão. Mas ouso dizer que foi o gorducho e desengonçado Marty o seu melhor trabalho, marcado pela sabor agridoce do cotidiano de um simples açougueiro solitário.

Marty

Ano: 1955

Direção: Delbert Mann

Disponível em DVD

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