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Esperancídio – por Luciano do Monte Ribas

O articulista e o “cídio” cometido contra a Irmã Lourdes e não apenas

Algumas das palavras mais feias da língua portuguesa, na minha opinião, são as que definem tipos específicos de homicídios. A palavra “cídio”, aliás, significa (segundo uma breve pesquisa na rede mundial de conhecimentos superficiais) assassínio na língua dos patrícios romanos e é agregada a uma infinidade de outras, resultando em coisas horrorosas – inclusive para os ouvidos – como avunculicídio, que é o assassinato de um tio por um sobrinho.

Há diversas outras, desde as mais conhecidas, como feminicídio e genocídio, até algumas que, certamente, a quase totalidade das pessoas atravessará a vida sem nunca tomar contato com elas. São palavras como uxoricídio (morte da esposa pelo marido), sororicídio (morte da irmã por um irmão, similar a fratricídio), deicídio (assassinato de um deus), magnicídio (assassinato de uma pessoa ilustre ou notória), fradicídio (assassinato de um frei), conjugicídio (assassínio de um cônjuge cometido pelo outro cônjuge), republicídio (ação de extinguir uma república) e até mesmo fordicídio (que é o ato de matar uma vaca prenha, não o de exterminar um veículo da marca estado-unidense), entre muitas outras.

Talvez haja uma regra oculta, a qual apenas dicionaristas e filólogos tenham acesso, estabelecendo que coisas pavorosas de serem cometidas devam levar nomes tão feios quanto os atos que definem; talvez seja só uma coincidência irônica, dessas que quase não parecem nascer do acaso. Obviamente, não sei a resposta. O que sei é que não achei uma palavra para definir o tipo de criminoso capaz de matar a esperança, certamente um dos delitos ausentes dos códigos penais com maior poder de destruição.

Como não encontrei a palavra, tomei a liberdade de criar um neologismo, que está no título desse breve texto. A busquei, diga-se de passagem, porque senti a necessidade de definir a violência que está sendo cometida em Santa Maria contra uma pessoa e, ao mesmo tempo, contra toda uma comunidade – ao menos contra a significativa parcela dessa comunidade que faz da solidariedade e do humanismo seus valores mais importantes.

Esperancídio, para mim, é o que define o crime cometido contra a irmã Lourdes Dill e contra boa parte do povo santa-mariense. Símbolo e realização, ela desperta ciúme em gente mesquinha e pavor naqueles que sentam-se às mesas dos “bem nascidos da city”, sejam eles velhos piolhos de rico ou recém-chegados deslumbrados, pela mensagem cristã autêntica que traz consigo. Uma igreja que REALIZA o compromisso com os pobres simplesmente lhes é intolerável.

Com as vítimas identificadas e com o crime definido, encerro por aqui, deixando às três ou quatro pessoas que leem meus textos a tarefa de identificar quem é o esperancida.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública. Ele volta a escrever neste site, aos domingos. Excepcionalmente hoje, nesta semana.

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Nota do Editor. A foto da Irmã Lourdes Dill, que ilustra este artigo, é de Divulgação e foi feita na abertura da Feira da Primavera, em dezembro de 2020.

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